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Transtornos Alimentares na adolescência: Anorexia Nervosa

Por Cybelle Weinberg

Anorexia Nervosa é um transtorno do comportamento alimentar que se desenvolve principalmente em meninas adolescentes e caracteriza-se por uma grave restrição da ingestão alimentar, busca pela magreza, distorção da imagem corporal e amenorréia (suspensão da menstruação).

Sendo um quadro que se desenvolve principalmente em meninas adolescentes, vale a pena refletir sobre o que teriam em comum adolescência, feminilidade e Anorexia Nervosa.

A adolescência, por si só, oferece uma campo propício para condutas de risco de qualquer espécie. Sabemos que são próprios da adolescência o pensamento onipotente, a impulsividade, a necessidade de experimentar novas sensações, uma maior vulnerabilidade aos apelos da mídia, preocupações com o corpo e uma certa deturpação da imagem corporal. Alé disso, faz parte do processo normal da adolescência a busca de uma nova identidade. Questões existenciais se colocam na adolescência, na forma de indagações do tipo “quem sou eu?”, “que profissão seguirei?”, “com quem quero me parecer?”. Isso implica um movimento de diferenciação e de separação, gerador de muita angústia.

O que tenho observado, atendendo meninas anoréxicas, é que geralmente são boas filhas, boas alunas, obedientes, “perfeitas”, mas queixosas de nunca terem tido oportunidade de serem elas mesmas. São suas falas: “minha mãe sempre falou por mim”, ou “sempre fiz o que minha mãe queria”. De certa forma, ficando anoréxicas podem se apresentar como alguém diferente, como “alguém que não come”. A preocupação com o peso e com os alimentos ocupa seus pensamentos e torna-se a sua vida. Por isso é tão dificil o caminho para a cura, porque abandonar a doença é abandonar uma identidade adquirida a duras penas.

São meninas, também, que sempre tiveram muita dificuldade em expressar sua raiva. É fato observável que, no processo normal da adolescência, quanto mais dóceis as meninas foram na infância, mais a rebeldia tende a se manifestar através do corpo: na higienização, na vestimenta, na alimentação. Assim, a Anorexia pode ser entendida, também, como uma forma de manifestação da raiva: essas meninas meigas controlam a família que, impotente, assiste ao seu definhamento. É comum ouvi-las dizer: “eu não queria ser minha mãe, coitada, como eu a faço sofrer!…”

Psicodinamicamente, o que acontece com a menina no momento da puberdade? Ainda bastante infantil, vê seu corpo se modificar e se assusta frente não só às novas sensações que esse corpo lhe propicia mas também ante o que ele possa vir a despertar no outro. O temor dessas novas relações faz com que ela, já crescida, se aproxime da mãe de uma forma ambivalente. Num pedido de socorro, busca aquela mãe nutriz e protetora dos momentos precoces de sua infância, revivendo com ela um vínculo pré-edípico. Ao mesmo tempo esse vínculo é perigoso, ainda mais num momento em que é preciso diferenciar-se e separar-se de sua mãe. Não à toa, esse é o período das grandes hostilidades, colorido por manifestações de amor e ódio. A Anorexia se apresentaria, então, como uma saída possível desse impasse: diferenciar-se, mantendo a dependência e o corpo infantis. O peso e o corpo que a anoréxica considera ideais são os de uma menina de 10 anos: sem seios, coxas ou nádegas. “Uma tábua” – como elas próprias dizem. O que mostra, também, a dificuldade em elaborar os lutos próprios da adolescência, como a perda do corpo infantil.

Acrescentando a todas estas dificuldades o apelo da moda e o culto à magreza, dá para entender que ser mulher e adolescente, no mundo de hoje, é um duplo fator de risco para o desencadeamento de um transtorno alimentar.

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