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Revista PSYU Nº9 – Coluna DELPHO – Agosto/2001

Condição Humana
Condição Humana
Como é sabido, o homem é um ser clivado, recalcado em seus desejos e essa é uma das condições necessárias para que ele seja o que é. É o recalque desses desejos que lhe possibilita viver em conjunto com outros homens. Sem a convivência entre homens não há Cultura e sem ela provavelmente não teríamos sobrevivido.

O complexo de Édipo está na base da Cultura, que por sua vez está na base da condição humana. Na experiência clínica, os analistas se deparam com algo inviável: amor pela figura de um dos progenitores e ódio pelo outro.
Percebemos que é sobre estes sentimentos que recai o primeiro recalque. É a impossibilidade de deter a mãe só para ela que faz com que tenha de conviver com os desejos alheios: ela é obrigada a recalcar esses sentimentos pois eles não podem ser realizados;em troca desse recalque, a criança detém a esperança de poder ser mais tarde como um dos progenitores e poder deter outra pessoa. Ela quererá ser igual ao projenitor e adentrará o mundo da Cultura, perpetuando-a.

Porém, os desejos recalcados continuam a pressionar o indivíduo, exercendo efeito sobre seus atos de forma inconsciente. Esse conflito será eterno. Um dos pilares da condição humana, o complexo de Édipo é o foco de um eterno conflito; o desejo de ser completo, inteiramente realizado e sem desejos (o que acarretaria em não ter nenhum desejo concretamente realizado), versus a Cultura e a possibilidade de ter alguns desejos concretamente realizados em prol de outros.
IVAN ESTEVÃO, PSICANÁLISE
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A espécie humana, como as demais espécies, é um produto da seleção natural.Da perspectiva da teoria da evolução, os seres humanos são uma entre muitas espécies que não necessariamente é superior a qualquer outra. Cada um de seus membros é um organismo extremamente complexo, um sistema vivo e quaisquer que sejam suas características peculiares, deve-se sempre procurar respostas tanto na sua história filogenética e ontogenética como na sua história social.

Fundamental para o desenvolvimento e propagação de uma Cultura, nos foi proporcionado, através do advento do Comportamento Verbal, a possibilidade de agir indiretamente sobre o meio físico do qual emergem as conseqüências últimas de nosso comportamento, sendo o primeiro efeito sobre outros homens. Através do Comportamento Verbal, caracterizado por ser um comportamento operante reforçado pela mediação de outras pessoas, nossos horizontes se ampliam e novas formas de relação com o meio, que foram e continuam sendo selecionadas, surgiram.

Podemos nos diferenciar pela capacidade de tornarmos “conscientes de” no sentido que a consciência ou a percepção são produtos sociais. Outras espécies também são conscientes, pois estão sobre controle de estímulos, “sentem dor no sentido de responderem a estímulos dolorosos (…) todavia, nenhuma contingência verbal as torna conscientes da dor de forma a sentir que estão sentindo, de ver o que estão vendo ou ouvir o que estão ouvindo”, assim como nossa comunidade pode nos tornar.
WAGNER MOHALLEM, ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
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“Mas as flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas,
Não pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.”
– Alberto Caeiro

A existência humana é marcada pela sua condição de abertura e indeterminação. Ela não pode, de modo algum, ser definida num momento estático. O homem é a cada instante, e seu ser, em função deste caráter dinâmico de um constante vir-a-ser, está também a cada momento em jogo. Este estar sempre em jogo é o que revela a finitude do ser do homem. A finitude, ou o não-ser, lança a existência humana na dimensão da temporalidade.

O homem é o único ser que se sabe finito, que se apercebe de seu próprio fim. O homem, também, atravessado pela temporalidade compreende-se como um ser histórico. Há uma história e, se há uma história é porque há um sentido sobre o qual essa história é narrada.

Assim o homem, no momento presente, não está restrito ao presente como os demais entes – estes estão sujeitos à imediatez do presente – seu existir é marcado pelas dimensões do passado, presente e futuro. Mas estas dimensões não se articulam de um modo linear. O passado não determina o presente, que por sua vez determinará o futuro. O futuro é a dimensão temporal mais importante e preponderante para os seres humanos. Ele é o sentido para o qual o homem se projeta e sobre o qual ele significa suas experiências. Dessa forma, o presente, assim como o passado estão submetidos ao futuro, ou seja, àquilo que permanece enquanto possibilidade de vir-a-ser.

Sendo assim, a condição humana se constitui das possibilidades de ser numa articulação de sentido que é elaborada pelo homem na sua relação com as pessoas e com o mundo. Relação esta que, para a fenomenologia tem um caráter de profunda dependência, na medida em que homem e mundo não podem ser pensados separadamente.
THAIS ROLDAN, FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL

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