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Revista PSYU Nº7 – Coluna Pesquisa/Projetos – Maio/2001

A força do ventre
A força do ventre
“O corpo é a mente tornada manifesta. Trabalhar o corpo é examinar a mente. A Dança do Ventre oferece a oportunidade de olharmos para dentro de nós mesmas.” – Aziza Yazaman

A constatação de que conhecemos mal nosso corpo e sabemos bem pouco sobre a força do ventre, nos mostra como ainda está oprimido o ventre feminino. Seu poder de gerar ainda precisa ser sancionado por “poderes” como a Igreja, o Estado, o patrão, o médico…

É necessário alertar mentes e corações de que o ventre é um centro de consciência que precisa ser desenvolvido e não massacrado, nem rejeitado ou falsamente liberado pelo uso de pílulas ou outros métodos artificiais de intervenção, que não consideram o ser humano integralmente.

A força do ventre feminino deve estar mais presente nos objetivos da educação, nos grupos políticos, nas pesquisas científicas para podermos alcançar assim um equilíbrio entre os direitos dos indivíduos e as condições coletivas de vida, sem prejuízos dos sentimentos e dos valores existenciais humanos.

“A violência com o próprio corpo tem acompanhado a violência com o planeta.”

Dançando em movimentos que insinuavam a fecundação, em um ambiente de alegria e prazer, as jovens de seis mil anos atrás, realizavam seu treino físico e psicológico para o desempenho das funções sexuais e maternais. O aroma dos incensos, o ritmo acelerado dos tambores e a exuberância dos movimentos sempre funcionaram como estímulos físiopsíquicos intensos, podendo levar a um estado de transe, “dissolvendo” barreiras conscientes do pensamento, favorecendo o contato com a dinâmica interna e mais profunda da mulher.

Um dos principais objetivos da dança do ventre é fazer o corpo da mulher ondular como fazem as serpentes na terra, sinuosamente.

Quando a dançarina realiza seus movimentos em pé, estes concorrem para torná-la uma coluna ondulante, uma chama. A libido, freqüentemente representada pela chama em diversas culturas, é vista como a energia da vida em sentido amplo, podendo ser despertada pela dança do ventre. Segundo antigos ensinamentos orientais, a energia sexual pode estar “adormecida” ou estocada na base da coluna dorsal. Ascendendo, espalha-se pelo corpo todo, revitalizando todos os órgãos. O valor de se descobrir uma prática tão antiga, é devido a esse tipo de dança ter sido provavelmente, um dos primeiros sistemas de treinamento fisiopsíquico de que se tem notícia, podendo trazer à tona certos valores antigos e sagrados que nos fazem falta. Seu significado tem relação direta com conflitos atuais e suas resoluções dependem de que se viva aquele meio antigo de estabelecer contato com as forças misteriosas do corpo e da natureza.

Com a prática, a dançarina acaba precisando exercitar o aspecto sensorial, a respiração e o equilíbrio. Assim, o corpo torna-se mais flexível, a interpretação mais harmoniosa, os movimentos mais sinuosos e os gestos mais expressivos. A forma física se embeleza como um todo e o psíquico se transforma simultaneamente e, na mesma proporção, equilibram-se ansiedade e calma, introspecção e vivacidade, chegando-se ao reconhecimento do elo íntimo entre a mente e o corpo.

A dança deve participar mais de nossas vidas, nas escolas, nos relacionamentos, nas terapias. É valioso poder aprender a se expressar com segurança (trabalhando a auto-estima), a lidar com o amor (através do conhecimento do corpo e suas sensações), a sentir a liberdade e seus potenciais e limites (descobertos através do próprio movimento).

Para iniciar o aprendizado, essa dança pede que a mulher aceite seu corpo tal como é, começando a gostar de si mesma. Passando então, para um processo de consciência corporal, experimentando sensações, descobrindo movimentos, tensões, dores e bloqueios. A mulher aprende a lidar com a sedução e com a feminilidade, características suas tão fundantes e ao mesmo tempo esquecidas, descobrindo constantemente os prazeres de mover seu corpo.

Leia mais:
PENNA, Lucy Coelho – Dance e recrie o mundo. São Paulo: Summus, 1993.
ATON, Merit – Dança do Ventre – Dança do Coração. São Paulo: Radhu, 2000.
CUNHA, Morgada – Dance aprendendo – aprenda dançando. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1992.

SILVANA S. FREIRE, ESTUDANTE DE PSICOLOGIA DA PUC-SP

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