Henriette Tognetti Penha Morato professora Doutora do Instituto de Psicologia da USP, coordenadora do Laboratório de Estudos e Prática em Psicologia Fenomenológica e Existencial nos projetos de Plantão Psicológico e Supervisão de Apoio Psicológico à comunidade e no SAP. O Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo(USP) foi o palco de lançamento do livro "Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa – Novos Desafios", ocorrido no dia 16 de setembro. O trabalho é uma coletânea de artigos de profissionais que atuam ou atuaram junto ao Serviço de Aconselhamento Psicológico da USP, o SAP, que comemora em 1999 os trinta anos de sua fundação. O SAP constituiu-se em uma referência obrigatória para instituições que trabalham com a proposta clínica do Plantão Psicológico sejam elas hospitais, escolas ou clínicas particulares. A Redepsi entrevistou Henriette Tognetti Penha Morato, coordenadora do livro e professora Doutora do Instituto de Psicologia da USP, coordenadora do Laboratório de Estudos e Prática em Psicologia Fenomenológica e Existencial nos projetos de Plantão Psicológico e Supervisão de Apoio Psicológico à comunidade e no SAP.
Redepsi: Creio que seria interessante iniciarmos caracterizando o serviço que se constitui como a marca por excelência do SAP-USP: o Plantão Psicológico. Como surgiu a idéia de constituir um Plantão Psicológico e no que ele se diferencia da Clínica do Instituto de Psicologia da USP? Henriette: o Plantão Psicológico surgiu em 1969. Podemos dizer que ele tem as características que o seu nome indica: é um Plantão, uma planta grande(risos). Um local onde existe uma sombra para o caminhante do "deserto da vida", para que ele possa se recuperar, encontrar abrigo e continuar sua viagem. Trata-se de um serviço de emergência, nos moldes de um plantão médico, respondendo à urgência da demanda das pessoas que nos procuram. No Plantão essas pessoas encontram um profissional que responde no momento em que a procura pelo serviço ocorre. Há uma prontidão para o atendimento. A Clínica tem outras características. Quem procura a Clínica deve fazer uma inscrição, passar por uma triagem, esperar e suportar a espera. Há um tempo entre o pedido de ajuda e o atendimento. A idéia, no Plantão, é a de acolher a quem nos procura no momento em que se dá a procura, aproveitando esse momento que é muito especial. Redepsi: Quem são as pessoas que procuram o plantão? Existe um estudo sobre o perfil desse público? Henriette: Não há um perfil específico, é o mais variado possível. Recebemos desde gente que vem pedir uma informação até pessoas com problemas graves, varia de adolescentes à pessoas idosas. Podemos dizer que as transformações da clientela, que tem ocorrido nos últimos anos, tem a ver com as condições da vida atual, com as angústias de nossos dias. São pessoas que vem em busca de um lugar onde possam conversar sobre o seu sofrimento. Nesse sentido a clientela do plantão é um retrato do sofrimento desse final de século. O perfil mais frequente é o que se caracteriza pelo desamparo das pessoas, muito comum no período que vivemos. Atendíamos no início à uma população de baixa renda. Hoje, tendo em vista a falência do sistema de saúde público e a exorbitância do privado, temos atendido às mais variadas classes sociais. Atendemos a todos que nos procuram apesar de uma limitação: só podemos levar adiante, para um atendimento mais prolongado, as pessoas que residem na Zona Oeste. Pessoas de outras regiões são encaminhadas para outros serviços. Redepsi: O Platão Psicológico rendeu frutos, tendo sido implantado em escolas, clínicas, no Tribunal Regional do Trabalho, na Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima entre outras instituições, conte-nos um pouco sobre esses desdobramentos. Henriette: O Plantão, pelas suas características, não é um tipo de atendimento que se restringe a um contexto clínico. É clínico mas pode adentrar em ambientes diversos, desmistificando o papel do psicólogo clínico, ampliando possibilidades de atuação e respondendo à demanda social. Mostra-se dessa forma uma possibilidade para o psicólogo clínico fazer parte do desenvolvimento da sociedade. Pode existir em um Tribunal de Justiça atendendo às pessoas que lá trabalham, no local onde trabalham. Pode ír à escola, não para taxar alunos disso ou daquilo mas para esclarecer demandas, cabe em projetos esportivos como o "Esporte – Talento". Para os profissionais que trabalham no Plantão é a possibilidade de abertura para uma ressignificação da própria atuação profissional. A população não pede mais terapia nos moldes tradicionais, pede um acompanhamento em períodos de crise, para repensar questões, para suportar momentos difíceis e para organizar-se satisfatoriamente no meio em que vive. Redepsi: Acaba de ser lançado o livro "Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: Novos Desafios". O que podemos encontrar neste trabalho? Henriette:A preocupação foi a de não fazer um livro hermético que possa ser lido apenas por profissionais da área. Temos uma primeira parte mais teórica. Falamos sobre como foi e é possível a inserção social desse serviço acadêmico, que tem preocupações com a formação de profissionais, pesquisa e extensão. Situamos o leitor sobre a nossa orientação teórica, que nos permitiu idealizar e realizar esse tipo de serviço. A segunda parte é o relato da experiência de projetos em contextos diferentes, falamos também sobre a supervisão e sobre as oficinas de criatividade. Temos um panorama das dúvidas, angústias e do empenho desses profissionais que estão atuando e repensando sua prática para torná-la pertinente ao contexto histórico e social em que vivemos. Redepsi: O livro é uma coletânea de artigos de diversos autores, imagino que deva ter sido enriquecedor e difícil atuar como autora e coordenadora do projeto. Pode nos contar um pouco sobre essa experiência? Henriette: Esse livro é uma continuação de um outro livro, o "Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa", de 1987. Que contava a trajetória da origem dessa forma de atuar. Do lançamento daquele livro para cá aconteceram muitas mudanças importantes. Envolvemos alunos, mestrandos e doutorandos na tarefa de repensar a prática clínica e percebemos a importância disso. As pessoas participavam voluntariamente dos projetos. Esse livro tem a intenção de dar voz a essas pessoas para que possam contar o que esse projeto significou para elas. É também uma forma de reconhecimento do trabalho desses profissionais, reconhecimento de seu empenho e de suas contribuições. O primeiro livro havia sido escrito por seis pessoas, nesse livro foram trinta autores. Fizemos reuniões, trocamos textos, todos opinaram. O livro se configurou por si mesmo, é a cara do Serviço de Aconselhamento Psicológico da USP. Então valeu. Foi um trabalho muito bonito. Tivemos um momento de parar para refletir em grupo sobre os trabalhos realizados. O trabalho não acabou aqui, a intenção é continuar com esses e com novos projetos e comunicá-los como forma de devolver à comunidade a confiança depositada em nosso trabalho. É um dos papéis da Universidade, o de comunicar à sociedade o que está acontecendo em respeito ao empenho que a sociedade dá para o nosso trabalho. Redepsi: Agradecemos a gentileza de nos conceder essa entrevista, desejamos sucesso ao livro e vida longa ao SAP. Para obter maiores informações sobre o Plantão Psicológico da USP ou sobre o Serviço de Aconselhamento Psicológico: 818-4172 (São Paulo). Para obter maiores informações sobre o livro "Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: Novos Desafios": http://www.casapsicologo.com.br
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