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Dark-Room: Vamos acender a luz?

Será que o sexo revoga a sexualidade? Ou é o anonimato que dá força e permite atuar o desejo?
Dark-Room: Vamos acender a luz?

….Quarto escuro, corpos desnudos ou quase, sussurros, mãos, pernas, bocas, pênis, sujeitos incógnitos, braços e abraços, beijos, sexo oral, anal, grupal. A situação privilegia o tato, a visão é descartada, vale o prazer sem limite, um , dois, três, quatro…. enfim, viemos para isto e não para outra coisa, façamos sem barreiras, limitações, juízos de valor ou repressões, afinal é imaginar que somos atores/personagens do teatro do desejo, encenando a peça: “nos domínios do baú do porão”….

Todos internamente levamos necessidades e desejos a serem satisfeitos, que necessitam ser atuados, praticados, precisam entrar no campo de possibilidades. Algumas destas necessidades e desejos além do prazer geram medo, susto, raiva, taquicardia, despertam angustia. Ser sexualmente visível, 100% presente, real, completo também é ser alvo de avaliações, preconceitos, padrões estéticos, além da possibilidade de ter o desempenho sexualmente avaliado. Uma solução? Refugiar-se no escuro, guardar-se no baú fechado e escondido no porão do seu ser ou de alguma sauna ou local noturno.

Poder ver o baú, poder olhar a si mesmo e o outro de frente é vencer o medo, enfrentar a fatalidade temida, é sair da negação. A negação é um grande incentivo a fazer o que se teme, é desviar do caminho mas subjetivamente, continuar trilhando no mapa. A morte, a doença, a falta de afeto, a solidão, o medo à rejeição e a discriminação entre outros são partes do escuro. Esconde-se no escuro, mas o escuro é o domínio do baú do porão; e aí está a ambivalência. É no escuro do quarto que se atua o que assusta, lá onde todos são incógnitos se encontram consigo mesmo e com os seus fantasmas, formas sem nome, sem identidade ou cobranças.

Será que o sexo revoga a sexualidade? Ou é o anonimato que dá força e permite atuar o desejo? Permite-se somente o anonimato ou também ser visto e acima de tudo ver o seu reflexo nos olhos do outro? Existem outros modos de satisfação ou o anonimato se tornou uma camisa de força, uma prisão, os olhos que não vêem negam as mãos e os dedos que apontam? Para chegar ao baú é necessário descer ao porão, simbólicamente ir para trás, controlar a ansiedade, cada degrau que se desce é um encontro consigo mesmo, disfarçado mas reconhecido, a marca esta lá, em cada um deles, as necessidades e os desejos negados subindo os degraus, escapando do porão, fugindo do baú.

A natureza do impulso assusta e a ansiedade aumenta. Abrir ou não abrir, olhar ou não olhar? E então, vamos acender a luz?

Paulo Bonança C.R.P 05-30190
Psicólogo e Sexólogo
Diplomado em Sexualidade Humana pela Universidade Diego Portales- Chile-
Autor da Tese “A AIDS entre os homossexuais; A confissão da soropositividade ao interior da família”.
Membro da ABRAP (Associação Brasileira de Psicoterapia)
Membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana)
Rio de Janeiro, Copacabana (21) 2236-3899, 9783-9766
www.paulobonanca.com
[email protected]

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