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Por quem você torce?

Você já parou para se perguntar porque torce por um time de futebol? Ah…você não torce para um time específico ou, talvez, deteste futebol. E o que costuma fazer quando chega a Copa do Mundo? Esconde-se, fica indiferente ou torce para que o Brasil perca logo, saia da copa e, assim, termine logo esse descabido sofrimento coletivo? E se ganhar? Você também vai comemorar? Ou, como muitos que dizem não gostar, na hora H, acaba se aninhando no sofá, diz que vai ver o jogo porque não tem nada para fazer e na hora do gol abraça todo mundo, dá volta olímpica e tudo mais?
Bom…não importa se você já assumiu a sua torcida ou se ainda vai fazê-lo. O fato é que, no nosso país, torcer explicitamente ou de modo enrustido é permitido, aliás, deve ter alguma lei que obrigue à isto. Afinal, vivemos no país do futebol, decadente é verdade, porém ainda é a nação do “talento”, da “ginga”, do “jeitinho brasileiro” que continuam sendo nossos principais itens de exportação e não só no mundo da bola, mas isto não cabe agora. Mas, algumas coisas no mundo da bola mudaram, é verdade. O torcedor não vai mais ao estádio como antigamente porque, além dos riscos da violência, pode-se agora comprar pacotes de TV à cabo e, confortavelmente, assistir ao “espetáculo” em casa. Os grandes clubes transformaram-se ou foram incorporados por grandes empresas.

Os jogadores não se identificam mais com o escudo do clube que os revelou. Agora eles se identificam com o verde. Não, não é com o verde do Palmeiras ou do Caxias. É com o verde do dinheiro. E o torcedor? Será que percebeu estas mudanças? Será que estás mudanças alteraram seu comportamento? Não me parece. As crianças continuam sendo doutrinadas com as cores dos clubes dos pais desde o nascimento, ao governo continua interessando que a atenção da massa esteja voltada mais para o circo do que para a administração pública, e nós continuamos a acreditar que a seleção emplaca mesmo sem uma preparação adequada. Podem me chamar de chato, de pessimista ou do que quiserem, mas chamo a atenção de vocês para um fato: por que, há algum tempo atrás, alguns técnicos, inclusive o atual, chegaram a recusar o comando da seleção? Será que não se deve à falta de uma condição minimamente adequada de trabalho?

O fato é que da mesma maneira que olhamos para o time que fomos ensinados à torcer e dizemos que “é o melhor porque joga mais” (e com isso não dizemos nada além de que gostamos daquele escudo e não sabemos porque), também preferimos não ver que as coisas em nosso clube, ou nossa seleção, muitas vezes estão sendo feitas de qualquer jeito. Digo isto porque não importa mais se a equipe vai ganhar o jogo ou o campeonato, e como o torcedor irá reagir diante disto. Os cartolas, de um modo geral, não estão preocupados com estes “meros detalhes”. O que vale, agora, é colocar formar ou comprar jogadores por baixos preços, coloca-los em evidência e passá-los adiante pelo preço mais alto possível. O que o torcedor inocente continua querendo e esperando é por “bola na rede”. Só que as regras do jogo mudaram. Nos bastidores o gol, não é mais o objetivo principal. “Bola na rede” é cifra no banco. Q

uando olhamos para um jogo de futebol e, romanticamente, achamos tudo bom e bonito não estamos entrando em contato com a dimensão real do esporte no Brasil. Se começamos a torcer fanaticamente, perdendo os parâmetros da realidade devemos olhar para as nossas próprias vidas e perguntar: “O que será que está faltando?”, ou ainda, “O que estou substituindo com esse fervor por um clube cujos dirigentes não me dão a mínima?”. Sejamos claros: torcer para um time é bom para encher a paciência dos amigos que torcem pelo rival quando o nosso ganha do deles. Acima disso é exagero. Bom seria se continuássemos a torcer pelos clubes e pela seleção, mas não nos esquecêssemos das responsabilidades com nossas vidas e com nossa sociedade.

É aquela coisa: se o Brasil ganhar a copa vai ficar tudo às mil maravilhas? Vamos esquecer de, por exemplo, dar a resposta nas urnas que nossos governantes (tanto os honestos quanto os corruptos) merecem? Por que isto deveria interessar ao torcedor? Simples: o futebol mudou, será que o torcedor também? Será que o sujeito que enfrenta horas de condução para chegar ao estádio, ou gasta uns tantos reais nos pacotes de pay-per-view sabe que o espetáculo não está sendo feito para ele? Será que ele sabe que enquanto se ocupa vibrando e sofrendo pelo time do coração os seus impostos continuam sumindo nos ralos da corrupção? Pelo menos o torcedor deveria ter direito a saber pelo que está torcendo. Quem sabe, aí, ao invés de acompanhar a tabela do campeonato ele possa optar por acompanhar os índices das ações do clube na bolsa de valores, ou as decisões e atuações dos políticos em quem votou. E, aí, eu pergunto: por quem você torce? Por eles ou por nós?

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