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Dificuldade nas ciências sociais no brasil

Os cientistas sociais brasileiros produzem ciência de alta qualidade, mas o impacto de suas repercussões internacionais é limitado pelas dificuldades em torno do estabelecimento de padrões científicos. A opinião é de Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os cientistas sociais brasileiros produzem ciência de alta qualidade, mas o impacto de suas repercussões internacionais é limitado pelas dificuldades em torno do estabelecimento de padrões científicos. A opinião é de Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Uma das dificuldades encontradas é que no Brasil se faz de tudo, menos avaliação. Não há, em nossa área, o empenho em dizer o que está bom e o que está ruim como ciência”, disse o professor, que participou de sessão especial nesta quarta-feira, na 30ª reunião anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG).

Para Reis, que é um dos representantes da comunidade científica no conselho deliberativo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), há uma tendência de não se admitir o contraditório, gerando uma condescendência com trabalhos de baixa qualidade.

“Os critérios facilitam demais. Seria preciso gerar um ambiente de debate aberto, sem preocupação em ferir suscetibilidades. Muitas vezes quem quer estimular o contraditório – fundamental em ciência – é visto como criador de caso”, disse.

O diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, que também participou da sessão especial, ressaltou que os padrões científicos são definidos pelos pares, mas pode ocorrer uma distorção quando esses especialistas se dividem em grupos que tornam seus critérios predominantes, limitando o diálogo e a discussão. “O antídoto para isso é a aderência ao método científico, com a presença do contraditório e do debate”, afirmou.

“O conhecimento avança porque as pessoas se contradizem – o que não pode ser considerado descortês”, disse Brito. Segundo ele, é preciso que os padrões sejam estabelecidos com preocupação exclusiva no compromisso acadêmico e na busca da maior objetividade possível.

Fábio Wanderley Reis atribuiu a uma série de fatores a limitada presença de cientistas sociais brasileiros em periódicos internacionais. “A língua é uma barreira. Há, além disso, uma má vontade, uma espécie de presunção negativa em relação aos brasileiros”, afirmou.

Mas tudo isso, segundo ele, seria superado com critérios de qualidade mais definidos. “A produção acadêmica na área de ciências sociais na Polônia do pós-guerra foi um exemplo disso. O debate público tomou uma dimensão profunda, de alta qualidade. A produção polonesa era ignorada no exterior, mas a efervescência da discussão e a qualidade da produção obrigaram a comunidade internacional a voltar os olhos para lá”, disse Reis.

Brito Cruz concordou que, para atingir a comunidade internacional – e assim dialogar com maior número de pesquisadores e fazer avançar o conhecimento –, é preciso aumentar a capacidade de fazer generalizações, com reflexões que sejam universais. “É importante ser capaz de interessar a comunidade científica. Não para satisfazer o ego, mas pela necessidade de comunicação intrínseca à ciência”, disse.

Uma diferença que cria um obstáculo para as ciências que se baseiam na linguagem, segundo o diretor científico da FAPESP, é que o valor do argumento muitas vezes está na qualidade ensaística do trabalho acadêmico. Não há uma resposta única para essas dificuldades.

“Os desafios são universalizar as atividades e olhar para o mundo. A terceira maior democracia do mundo tem certamente contribuições em ciências sociais a dar à comunidade científica internacional”, disse Brito Cruz.

Fonte: [url=http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=6269]www.agencia.fapesp.br[/url]

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