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PsicoDesign: Como produtos interativos influem nos consumidores? (Parte2)

O que se segue nesta segunda e conclusiva parte deste artigo são mais especulações filosóficas do que afirmações científicas sobre como as tendências psicossociais apontadas na parte 1 do artigo, e suas correlatas contra-tendências, afetam a psicologia dos consumidores.

Na primeira parte do texto, publicada a 15/MAI, apontei quatro tendências psicossociais determinadas pela atual fase do Design na Economia, que chamei de "Interaction Design": a. Crescente abstração das mercadorias b. Consolidação de uma cultura visual e veloz c. Ubiqüidade d. Hominização da Coisa Pode-se hipotetizar alguns desdobramentos dessas tendências no que diz respeito ao comportamento dos consumidores: – Fala-se hoje de uma sociedade guiada mais pela Moda que pelas tradições, conforme aponta o sociólogo Gilles Lipovetsky no conjunto de sua obra.

A obsolescência de produtos gera uma dinâmica de pouca fidelidade e compromisso a marcas e um conseqüente desapêgo e falta de vínculos fortes nas relações de consumo. Estendendo isso para instâncias psicossociais, a obsolescência das amizades e mesmo das relações comunitárias pode ser encarada como desdobramento dessa forma de "nomadismo moderno" (parafraseando Pierre Levy). – O TDA (Transtorno do Déficit de Atenção) como modelo de conduta. Apesar do tom de piada da afirmação, muitos críticos da ubiquidade das tecnologias digitais defendem que um de seus efeitos patológicos é a desatenção e a desorganização dos usuários, ao contrário do propagandeado ganho de tempo e eficiência decorrentes do uso desses produtos.

O tecnostress, teorizado pelo famoso psicólogo Larry Rosen estaria associado a esse efeito. – "Sua majestade, o Adolescente". Especialmente em lares da classe C, B e A, os adolescentes guiam a vida doméstica, determinando não apenas que produtos serão comprados, mas também se tornando o núcleo das atenções e do tempo da família.

O adolescente é o grande trunfo das atuais tendências em Design: todos os produtos digitais têm no público adolescente seus "early adaptadors" e de voraz adesão. Ao ponto de alguns teorizarem sobre uma extensão artificial e patológica da adolescência (que come espaço da infância, começando mais cedo; e da maturidade, terminando cada vez mais tarde), gerada pela mídia e a sociedade de consumo como artifício para aumento de vendas (sobre este ponto, ler "Nos Labirintos Da Moral", de Mario Sergio Cortella e Yves De La Taille). Contudo, nem todos os desdobramentos das tendências atuais do "Interaction Design" são patológicos. Pode-se ver com bons olhos fenômenos psicossociais igualmente decorrentes dele, como: – Democratização da informação e das relações de poder-saber, que estimulam (via "consumo consciente", por exemplo) a formação de uma democracia participativa, ao invés de apenas representativa. Incluindo aqui o saudável questionamento ao meios oficias do poder-saber. – Crescente liberdade de escolha não apenas a respeito de produtos e serviços, mas também a estilos de vida: várias formas de lar e famílias, incluindo a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, e a adesão optativa a religiões, escolas de pensamento, associações civis, estéticas, etc. – Formação de novas identidades e maneiras de identitização, conforme aponta Manuel Castells e as "comunidades de interesse" e "comunidades de prática".

Este estudo não poderia estar completo sem uma análise das possíveis contra-tendencias relacionadas às quatro tendências apresentadas no início neste texto. (Afinal, toda tendência psicossocial gera contra-tendências, seja de protesto ou complementação, tal como toda ação gera uma reação, na Física). Podemos apontar como contra-tendências emergentes em 2006: – Revalorização do clássico, do antigo, do artesanal. Trata-se da releitura do antigo, não apenas enquanto Moda, mas como premissa de restauração de "velhos" costumes. Por exemplo, o revigoramento do casamento e da "família nuclear" no Brasil, conforme atestam estatísticas do IBGE; e a busca cada vez maior por pedagogias humanistas. – O culto ao ócio, ao "nadismo", a busca da serenidade e mesmo a positivação da preguiça. Por exemplo, em best-sellers como "O Ócio Criativo", de Domênico de Masi, e o ressurgimento dos "bistrôs" e "café filosóficos" como modelos de negócio. – O esforço político-institucional pelo Desenvolvimento Sustentável, por parte de governos e empresas, substituindo o ritmo frenético e impensado de expansão das tecnologias digitais por formas socio-ambientalmente corretas de relações econômicas. Contudo, todas as informações apontadas aqui constituem-se em tendências, e não como fatos consumados e muito menos forças irresistíveis.

A História pode ser vista como a somatória das tendências que duraram por longo prazo, mas também pode ser encarada como o resultado da ação humana consciente e intencional sobre a realidade. Portanto, a forma como viveremos no futuro depende dos usos que faremos dessas tendências e contra-tendências. Nada melhor para começar, que compreendê-las, inclusive em como elas influem em nossa psicologia.

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