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Psicooncologia: a linguagem do corpo no adoecer Parte I

O estudo da Psicooncologia é bastante vasto e, dessa forma, estaremos iniciando nesta semana esse tema tão importante na área hospitalar e da saúde.
A Oncologia oferece diversificações e um vasto campo para o trabalho do psicólogo e, como uma área especializada dentro da Psicologia Hospitalar, também possui especificações e técnicas próprias de atendimento.

Nesta área de atuação, o psicólogo está presente juntamente com outros profissionais na convivência com o estigma câncer, elevando a importância dos aspectos psicossociais, integrando a doença e o doente na totalidade do ser, como uma unidade: mente, corpo e sentimento.

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida.

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula.

– Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é denominado carcinoma.

– Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma.

Outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases).

PSICOLOGIA APLICADA À PSICOONCOLOGIA

Numa visão sistêmica (macro e micro), conceituando-se o se humano com uma visão psicossomática, integral, observa-se que quando uma das partes da rede que o compõe é alterada, as outras sofrem reflexos.

Atuação do Psicólogo

Nos tratamentos oncológicos:

– Cirurgia
– Quimioterapia
– Radioterapia
– Imunoterapia
– Hormonioterapia

Cirurgia:

Atendimento a pacientes com indicação cirúrgica

– Pré-operatório: atendimento realizado antes da cirurgia no ambulatório ou no leito com paciente internado. O apoio emocional/psicológico visa a informação, esclarecimentos, conscientização e aceitação.

– Trans-operatório: compreende o atendimento pré-imediato com paciente internado até o atendimento pós-imediato, antes da alta hospitalar. Geralmente ocorrem em cirurgias programadas.

– Pós-operatório: atendimento após a cirurgia com paciente em alta hospitalar. São realizados geralmente no ambulatório ou consultório particular. Poderão também ser realizados grupos de pacientes com o mesmo tipo de cirurgia.

Radioterapia:

– A cura desta técnica visa a destruição das células tumorais existentes. O objetivo é reduzir a massa tumoral.

– Consiste na utilização de raios emitidos por substâncias radioativas e dirigidas à massa tumoral.

– As células mais afetadas pelas radiações são as céluas sanguíneas e as do trato-gastrointestinal.

Quimioterapia:

– Consiste na administração de substâncias altamente tóxicas ao paciente, de modo que, quando forem assimiladas pelas células doentes, afetem a sua reprodução, eliminando-as.

– É usada antes da cirurgia ou da radioterapia ou, mais comumente, como complemento do tratamento cirúrgico ou radioterápico

– Visa a erradicação das células tumorais disseminadas pelo corpo em locais onde uma substância levada pelo sangue pode agir.

Hormonioterapia:

– Técnica bastante utilizada pelos quimioterapeutas e pelos cirurgiões no tratamento do câncer.

– Os mecanismos de ação desta técnica ainda estão em estudos

– Consiste na administração de substâncias com ação anti-hormonal para o tratamento paliativo de tumores de porgãos como a próstrata, mamas, útero e tireóide.

– É utilizada também no tratamento de certas leucemias, onde a administração de corticóides é importante na obtenção da melhoria do paciente.

Imunoterapia:

– Como o objetivo principal no tratamento do câncer é a eliminação das metástases, espera-se que os componentes do sistema imunológico, adequadamente estimulados, possam ser eficazes na erradicação das células capazes de dar origem a focos metásticos.

– Após a extirpação cirúrgica da massa tumoral, a imunoterapia bem feita é um elemento a mais ao lado da quimioterapia e da radioterapia na luta contra a doença residual.

– As células imunológicas seriam estimuladas para o reconhecimento das células tumorais e dirigir-se-iam para tais células, eliminando-as.

CARACTERÍSTICAS DO PACIENTE ONCOLÓGICO

Os estudos demonstram que a doença não se resume em lesões orgânicas.
Existem fatores ou estados emocionais vivenciados ou imaginados que produzem manifestações bioquímicas, funcionais e/ou orgânicas.

O passado, o presente e o futuro; a história de vida do indivíduo, são fatores importantes no aparecimento e na patogenia das doenças.
Conforme os aspectos determinantes da história emocional do paciente, a doença pode evoluir para a:

– Cura

– Cronicidade

– Morte

O paciente oncológico é um doente complexo apresentando não somente sintomas orgânicos mas também sintomatologia que engloba sentimentos em relação à sua doença.

Com as especializações dos tratamentos na oncologia os aspectos emocionais foram delegados à segundo plano. Recentemente, volta à preocupação de se resgatar os estudos da relação câncer x emoções.

Não se pode montar um perfil do paciente oncológico pois cada indivíduo tem na sua história, a sua personalidade.

Dessa forma, cada indivíduo tem a sua modalidade estrutural de personalidade (fóbica, obsessiva, ansiosa, esquizóide).

É necessário que se faça uma avaliação psicológica do paciente para detectar o seu tipo de personalidade (na entrevista inicial), pois assim poderemos avaliar como ele irá lidar com a sua doença, com o seu câncer.

Após muitos estudos, observou-se algumas características comuns nos pacientes oncológicos e alguns autores relacionam algumas delas:

– Indivíduos rejeitados, desalmados, que encontram uma saída esteriotipada, doando-se para a resolução de seus conflitos”. (SIMONTON)

– Sempre colocam as necessidades dos outros antes das suas próprias”. (EVANS)

– Pessoas muito boas.” “É uma pessoa tão bondosa, uma verdadeira santa”. (LESHAN).”Em determinadas situações, o indivíduo “cria” para si doenças como possibilidades de soluções para seus problemas”. (BALINT )

– Busca compulsiva e inconsciente de situações de fracasso”. “Neurose de fracasso” (FREUD)

O paciente oncológico pode ou não apresentar sentimentos como:

– depressão
– sentimento de culpa
– perda de poder
– agressividade
– desesperança
– carência afetiva
– ansiedade
– insônia
– medos da morte, do sofrimento, da dor, do isolamento, da perda da identidade
– angústia
– mal-estar constante
– mudanças de imagem corporal e do esquema corporal

A CIRURGIA E O PACIENTE

Cada paciente tem uma biografia, uma história de vida e a doença e o seu tratamento acrescentam marcas nesta história. Porisso a cirurgia, assim como os diferentes tipos de tratamentos fazem parte dessa biografia e as respostas psicológicas são individuais e pessoais.

Alguns pontos importantes a serem considerados numa situação de cirurgia:

– agressão à imagem corporal
– aspectos simbólicos da cirurgia
– sugestões terapêuticas
– pré-operatório: quadro de ansiedade e angústia
– pós-operatório: quadro de depressão

O PACIENTE ONCOLÓGICO E A DOR

O paciente oncológico é um paciente que sente dor: 2/3 dos pacientes com câncer sentem dor e na sua maioria, são dores múltiplas”. (TWYCROOS, 1984).

Segundo LOBATO (1982), o paciente passa pela “Síndrome da Noite Vazia”, que aumenta as suas dores, pois as visitas se retiram, o número de enfermeiras diminui, os outros pacientes dormem, o movimento cessa, as luzes se apagam e o paciente fica sozinho, com o seu medo e a sua dor.

Para HACKETT, 25% dos pacientes com dor crônica têm doença depressiva e 100% dos pacientes com síndromes dolorosas têm sintomas de desordem depressiva, secundárias à dor.

Nosso próximo tema, ainda sobre Psicooncologia, será sobre tipos de câncer, estudos da personalidade de pacientes oncológicos e psiconeuroimunologia e câncer.

Um forte abraço a todos e até breve,

Alaide Degani de Cantone
www.cepps.com.br
55 011 5054-3053

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