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Revista PSYU Nº6 – Coluna NEO (2) – Novembro/2000

Informação, propaganda e a alma do negócio

Informação, propaganda e a alma do negócio

Pretendo aqui retomar algumas questões apresentadas no artigo que inaugurou essa coluna na última edição.

No tipo de propaganda que conhecemos como subliminar, são implantados (camuflados) os estímulos desencadeadores de determinada reação, como consumir ou votar, por exemplo.Tais estímulos podem ser símbolos gráficos ou mensagens de curta duração escritas ou pronunciadas, cuja apreensão se dá num nível abaixo do limiar racionalmente perceptivo. Assim, alusões ao pênis em comerciais de bebida, ao sexo em comerciais de automóveis, ou à morte em comerciais de cigarro nos afetam diariamente.

Mas recentemente tenho pensado em outros tipos de propaganda, muitas vezes explícita, que parece nos manipular de modo semelhante. Nas férias de julho, conversando com um amigo sobre política e eleições, disse que muito dificilmente uma candidata bem conhecida e aparentemente muito bem intencionada alcançaria grande número de votos, quando um de seus adversários, de maneira brilhante, aparece na tevê com a postura inabalada e diz “Votem em mim porque vocês me conhecem”, e ainda “O prefeito atual (eleito pelo próprio candidato) estragou a cidade, dêem-me a chance de concertar o estrago”.

O que eu queria dizer é que a propaganda da primeira candidata não era eficiente o suficiente para que ela se elegesse; e que era óbvio que ela devia preocupar-se com isso (eleger-se), pois se não era isso que ela queria, não devia estar participando da eleição. Meu amigo, inconformado, dizia que aquilo era uma visão muito elitista, supor que o povo seja assim tão ignorante a ponto de não reconhecer quem realmente trabalha ou se empenha por quem mais precisa; disse ainda que o caminho para se eleger deveria ser mostrando um bom trabalho. Continuei a discussão que a questão não é saber ou não saber, que o povo pode não ser burro, mas é sugestionável, e que não se ganha eleição mostrando trabalho sério, mas conquistando o eleitor. Parece que acertei, o candidato biônico foi o segundo mais votado, afinal de contas as pessoas sentem-se no dever de votar no candidato que oferece mais segurança (“vocês me conhecem”).

Outro exemplo de manipulação ou distorção de informação, fora do assunto publicidade. Em entrevista a uma rádio da capital, o psiquiatra Rodrigo Reis declara: “Há um axioma popular que diz ‘A religião de hoje é a mitologia de amanhã’. Sempre foi assim. O que era verdade absoluta no passado, moldava toda uma sociedade, hoje são historinhas. (risos) Posso citar uns mil exemplos, mas gosto daquele que incomoda mais: os anjos e orixás de ontem são os ETs tecnológicos de hoje, ambos são crenças, porque nenhum deles têm um caráter realmente comprobatório. A não ser como fenômenos da consciência, e não quero me ater a essa questão agora. Hoje, o que existe é uma histeria coletiva, uma alucinação social em torno deles. A histeria é tão generalizada que hoje, ninguém mais questiona. Eu é que sou louco em dizer uma coisa dessas, em afirmar que nunca vi um OVNI. Eu e o Carl Sagan, que passou a vida inteira com os aparelhos mais sofisticados do mundo rastreando vida inteligente fora da Terra, o coitado morreu sem a mínima resposta. Talvez se o Sagan, buscasse ETs dentro de si mesmo, encontraria com mais facilidade estes símbolos que estão dentro da sua própria psique”.

Pensando na contribuição da psicologia, entendo que o trabalho do psicólogo seja fazer compreender, ou trazer à consciência, os conteúdos que mobilizam direta ou indiretamente a vida do sujeito. Essa tarefa se torna mais complicada quando temos toda uma sociedade bombardeada com símbolos e mensagens incompreensíveis e irracionais. O psicólogo passa então a fazer um trabalho de higiene mental, removendo do “inconsciente” alheio o monte de entulho disparado pela mídia.
ARTUR CHAGAS

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