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Ciência da Computação + Psicologia = Tecnologia Social: Do que estamos falando?

Autor: Eduardo Alencar – UNINOVE

RESUMO

Skinner (1953) nas primeiras páginas do “Ciência e comportamento humano” já debatia sobre o desigual desenvolvimento tecnológico entre as áreas de ciências humanas, exatas e biológicas. Em menos de 50 anos o homem evoluiu os microcomputadores, a intranet, a internet e o correio eletrônico coligando pessoas pelo mundo inteiro, acelerando o processo de crescimento / desenvolvimento humano, onde na cidade de São Paulo por exemplo, é permitido verificar crianças entre 8/12 anos que antes brincavam de esconde – esconde, duro – ou mole, carrinho, pega – pega, peão, bonecas, agora dedicam grande parte do seu tempo à Blogs, MSNs, E-mails, Orkut, dentre outras ferramentas que as colocam em contato com conteúdos considerados próprios e impróprios para a sua idade, vemos empresas que antes tinham maior flexibilidade quanto a inserção de mão-de-obra no seu quadro de funcionários, hoje investindo cada vez mais em políticas que trazem como conseqüência a exclusão de pessoas menos capacitadas a era digital. Preocupado com as maneiras em que o avanço tecnológico vem afetando o trabalho de psicólogos, o autor objetivou via pesquisas de literatura, debater o paradigma de participar ou não deste desenvolvimento.

Palavras Chaves: Tecnologia Social, Análise do Comportamento, Psicologia aplicada à Informática.

Skinner (1953), quando debate sobre o fato de que as ciências caminhavam para um desigual avanço tecnológico, quis dizer que, de maneira geral, cientistas que investiam no deslanche do capital tecnológico não atentaram-se, ou pouco se investiu em um fator primordial da ciência: a previsão. A ciência não só descreve, ela prevê, ou seja, não basta pensarmos somente nos impactos do passado para tomada de decisões, deveríamos ter em mente os impactos do futuro, é exatamente nesta linha de raciocínio que ele adapta os métodos da ciência para estudar o comportamento humano, segundo o autor, desde que condições relevantes possam ser alteradas, ou de algum modo controladas, o futuro poder-se-ia ser manipulado.

Chegar na lua, clonar um animal, dar vida via inseminação artificial, mudar a fisionomia do rosto via plástica, controlar empresas via sistemas on – line, registrar imagens digitalmente, passear de barco, avião, carro, jato, moto, por que mesmo com o avanço de toda esta tecnologia ainda temos pessoas passando fome, grande índice de favelas, mortalidade infantil, gravidez precoce, surgimento de novas doenças degenerativas, salários baixos, problemas habitacionais, comprometidos sistemas de saneamento básico, dentre outros agravantes de natureza social?

Parecia cedo, mas já em 1953 tínhamos um psicólogo, enquanto cientista do comportamento preocupado com estas questões, preocupado com os impactos que sofreríamos no futuro. É exatamente neste sentido, que hoje, psicólogos estão se reunindo para tratar de: “Novos rumos de tecnologia social”. Novamente, alguns cientistas da área de humanas / sociais estão preocupados com os atuais e futuros impactos dos avanços tecnológicos no nosso objeto de estudo: O homem.

Segundo Todorov (2006) tecnologia social é um conceito que se aplica a inovações de produtos voltados à facilitar o acesso dos mais pobres à tecnologia dos mais ricos. Neste sentido, psicólogos comprometidos com o desenvolvimento desta nova visão tecnológica deveriam planejar, compreender e prever situações contingentes ao tema. O autor ressalta que neste árduo caminho, nos debateremos com questões éticas, institucionais, organizacionais, econômicas, limitações de técnicas, dentre outras implicações, é por isso que neste campo, encontramos grupos de psicólogos e pedagogos unidos como uma única instância (A exemplo da implementação do PSI ou Sistema Programado de Ensino, onde tal autor é caracterizado como um dos grandes pioneiros à implementar e planejar novas tendências em tecnologia social, bem como treinar e capacitar novos colaboradores pela, com divulgação em congressos e projeto piloto na Universidade de Brasília).

Segundo Aurélio (1988) a palavra tecnologia corresponde à um conjunto de conhecimento, especialmente de princípios científicos, que se aplicam a determinado ramo de atividade, ou seja, segundo a etiologia da palavra, não desrespeito a uma única área como por exemplo a da informática, porém segundo Todorov (2006) o termo “Tecnologia” já está tão emparelhado com a informática, com sistemas de engenharia e redução de custos que adicionar o termo social, chega a comprometer o foco humano ao qual o “social” se refere.

Segundo Revista Veja (2003), a ciência da computação corresponde a um conjunto de técnicas e conhecimentos que possibilitem a criação de software e aplicativos utilizados para os mais diversos fins. O barechal em ciência da computação analisa necessidades de usuários, desenvolve programas e aplicativos, gerenciando equipes de instalação de sistemas, desde sistemas mais complexos para pesquisas espaciais, moderados para medicina genética e simples para empresas de pequeno porte. Cientistas desta área são facilmente identificados atuando nas áreas de TI (Tecnologia da Informação), Analise de Sistemas, Help Desk, Desenvolvimento de sistemas, dentre outras áreas afins.

Falar em “Tecnologia social”, é remeter-se a um assunto extremamente novo, oriundo de poucos profissionais seriamente comprometidos, que no Brasil se dedicam a implementação e multiplicação de cientistas desta área, como exemplo de Todorov (2006), é remeter a um caminho extremamente árduo junto a organizações, justificando que o investimento em tecnologia social é tão importante quanto o desenvolvimento da tecnologia da informação por exemplo, é remeter a terminologia que já estão inseridas culturalmente a um viés de desenvolvimento de objetos inanimados (software, maquinários, sistemas, etc.), enfim, é assumir que ao ingressamos nesta luta, assim como em todos os outros campos cujo o psicólogo lutou para levar o se trabalho (organizações, hospitais, marketing, esporte, jurídico, Detran, etc.) é comprometer-se com uma metodologia científica rigorosa, é partilhar dos bons e maus momentos, e o mais importante, é comprometer-se com o nosso objeto de estudo.

Tendo em vista que o aspecto mais distinto da terapia comportamental é o comando que ela dá ao terapeuta tanto no planejamento da estratégia geral da terapia quanto no controle de seus detalhes à medida que prossegue, como por exemplo, quando um tipo de técnica falha em obter mudança em comportamentos, imediatamente outra é tentada e quando há mudanças comportamentais desejadas, torna-se nítido à visão do observador e pode ser facilmente mantida e / ou reforçada, tal abordagem vem sendo cada vez mais solicitadas ao tratamento de transtornos que envolvem em primeira instância, a mudança de hábitos ou comportamentos, como aponta Sidman (2003), é o caso do TOC, Transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, autodestruição, dentre outros, neste sentido, as observações científicas desta ciência que possui suas raízes filosóficas no behaviorismo Radical do americano B.F. Skinner permitem ao psicólogo a previsão e conseqüentemente, o planejamento de eficazes intervenções. Tais contribuições poderiam ser utilizadas a favor do desenvolvimento da “tecnologia social” a medida em que esta parece depender de uma mudança ontogenética (histórias individuais de cada sujeito) e cultural (histórias de grupos em uma determinada comunidade).

Matos e Tomanari, (2002), quando dizem que a Analise Experimental do Comportamento é uma área da psicologia que se insere no contexto das disciplinas das ciências naturais, tais como a biologia, a física, a química, por se tratar de uma ciência natural e por tanto não se utilizam de explicações que recorrem a fatores que não existam nas dimensões espaciais e temporais (não se aceitam explicações metafísicas ou sobrenaturais, por exemplo), estas características podem habilitar o psicólogo à comunicar-se com os profissionais das áreas tecnológicas sem recorrer a sistemas internalistas e / ou mentalistas que à exemplo do desigual avanço tecnológico, parecem carecer de estudos cientificamente comprovados para conquistar seu espaço junto a investidores, parceiros e organizações governamentais e não governamentais.

Quando Skinner (1953) define uma necessidade ou um desejo como simplesmente uma condução resultante de privação e caracterizada por uma especial probabilidade de resposta, quando Sidman (2003) reflete sobre a tradução de “mecanismos de defesas de natureza internalistas” como passível de analise funcional de contingências, baseado em freqüência de respostas, probabilidade, estímulos antecedentes e consequenciados à determinadas respostas, dentre outras descobertas que alavancaram o desenvolvimento de uma fiel ciência do comportamento humano, contrapondo as injustas críticas de que o behaviorismo radical negava-se a trabalhar com os sentimentos (comportamentos encobertos), tenho a plena certeza de que o Analista do Comportamento pode ser e caminha para um excelente mediador entre aspectos ditos como “psíquicos”, fortemente presente nas ciências humanas / sociais, uma vez que sua formação é de psicólogo x aspectos tecnológicos, devido ao seu comprometimento e interesse com rigores e metodologias científicas.

Lá no inicio da graduação de psicólogo quando modelamos um rato (ser sem repertório de pressão à barra) via reforçamento diferencial de respostas, temos o indicio de como uma tecnologia do comportamento pode ser eficaz no manejo de contingências para mudança de comportamentos, neste momento da graduação, aspectos internalistas são desconsiderados, pois a observação empírica toma o aluno como um cientista provisório.

O PSI – Sistema de ensino programado, é um exemplo de como Analistas do comportamento vem se comprometendo com o desenvolvimento de uma “Tecnologia Social”, baseados na tecnologia do comportamento pela qual optaram dedicar-se, defendê-la, aplicá-la e desenvolvê-la. Como o objetivo deste trabalho não foi destacar os aspectos desta ferramenta, mas apontá-la como mais uma possibilidade de investimento em “Tecnologia Social”, o autor não recorreu a literatura específica do programa, porém deixa indícios de Todorov (2006) pioneiro no desenvolvimento desta metodologia que visa revolucionar a tradicional metodologia de ensino das escolas brasileiras, permitindo que alunos concluam a graduação em seu ritmo (sujeito único), tendo a disposição de professores e monitores para esclarecimentos de dúvidas, módulos de leitura de disciplinas on – line, diferenciadas ferramentas de avaliação que deixem o aluno sob controle do aprendizado e não da freqüência ou diploma, dentre outros diferenciais.

MÉTODO

Levantamento de literatura (entre maio / 2006 à setembro / 2006) para adquirir sólidos subsídios para expor o ponto de vista do autor acerca da contribuição da psicologia, em especial, da análise do comportamento frente ao desenvolvimento tecnológico e a possibilidade de uma “tecnologia social”.

RESULTADOS

Ao olharmos a nossa volta e nos depararmos com Orkut, MSN, E-mail, Telefone móvel, carros, aviões, genética, máquina digital, robótica, dentre outros avanços tecnológicos podemos verificar que há muitos cientistas superintendentes em muitos assuntos, porém, somente um cientista detém das adequadas ferramentas para análise do comportamento humano: O Psicólogo, em especial, o Analista do Comportamento.

Sidman (2003), aponta que a Psicologia como o próprio nome sugere, é o estudo da mente, da alma. Já a Análise do Comportamento, é a ciência do comportamento, ciência comprometida com as determinantes do comportamento, não apenas com a topografia deles, comprometida com a prevenção e manejo de contingências, não apenas com a mera descrição, enfim, neste sentido, negar as suas responsabilidades com o desenvolvimento da “tecnologia social” seria ir contra os princípios da Análise do Comportamento, ou seja, fechar os olhos para as contingências que se manifestam a nossa volta, dando origem a macro e meta contingências.

Psicólogos que já tiveram o “insight” para esta demanda, além de propor algumas alternativas como fez Todorov (2004; 2006), já levantaram as dificuldades para as quais irão ter que superar, outros participam cada vez mais de congressos, é por isso que há indícios (pelomenos últimos 20 anos) de psicólogos agrupando-se (I, II, III congresso de Psicoinfo, I, II congresso de psicologia: ciência e profissão, I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, XIX, X, XI, XII, XIII, XIV e XV congresso Brasileiro de psicoterapia e medicina comportamental, I congresso Latino – americano de psicologia, I, II, II, IV jornada de analise do comportamento de São Carlos, I Jornada de analise do comportamento de campinas, I Jornada de analise do comportamento da Universidade metodista, dentre muitos outros congressos) para expor trabalhos e mudanças conceituais em clinica, organização, escolas, instituições, hospitais, debates entre abordagens, dentre outros campos de atuação e assuntos acerca do desenvolvimento da psicologia.

Lembrando que em 1953 Skinner já nos alertava para os impactos do desigual desenvolvimento tecnológico entre as ciências e que nos últimos 20 anos psicólogos tem se organizado para investir em tecnologias: Social, do comportamento, psicológica, novos campos, etc. Os resultados apontam que temos um grupo razoável de profissionais interessados nestas mudança, porém baseados nas implementações de Todorov (2006), ainda carecem o número de psicólogos que realmente “põe a mão na massa arregaçando as mangas”.

CONCLUSÃO

Ser adepto a analise do comportamento e fechar os olhos para as atualizações da psicologia enquanto ciência e profissão seria praticamente negligenciar que a sua (s) prática (s) está tomando diferentes rumos, porém, participar de congressos, ganhar consciência do que está mudando, evoluindo, como por exemplo os novos conceitos (macrocontingências, metacontingências, etc.) é tão grave quanto a 1º negação.

Nas buscas realizadas durante os meses dedicados a este trabalho, pode-se concluir a partir dos resultados de Thomaz, Alencar, Dias, Bueno e Cruz (2006) , Thomaz, Soares, Rocha, Espírito Santo, Hiatsugo (2006) e outras fontes conforme apontam a bibliografia, nota-se que nos últimos 10 anos pouco se falou sobre questões sociais em analise do comportamento, exceto por Todorov e um grupo de colaboradores que deram origem a um livro sobre “metacontingências”, pelo qual foi identificado 10 artigos sobre práticas do analista do comportamento aplicadas as demandas sociais, ou seja, em contexto extra – clinica e pela coleção “Sobre Comportamento e Cognição”, pela qual identificou-se publicação de 6 artigos.

Por outro lado muito já se investiu no casamento entre tecnologia & psicologia, a exemplo de algumas empresas que implementaram E-learning com a participação de psicólogos, em Ramal (2004), algumas universidades que aproximam a sua metodologia do EAD – Ensino a Distância ao do PSI – Sistema de Ensino Programado em Todorov (2006), softwares para educação especial em Leitão (2005) e Oliveira (2003), enfim, deixo algo para pensarmos enquanto participantes ativos desta tal “Tecnologia Social” e os seus impactos no presente e no futuro de nossa sociedade.

BIBLIOGRAFIA

Aurélio, B.H.F. (1988). Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. São Paulo: nova Froteira.

Leitão, F.L. (2005). Um modelo de software para educação especial. Trabalho realizado para adiquirir o título de bacharel em Psicologia. PUC-MG

Matos, M. A e Tomanari, G.Y (2002). A análise do comportamento no laboratório didático. Barueri: Manole.Cap. I e II.

_______Santos, A. França, H.F.C. Gomes, I.H.S. Teixeira, W.G.F. Filho, G.L.S. Desenvolvimento de aplicações para deficientes: uma discussão sobre ferramentas para incorporação da tecnologia de voz ao voiceproxy. Projeto natalnet da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Oliveira, L.M.G. (2003). Educação especial e tecnologias computacionais: jogos de computadores auxiliando o desenvolvimento de crianças especiais. I Encontro paranaense de psicopedagogia. UNIOESTE – ABPppr.

Ramal, A.C. (2004). Por que o E-learning vem crescendo tanto. Jornal do comércio, artigo publicado no jornal “A Gazeta”, Cuiabá.

Revista Veja (2003). O Guia do estudante. São Paulo: Editora Abril

Skinner, B.F. (1953) Ciência e comportamento humano. Reedição (2000). São Paulo: Martins Fontes

Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações. Campinas / SP: Livro Pleno.

Thomaz, C.R.C. Alencar, E.T.S. Dias, E. Bueno, K. Cruz, S. (2006). Questões Sociais: Uma Revisão Sobre a Literatura Brasileira na Última Década. Comunicação escrita de pesquisa no XV encontro da ABPMC – Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental. Brasília – DF.

Thomaz, C.R.C. Soares, D.R.S. Rocha, T. Espírito Santo, J. Hiatsugo, F. (2006). Questões Sociais: Uma Revisão Literária da Coleção Sobre Comportamento e Cognição. Comunicação escrita de pesquisa no XV encontro da ABPMC – Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental. Brasília – DF.

Todorov, J.C (2006). Práticas culturais e análise do comportamento: o sistema personalizado de ensino na era da informática. Simpósio do II congresso de psicologia: ciência & profissão. São Paulo.

Todorov, J.C (2004). Políticas públicas para educação superior e o setor particular. 6º fórum nacional de ensino superior brasileiro – Fnesp. Brasília – DF.

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