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Revista PSYU Nº8 – Coluna DELPHO – Junho/2001

Livre – Arbítrio

Livre – Arbítrio

Segundo a Psicanálise, o homem se constitui enquanto sujeito através da passagem pelo complexo de Édipo, ou seja, é através da posição que a criança ocupa em relação aos seus pais que será possível que ela adentre ao universo da Cultura e compreenda o mundo através de uma ordem geral, simbólica, regida por leis que têm seu início na Lei contra o incesto. Entrar no mundo da Cultura implica no recalque dos desejos incestuosos, mas possibilita a relação e a compreensão dos demais sujeitos à sua volta, o que torna possível o ato da linguagem e a expressão de suas demandas. Além disso, o sujeito continua regido por outra instância, o inconsciente, que influencia o homem em direção à satisfação dos desejos recalcados.

Temos aqui a noção de um sujeito clivado que vive entre dois pólos: a Cultura e o Desejo, constituído ainda na infância como humano pela relação com as instâncias maternas e paternas. Tendo isso em vista, o sujeito se vale de subterfúgios diversos para a realização de seus desejos: se por um lado ele é limitado pela cultura que o cliva, o sujeito da Psicanálise pode valer-se de todos os recursos que a Cultura oferece para apostar na realização de seus desejos. Se por um lado o sujeito segue a uma lei que o limita, por outro ele possui uma infinidade de recursos que o permitem, conscientemente ou não, satisfazer seus desejos.
IVAN ESTEVÃO, PSICANÁLISE
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Não podemos confundir o conceito de livre-arbítrio com a capacidade de escolha. Esta faz parte da vida e do comportamento humano e o conceito de economia comportamental tem ainda muito a contribuir para seu estudo. Já enquanto noção implícita de que a pessoa tem uma liberdade de se comportar independentemente de seu ambiente passado e presente, o conceito de livre-arbítrio conflita com o behaviorismo.

O livre-arbítrio supõe um terceiro elemento além da hereditariedade e do ambiente, supões “algo” dentro do indivíduo. Este algo nos remete a uma noção de que a escolha não é uma ilusão e que são as pessoas inteiramente causadoras do próprio comportamento; aqui se instala a oposição, ou seja, como uma causa não natural pode levar a eventos naturais? O paradigma existente entre livre-arbítrio X determinismo talvez nunca possa ser resolvido por demonstração, pois para provar o livre-arbítrio (contestando o determinismo) “seria necessário que, embora se conhecessem todos os possíveis fatores determinantes de um ato, a consumação desse ato assumisse um sentido contrário ao previsto” (Baum, 1999). No entanto, na prática, esse “conhecimento perfeito” é impossível.

Críticas ao conceito de livre-arbítrio permeiam também o campo religioso. Santo Agostinho já nos colocava essa indagação: se Deus (onipotente) faz tudo e sabe de tudo antes de acontecer, como pode alguém fazer algo livremente? Encontram-se então respostas no campo arcano e do misterioso. No entanto, podemos estar deixando de lado questões sociais importantes tais como abuso de drogas, criminalidade, desemprego, miséria, atribuindo inutilmente às pessoas marginalizadas uma causalidade que em última instância é interna.
WAGNER MOHALLEM, ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
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“Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.”

Ricardo Reis

Somos livres? Em que medida somos senhores da nossa história? Até que ponto podemos conduzir nosso destino? São algumas das questões que nos vêm em mente quando pensamos no “livre-arbítrio”. Mas antes, o que é ser livre?

Usualmente diz-se que ser livre é poder ser o que se deseja, ter o que se quer. Entretanto, a questão fundamental sobre a qual está assentada a liberdade, é a da escolha. Se há possibilidade de escolha há liberdade. Então nos perguntamos: “como posso ser livre para escolher se há em mim uma série de coisas que já me foram dadas; e outras tantas que eu desejaria ter e ser, mas que a vida me revela a todo instante que não estão ao meu alcance?”

Não podemos, de modo algum, negar que há “determinações”sobre as quais não temos possibilidade de arbitrar. No entanto, entender que há limites que não podemos transpor não significa dizer que nossa liberdade de escolha é restringida. É como se na vida jogássemos um jogo e neste, já de início, uma série de regras já estivesse posta. Essas regras, de modo algum nos retiram a possibilidade de jogar. Jogar então, de acordo com e a partir dessas regras é a nossa tarefa. Como em todo jogo, há riscos.

Sob essa perspectiva, cada escolha que fazemos revela nossa responsabilidade diante da nossa história. Responsabilizar aquilo que já nos é dado pelo nosso próprio destino pode também ser uma escolha.
THAIS ROLDAN, FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL

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