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Educadores apóiam redação obrigatória

Professores acreditam que as mudanças do vestibular, anunciadas no dia 18/12/2001 pelo Ministério da Educação, vão poder ajudar a acabar com os absurdos registrados anualmente nos exames de seleção, muito mais do que apenas impedir que analfabetos sejam aprovoados em cursos superiores

Professores acreditam que as mudanças do vestibular, anunciadas no dia 18/12/2001 pelo Ministério da Educação, vão poder ajudar a acabar com os absurdos registrados anualmente nos exames de seleção, muito mais do que apenas impedir que analfabetos sejam aprovoados em cursos superiores

instituição da redação obrigatória e eliminatória em vestibulares anunciada anteontem pelo Ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, foi bem recebida pelos educadores. Mais do que impedir que analfabetos sejam aprovados em cursos superiores, a cobrança da redação pode ajudar a acabar com os absurdos registrados anualmente nos exames de seleção. Frases sem lógica retiradas de redações de vestibulares como “O Brasil é um País abastardo com um futuro promissório” ou “Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola” podem se tornar mais raras.

É no que acreditam alguns educadores. A professora de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP) Lilian Jacoto, por exemplo, acha que a cobrança de uma redação mais elaborada, uma vez que pode eliminar um candidato da competição, pode gerar uma mudança nos ensinos fundamental e médio. “As aulas de redação não estimulam o aluno a falar e a escrever. O resultado é que temos que suprir na universidade as falhas da educação de base.”

Para o professor de Letras Clássicas e Vernáculos da USP, Osvaldo Ceschin, que já deu aulas a Pasquale Cipro Neto, a redação é tão importante para detectar a capacidade de comunicação de uma pessoa que até mesmo os departamentos de recursos humanos das empresas a exigem no processo de seleção. “A redação é muito mais esclarecedora que uma simples entrevista ou seleção por múltipla escolha.” Segundo ele, a redação fornece elementos da personalidade, do conhecimento, do domínio emocional, da capacidade de selecionar informações úteis, de organizar idéias e estabelecê-las numa seqüência lógica.

Para Ceschin, os maiores erros não são ortográficos ou de concordância, mas de falta de vocabulário e de uso correto do significado da palavra. Por exemplo, a frase “É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas” mostra que o candidato não tinha domínio do significado de saneamento e de diferença social, além de não dispor de conhecimento sobre o assunto.

Aliás, a falta de informação dos estudantes é bastante evidente nas redações. Pérolas como “A TV se estiver ligada pode formar uma série de imagens, já desligada não” deixa clara esta situação. A professora de Língua Portuguesa da USP Guaraciaba Micheletti não acredita que haja preguiça dos alunos em ler. “Eles têm até mais acesso à informação do que antes, mas a escola não o ensina a filtrar e interpretar essas informações.” Um estudo do Ibope na área de educação confirma que mais de 70% dos jovens entre 15 e 24 anos gosta de ler para se distrair.

Guaraciaba aponta a baixa qualidade dos ensinos fundamental e médio nos casos de falta de compreensão da língua escrita. “Boa parte dos professores tem formação ruim, os alunos são aprovados de maneira automática e chegam ao vestibular despreparados. Como vou ensinar uma pessoa que não sabe ler, apenas decodifica as letras?” Segundo ela, menos de 50% dos alunos que prestam vestibular são capazes de ler, interpretar um texto e organizar as idéias.

Redação é fundamental, mas custa tempo e dinheiro

Um dos grandes entraves da adoção da redação por todas as faculdades é a questão financeira. “Exigir a redação implica em um alto custo para a faculdade, porque os computaodres não podem fazer a correção, como nas questões de múltipla escolha”, explica Elis de Almeida Cardoso, também professora de Língua Portuguesa da USP. Por exemplo, somente para a correção das 27.206 redações do vestibular da Fuvest deste ano foram contratados 60 corretores.

Além de dinheiro, Elis aponta o fator tempo para muitas instituições não adotarem a escrita. “As faculdades geralmente querem divulgar o resultado no dia seguinte”, brinca. O que os educadores esperam é que a frase “O maior matrimônio do País é a educação”, retirada de uma prova, possa ser respeitada, só que desta vez grafada corretamente: o maior patrimônio do País é a educação.

Fonte: Estadao.com /Jornal da Tarde/ Caderno Cidade / Quarta-feira, 19 de dezembro de 2001

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