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O Câncer- O corpo, a mente e a cultura: nossas angústias frente à finitude.



O Câncer

O
Câncer

por Mário L. Quilici

Este
artigo vai tratar de uma doença que há muito assombra a humanidade.
Falaremos do câncer. Vamos tentar explicar o que é, como surge e quais
as eventuais causas em jogo no seu aparecimento. Num segundo momento,
falaremos dos fatores emocionais envolvidos no surgimento dessa doença
tão desagradável.

O
câncer é uma doença muito antiga. Os faraós egípcios já sofriam de câncer,
como pode ser observado nas autópsias recentes em múmias. Nos tempos
de Hipócrates e talvez antes, os médicos já sabiam diferenciar uma inflamação
simples (oncos) da pele de um tumor nesse mesmo local. Como os gregos
não dissecavam o corpo humano, aprenderam a reconhecer somente os tumores
que surgiam na pele, vagina e ânus. É nesse período que surge o nome
da doença: Karkinos (caranguejo) que significa também “duro”.
Acrescentando-se o sufixo oma, que significa tumor, surge a palavra
Karkinoma (carcinoma) que era utilizada para designar uma formação
tumoral maligna.

Antigamente
o câncer era considerado uma doença que matava em segredo. No final
do século XVIII, Giovanni Morgagni, um médico, disse que o câncer era
uma doença muito suja. Talvez pela forma como o tumor progride e destrói
os órgãos onde se instala. Mas essa era uma idéia que já estava presente
há muitos séculos. Difundia-se e, quanto mais freqüente se tornava,
mais estigmatizante ficava a doença. O câncer era visto como fonte de
auto-rejeição e decadência. As pessoas envergonhavam-se delas
mesma. Era uma doença que se escondia atrás de eufemismos e mentiras.
O pavor era tamanho que raras pessoas ousavam mencioná-la. Era como
se, ao evitarem mencionar seu nome, a doença pudesse ser afastada. Muitas
mulheres, ao constatarem que tinham sido vitimadas pelo câncer de mama,
trancavam-se em suas casas e viviam como reclusas até a morte. Em alguns
casos não chegavam sequer a falar com seus familiares. Há menos de vinte
anos ainda víamos esse comportamento. Não precisamos dizer que muitas
pessoas consideravam o câncer uma doença relacionada ao castigo divino,
como foi feito com a sífilis no século passado e a AIDS mais recentemente.

Quando
falamos em câncer, não estamos falando de uma doença. Falamos de uma
doença que tem múltiplas formas (Existem inúmeros tipos de cânceres).
Mas o que é um câncer? Como surge? Como se desenvolve?

Vamos
conhecer uma célula. Ela é a unidade básica da vida. Cada um de nós
é composto de cem trilhões de células em média. Os animais e plantas
também são feitos dessas pequenas fabricas químicas. É isso, uma célula
é uma pequena fábrica química. Algumas células são esféricas, outras
são retangulares. Algumas têm rabos e outras não. As células nervosas
têm formato de estrelas. Todas elas têm uma coisa em comum: o DNA. São
os genes que compõem o DNA de cada célula que faz com que ela observe
seu próprio calendário, ou seja, elas saberão quando crescer, quando
se dividir, quando produzir e quando devem morrer. Para que o organismo
se mantenha vivo, integro, as células se multiplicam criando novas células
que vão substituir as células mortas. O que acontece com o câncer é
que no momento da divisão celular, por fatores ainda desconhecidos,
uma célula modifica-se e torna-se diferente daquelas que compõem o grupo
original. São células rejeitadas pelo grupo celular em que foram geradas
porquê são deformadas e desobedientes.

Uma
célula normal, assim como os seres humanos, têm várias fases em seu
crescimento até que chegam à maturidade e morrem. Quando jovens, as
células têm alto grau de poder reprodutivo. Na medida em que se tornam
mais maduras, as células perdem a capacidade de proliferação, mas tornam-se
altamente especializadas nas funções para o qual seu crescimento foi
planejado. Assim, uma célula tireóide totalmente madura secreta hormônio
com eficiência, mas está menos inclinada a se reproduzir. Os diversos
estágios na vida de uma célula é chamado de diferenciação. A célula
cancerosa não se diferencia e assim, não aprende as regras da sociedade
em que vive. Dessa forma, como seu “programa” ficou adulterado,
faz tudo de forma excessiva, desordenada e sem objetivo. Não ajudam
no trabalho da comunidade, ou seja, podemos tomar como exemplo uma célula
de câncer do intestino. Enquanto as outras trabalham para fazer a digestão
dos alimentos (que é uma de suas funções básicas), a célula cancerosa
não ajuda nessa tarefa. A célula cancerosa emprega toda sua energia
na reprodução e assim, em grande número, tornam-se um problema para
a comunidade a que pertencem. Absorvem energia, alimento e não contribuem
com nada.

Diferente
das células normais, as células cancerosas são eternas. Não morrem.
Isso implica em afirmar que o tumor continuará a crescer indefinidamente.
Muitas vezes esse crescimento é tão desregrado que o tumor em crescimento
pode morrer por falta de nutrição e oxigênio. Isso ocorre por que o
suprimento de sangue (vascularização) não se desenvolve na mesma proporção
que o tumor. Quando o tumor já ocupou todo o espaço da sua comunidade,
começa a avançar para outras comunidades. Assim, um tumor do intestino,
solta suas células que vão se alojar em outros lugares. É a esse processo
que se dá o nome de metástase. Como são irresponsáveis e suicidas, essas
células, vão desgastar o organismo de tal forma que acabam por destruí-lo
e assim, morre o hospedeiro e morrem as células cancerosas. O câncer
é um suicida.

Mas
há uma questão que intriga: teoricamente, as células que se tornaram
cancerosas deveriam ser detectadas pelo sistema imune, pois, na medida
em que se deformaram, já não tem as características originais das células
do organismo e por isso são consideradas estrangeiras como são os vírus
e as bactérias. Sendo estranhas, tais células, deveriam ser mortas pelo
sistema imunológico. Isso realmente ocorre. Milhares de células alteradas
são produzidas diariamente pelo nosso corpo e são destruídas pelo sistema
imune. Entretanto, algumas passam despercebidas. Por que? Vamos ver
isso um pouco mais à frente.

O
que causa o câncer? Existem três causas
prováveis: a ambiental, a virótica e a genética. . Talvez as três causas
possam atuar em conjunto. Os cientistas
têm nas mãos um grande quebra cabeças que, me parece, não solucionarão
tão cedo.

Será
que uma das causas que impede que o sistema imunológico das pessoas
detecte tais células, não seria o stress? Ou talvez, não seria o stress
ligado aos outros três fatores anteriormente mencionados, responsáveis
pelo surgimento do câncer?

Mas
pesquisar essa origem é quase impossível. Não há como estabelecer padrões
visto que o que é stressante para uma pessoa não o é para outra. Seriam
milhares de variáveis a serem controladas. Stress tem muito a ver com
a forma com que encaramos o mundo e de como solucionamos nossos problemas,
conflitos e dificuldades. Stress tem muito a ver com personalidade de
cada um. Nos dias de hoje é impossível não ficar estressado. Mas
é possível não ficar estressado o tempo todo.
Crianças muito jovens
já apresentam quadros patológicos que antes, só eram encontrados em
adultos. Por exemplo, a úlcera gástrica e o reumatismo. Se você se interessa
por saber como funciona a IMUNIDADE,
veja o parágrafo referente a ele no hypertexto.

O CÂNCER,
A MENTE E A CULTURA.

Mas
então o que nos diz o câncer? Resumindo rapidamente, pode-se dizer que
o câncer inicia-se com uma célula que se individualizou, não adotou
os valores de seu grupo e dele afastou-se. Progride rápida e cegamente,
sem objetivo. Mas para se pensar o câncer enquanto reflexo somático
de um conflito no interior do homem, temos que pensar o homem e também
a cultura em que o ele está inserido.

Do
ponto de vista individual o homem, esta desesperadamente, absorto nele
mesmo. Para o homem contemporâneo, a sorte é quando a desgraça atinge
o outro e ele é poupado. O homem atual parece que está impossibilitado
de evitar seu egoísmo. Este fator faz com que o homem se depare com
outro problema primordial: ele tem que se sobressair, ser ídolo, mostrar
que ele conta mais que os outros. Esse raciocínio tem trazido muitos
dramas ao homem levado as pessoas à solidão e à desgraça. O pior de
tudo é que o homem nem sempre tem consciência desse drama que se desdobra
em sua existência.

Provavelmente
o câncer deveria servir para levar o questionamento da vida às últimas
conseqüências. Temos que aceitar a vida como ela é. É necessário deixar
de sonhar e entender que nunca haverá um mundo sem conflitos, atritos
e sem lutas. O mundo lindo e cor de rosa, nunca existiu e nunca existirá.
Quando queremos acreditar nisso, nos tornamos uma presa fácil para aqueles
que prometem maravilhas que nunca poderão cumprir. Nunca haverá um mundo
onde as pessoas não adoeçam ou deixem de morrer. Nunca haverá um mundo
perfeito, cheios de cores lindas e caminhos suaves. As desilusões criadas
pela idealização de mundo fazem com que nos tornemos retraídos, medrosos
e doentios. A vida é isso, é o que temos e sonhar, criar expectativas
inúteis só vai nos fazer deixar as coisas piores. O Texto A
GALINHA E O TERCEIRO MILÊNIO
é muito interessante nesse sentido.

Não
existe um mundo do eu sozinho. A nossa comunidade é importante para
nós, assim como ela juntamente com outras comunidades é importante para
o país. A base de todas as vitórias é a união, a proximidade, o apego.
Mas é importante que o homem aprenda a acolher, amparar. Não obstante,
por infelicidade, o que vemos é que tanto o homem como as comunidades,
surgem como grandes centros especializados em critica, preconceito,
competição e destruição. Nós seres humanos estamos perdendo as referências
do que significa comunidade e o quanto elas são importantes para nossa
sanidade e sobrevivência.

Para
mudar isso, voltamos à velha receita, talvez a única no mundo com possibilidades
de alterar o rumo das coisas: o amor. Esse é o desconhecido do câncer,
pois, o amor permite a entrada do outro para que se faça a união. Quem
ama considera o outro, consegue integra-lo no seu movimento de vida.
Respeita os limites, tem consideração, cuidado e carinho. Quem ama tem
esperança. Quem tem esperança pode contar com o melhor (de forma realista),
sabe que esse direito lhe cabe. O amor ampara e sustenta. O câncer é
o representante do isolamento e do egoísmo. É a antítese do amor que
dá e recebe com a humildade de quem compreende que haverá sempre no
outro algo de valioso, independente da posição que ele tenha na escala
social.

Não
se fala aqui de amor romântico ou do pseudo-amor sentimental. Esse amor
é freqüentemente composto de sentimentos de compensação por causa de
sentimentos inconscientes de culpa devida à agressividade reprimida.
É um amor pervertido porque, como o câncer, não tem limites, é invasivo.
Falamos de uma consciência de unidade com tudo o que existe. O amor
leva ao apego e este leva à consciência de totalidade. Não ficamos amparados
quando estamos com pessoas que gostamos e que sabemos, gostam de nós?
É isso, o câncer só tem respeito pelo amor verdadeiro. Talvez por isso,
como já foi dito em outro texto, o
coração
seja o único órgão que não tem câncer, ele é o símbolo do
amor.

STRESS
E IMUNIDADE

Mas pesquisar
essa origem é quase impossível. Não há como estabelecer padrões visto
que o que é stressante para uma pessoa não o é para outra. Seriam milhares
de variáveis a serem controladas. Stress tem muito a ver com a forma
com que encaramos o mundo e de como solucionamos nossos problemas, conflitos
e dificuldades. Stress tem muito a ver com personalidade de cada um.
Nos dias de hoje é impossível não ficar estressado. Mas é possível
não ficar estressado o tempo todo.
Crianças muito jovens já apresentam
quadros patológicos que antes, só eram encontrados em adultos. Por exemplo,
a úlcera gástrica e o reumatismo.

Vamos
ver como funciona o sistema imune para que possamos ter uma idéia do
problema.O departamento de defesa do nosso corpo é composto basicamente
de uma única célula que vai se diferenciar em três divisões especializadas.
Numa das divisões essa célula inicial vai gerar o que virá a ser o macrófago
(Monócito) e vai constituir uma força de ataque de grande importância
no organismo. Uma outra divisão, agora alterada pelo Timo, vai dar origem
ao Linfócito T e, de uma terceira alteração, nascerá a célula B que
vai produzir anticorpos. Essas três divisões têm alta mobilidade e coordenam
uma brigada capaz de detectar e destruir um invasor ou célula cancerosa.
Teoricamente, o corpo humano não poderia adoecer dada a perfeição desse
sistema.

Vamos supor
que uma bactéria (mas podem ser: célula cancerosa, vírus, bacilo etc.)
entre na corrente sangüínea. Os macrófagos ou lixeiros que andam durante
todo o tempo pela circulação, tentando identificar corpos estranhos,
acabariam por se deparar com o antígeno (elemento estranho). Ao encontrar
esse elemento, é feita uma identificação. O reconhecimento é feito por
mediação química. As células normais do corpo, por causa do DNA, têm
químicas especificas que o macrófago reconhece e não ataca. Mas ao encontrarem
algum elemento que eles não reconhecem, os macrófagos são ativados e
tornam-se bastante agressivos.

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