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Por uma lei de incentivo ao esporte

Na época das gloriosas olimpíadas, ou outras competições internacionais, quantos são os casos de atletas que tem de viajar sozinhos pois não possuem verbas para levar ao menos os seus treinadores?
Um outro dado relevante: você sabia que o árbitro não é considerado como uma categoria profissional? Que a grande maioria deles exerce outra atividade para poder se manter? Que isto abre espaço para condutas duvidosas e escândalos como este recente envolvendo árbitros do primeiro escalão?

Tenho estado ligado ao esporte por toda a minha vida. Profissionalmente há cerca de 10 anos. Mais recentemente, de 4 anos para cá me tornei professor universitário e tenho tido a oportunidade de trabalhar com formação de futuros psicólogos. Muitos dos quais tem tido interesse e disponibilidade para conhecer e atuar (neste caso através de estágios supervisionados) junto à instituições esportivas.

O problema, tanto para os alunos como para os profissionais do esporte, é sempre o mesmo: falta de investimentos e de estrutura. Até poucos anos atrás a cultura e arte tupiniquins passavam pelo mesmo problema: pouco apoio da iniciativa privada e da administração pública. Tal processo passou por uma transformação por meio da Lei nº 8.313/91, mais conhecida como Lei Rouanet. Só para se ter uma idéia basta ver o up grade pelo qual passou a produção cinematográfica brasileira nos últimos tempos. Virou “coisa de gente grande”. Além do entretenimento proporcionado aos freqüentadores das salas de cinema passou a ser um grande negócio na medida em que colocou de vez o Brasil em circuitos internacionais (não sei se é o melhor exemplo mas até na festa do Oscar temos estado presentes). Em relação ao esporte o cenário que acompanhamos é desolador: se faltam verbas para aspectos básicos como material esportivo o que se vê sobre o investimento nos “profissionais” ainda é muito pouco. Recentemente tive a oportunidade de participar do dia-a-dia de um tradicional clube de futebol de Belo Horizonte.

O que pude constatar foi realmente sofrível. Em uma dada ocasião, ao acompanhar uma partida do Campeonato Mineiro, um dos destaques da equipe foi para o jogo com uma chuteira furada. Tal jogador atua no meio de campo, tem características ofensivas e o furo em sua chuteira estava bem no local do pé que ele mais utilizava para bater na bola. E se, na hora “H”, a bola resvalasse justamente no furo em sua chuteira? Pude acompanhar, também, a dificuldade para que o clube pudesse pagar os seus funcionários, fossem eles da comissão técnica ou do staff do cotidiano do clube. Seis meses de atraso no salário… “Esta é situação particular” – poderiam afirmar alguns…. Desculpe mas eu discordo de posse do saber de quem circula pelo meio. Esta não é uma exceção mas, infelizmente, a regra. Claro que há outras situações relacionadas como má administração por parte de “cartolas” mal preparados ou mesmo a interposição de objetivos pessoais à frente dos interesses coletivos, mas não temos como negar que o nosso esporte vai mal das pernas.

Na época das gloriosas olimpíadas, ou outras competições internacionais, quantos são os casos de atletas que tem de viajar sozinhos pois não possuem verbas para levar ao menos os seus treinadores? Um outro dado relevante: você sabia que o árbitro não é considerado como uma categoria profissional? Que a grande maioria deles exerce outra atividade para poder se manter? Que isto abre espaço para condutas duvidosas e escândalos como este recente envolvendo árbitros do primeiro escalão? Pois é…por estes e outros motivos gostaria de aproveitar o espaço para defender a idéia de que é necessário regulamentar uma lei de incentivo ao esporte, análoga à Lei Rouanet. Deste modo poderíamos ver despontar mais e melhores “talentos”, assim como a criação de um esporte “profissionalizado” e com mais vagas para profissionais bem preparados. Não bastam as oportunidades. Continua sendo necessário investir na melhoria da formação do psicólogo para atuação em campos específicos como a psicologia do esporte, conforme já defendido nesta coluna anteriormente.

De modo complementar o investimento em esporte e atividade física tende a exigir mais daqueles que ali trabalham ou querem fazê-lo e, portanto, o grau de exigência daqueles que por aí querem se aventurar iria aumentar. Por enquanto, como o esporte não é levado a sério, quase qualquer um pode tentar se inserir e isto compromete seriamente tanto o campo de atuação quanto a imagem da categoria profissional.

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