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Rotina desperdiça potenciais das crianças nas creches

Creches e escolas integrais podem bloquear a capacidade de expressão, de decisão e a criatividade das crianças. Pesquisadora aponta para o desenvolvimento de atividades interdisciplinares, que respeitem e valorizem as carcterísticas de cada idade.
Creches e escolas integrais podem bloquear a capacidade de expressão, de decisão e a criatividade das crianças. Pesquisadora aponta para o desenvolvimento de atividades interdisciplinares, que respeitem e valorizem as carcterísticas de cada idade.
A partir de uma mudança na filosofia pedagógica e nas atividades oferecidas pelo Núcleo de Recreação Infantil (NURI) da USP, as crianças de 4 a 6 anos que frequentavam o local se tornaram mais independentes e passaram a aprender de forma mais efetiva e lúdica. Segundo a educadora Márcia Maria Matsubara Silva Pinto, deixá-las muito tempo em frente à televisão, ou impor um período de descanso muito extenso, é um desperdício de suas potencialidades.

Márcia coordenou o Núcleo entre 2002 e 2005 e foi a responsável pela implantação dessas mudanças. A análise dessa iniciativa está no estudo de caso que ela mostra em sua dissertação de mestrado apresentada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

Márcia realizou um convênio com a EEFE, por meio de uma disciplina sobre a primeira infância. Quatro alunos bolsistas desenvolveram um programa supervisionado de atividades físicas, como brincadeiras circenses (que estimulam a noção de segurança e equilíbrio). Já os alunos da disciplina participavam discutindo e questionando o trabalho e a relação professor-aluno.

No NURI, os monitores-bolsistas eram estudantes de diferentes áreas da universidade. Disto, surgiram atividades interdisciplinares, tais como: artes plásticas, cênicas e música, o que possibilitou às crianças a vivência de diversos saberes. A educadora lembra que muitos dos monitores começaram a ter interesse pelo ensino após a experiência. “Alguns , inclusive, trocaram o bacharelado pela licenciatura. É importante que o projeto acrescente algo ao bolsista também, e não apenas o contrário.”

A participação ativa das crianças na escolha dos espaços da brinquedoteca e da biblioteca, criadas a partir de uma necessidade demonstrada por elas mesmas, mostrou o desenvolvimento da capacidade de decisão e expressão como grupo.

A atividade física para crianças nesta faixa etária, dos 4 aos 6 anos, pode ser interpretada por muitos como somente recreativa. A educadora explica que “apesar da necessidade da recreação, uma atividade regular e estruturada é de extrema importância”, orientando as crianças para a valorização do exercício físico ao longo da vida além de possibilitar o conhecimento e a identificação com diferentes modalidades. Exercícios programados de acordo com a idade também podem ajudar a desenvolver habilidades específicas.

Márcia ressalta que não foi dada prioridade à alfabetização, como as práticas mais tradicionais costumam fazer. “Passar muito tempo sentada, copiar palavras ou textos nessa idade, em que o movimento é tão importante pode criar uma barreira para esses conteúdos tão essenciais”, diz. “Além disso, nesta fase, este conhecimento tem tanto valor como os outros.”

A pesquisadora entrevistou sete pessoas – entre mães, professores e monitores-bolsistas que participaram do NURI antes e depois de 2002 e viram a transformação na orientação pedagógica da instituição. O NURI funcionava a partir de uma parceria entre a Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) e a USP. Suas atividades eram diferentes das creches pois além de atender a uma outra faixa etária (4 a 6 anos), tinha um caráter mais pedagógico que assistencialista.

Também foram analisados documentos do projeto inicial de implantação do Núcleo. Atualmente o NURI está desativado. Uma parte dos alunos (de seis anos) saiu porque, de acordo com a nova lei, já podem se matricular na primeira série. Os demais alunos foram remanejados para outras creches da Universidade.

Fonte: [url=http://www.usp.br/agen/repgs/2006/pags/138.htm]www.usp.br[/url]

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