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Suas Majestades os Bebês

Por Cybelle Weinberg

Freud, em um texto escrito em 1914 sobre o narcisismo, usa a expressão Sua Majestade o Bebê para nos contar sobre aquele momento na vida do recém nascido em que todos o olham extasiados, procurando nele sinais de semelhança. Nesse momento, todas as promessas lhe são feitas, de que nada lhe faltará, não sofrerá as mesmas agruras que sofremos e o educaremos de um modo perfeito.

A popularização de alguns conceitos psicanalíticos, no entanto, levou à crença de que, para não traumatizar a criança, não se deve contrariá-la. O resultado é que vivemos a era da intolerância, um mundo povoado de Suas Majestades, egoistas e incapazes de lidar com a menor das frustrações.

É só abrir o jornal e ver que adolescentes matam porque um sujeito olhou feio, porque não se gostava do professor, porque os pais eram contra o namoro.
Essa intolerância à frustração se reflete nos casamentos vapt-vupt, em que não há espera para se morar juntos e, uma vez casados, meses depois os casais se separam. Claro. Como duas Majestades podem conviver, conceder, aceitar as limitações de uma vida a dois?

Conheço uma história, talvez um pouco deprimente, mas que vale a pena contar. Era uma vez um casal tão pobre que sua única riqueza eram uma fivela para cabelos e uma única abotoadura. No dia do aniversário de casamento, sem nenhuma combinação, eles resolveram se presentear. Ele vendeu sua abotoadura para comprar outra fivela e formar o par para prender seus cabelos e ela cortou e vendeu seus lindos cabelos para comprar a outra abotoadura que também faria o par, para presenteá-lo.

Lembrei-me desta história algum tempo atrás, vendo uma propaganda de toalhas na TV. Um casal romântico, numa praia idílica, saía do mar aos beijos e abraços. Já na areia, os dois queriam a mesma toalha e, aos tapas e pontapés, disputaram para ver quem ficava com ela.

Fica então a questão: será mesmo que frustrar é tão pernicioso e não entendemos errado o famoso não frustrar para não traumatizar?

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