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Casos de maus tratos a crianças estão ligados a um amplo problema social

Segundo uma recente pesquisa, a questão reflete uma situação de pobreza e precariedade, que inclui a falta de recursos, a dependência de ações assistencialistas e a ineficiência dos serviços oferecidos pelo Estado brasileiro.
Segundo uma recente pesquisa, a questão reflete uma situação de pobreza e precariedade, que inclui a falta de recursos, a dependência de ações assistencialistas e a ineficiência dos serviços oferecidos pelo Estado brasileiro.
Pais e mães denunciados por maus tratos a seus filhos também precisam de proteção e ajuda. O alerta é feito pela psicóloga Léia Comar Riva, autora de uma dissertação de mestrado sobre as dificuldades enfrentadas por essas famílias. Segundo ela, o problema é que os serviços oferecidos pela Estado ainda são insuficientes para alterar a situação de pobreza e precariedade em que vivem essas pessoas.

Léia estudou os casos de famílias de baixa renda cujos pais foram denunciados no Juízo da Vara da Infância e da Juventude da cidade de Votuporanga (SP) nos anos de 1999, 2002 e 2003. A coleta dos dados foi feita por meio de entrevistas e observação. O estudo foi realizado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), da USP.

Além de agressões físicas, os casos de maus tratos incluem atitudes de negligência. Ela ocorre quando os pais, por exemplo, não dão educação e nem atenção adequada para o bom desenvolvimento de seus filhos. Em seu estudo, Léia analisou como a negligência se manifesta e quais os recursos disponíveis na comunidade para auxiliar as famílias.

Segundo a psicóloga, a negligência nem sempre é intencional. “A falta de cuidados com os filhos não pode ser entendida apenas no contexto interno das famílias, como simples incompetência ou descaso.” Afinal, elas sofrem com o impacto de fatores sociais que criam dificuldades para os pais proporcionarem um bom cuidado a seus filhos. “Essas famílias mantêm um vínculo de dependência com práticas assistencialistas e não possuem recursos próprios e permanentes.”

De um lado, afirma Léia, essas famílias necessitam de uma maior atenção para solucionarem seus problemas. De outro, o Estado precisa de mais informações sobre as condições sociais e emocionais dos pais. “Sem a intervenção de entidades públicas e privadas, com programas que visem esclarecer e prestar assistência adequada, os pais não conseguirão superar sozinhos os problemas pelos quais foram denunciados. Com isso, correm o risco de serem vistos como incompetentes e ameaçados com a perda da guarda das crianças.”

A psicóloga lembra que a negligência é hoje um problema preocupante e socialmente visível. A implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) elevou o número de denúncias.

Para Maria Cecília Rodrigues de Oliveira, coordenadora do Projeto Atitude (Ribeirão Preto), que apóia e acompanha adolescentes e jovens em processo de grande vulnerabilidade, o mestrado de Léia mostra que simplesmente atribuir culpa aos pais não é a saída para esse problema.

“A mudança mais importante está na percepção de que somos todos agentes e vítimas de processos violentos que se arrastam historicamente e que devem ser enfrentados em todos os níveis governamentais e não-governamentais”, defende Maria Cecília.

Fonte: [url=http://www.usp.br/agen/repgs/2006/pags/058.htm]www.usp.br[/url]

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