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Migração familiar pode provocar inserção precoce da criança no trabalho

A partir de dados do Censo Demográfico de 2000, o estudo analisou a probabilidade de crianças trabalharem na área urbana do Estado de São Paulo de acordo com a condição de migração dos pais.
A partir de dados do Censo Demográfico de 2000, o estudo analisou a probabilidade de crianças trabalharem na área urbana do Estado de São Paulo de acordo com a condição de migração dos pais.
A migração familiar pode ser um importante fator de incentivo ao trabalho infantil. Juntamente com outras variáveis, como renda e educação, ela tem impacto na probabilidade de as famílias migrantes lançarem mão do trabalho de suas crianças para complementarem ou mesmo obterem renda familiar, como mostra um estudo realizado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

Para realizar sua pesquisa de doutorado, a professora Natália Nunes Ferreira Batista utilizou números do Censo Demográfico de 2000. Com esses dados, ela analisou o impacto na probabilidade de ofertar trabalho de crianças entre 10 e 14 anos, situadas na área urbana do estado de São Paulo, de acordo com a condição de migração de seus pais. Pais e filhos migrantes sofreram com a dificuldade de adaptação.

Segundo a professora, se os pais migrantes têm dificuldade de inserção no mercado de trabalho, mesmo com um nível de escolaridade igual aos dos paulistas, eles podem recorrer à utilização da mão-de-obra de seus filhos. “O filho de migrante é facilmente suscetível às dificuldades de adaptação dos pais ao novo local. Sua freqüência escolar, em geral, é abalada, podendo haver repetência ou mesmo evasão escolar”, observa Natália.

De forma diferente acontece com a grande parte dos filhos de pais migrantes que residem no mínimo há dez anos no Estado de São Paulo: seus filhos nasceram aqui e não tiveram que vivenciar o período de adaptação ao local de destino juntamente com a família. A pesquisa aponta que a probabilidade de trabalhar de uma criança nessas condições é de 2,72%. Já aquelas de famílias migrantes há menos de dez anos no Estado de São Paulo apresentam 3,35% de chances de trabalhar.

O estudo também confirmou uma situação melhor dos filhos de migrantes positivamente selecionados, aqueles que conseguiram permanecer no Estado, apesar das dificuldades de adaptação. Segundo Natália, esses migrantes apresentam qualidades diferenciadas, que não podem ser mensuradas, tais como maior aptidão, menor aversão ao risco, entre outras, as quais permitem inclusive que sua situação econômica melhore em relação ao do paulista com o passar do tempo. Essas características se refletem na probabilidade de seus filhos necessitarem entrar no mercado de trabalho. Por exemplo, a probabilidade de uma menina integrante de uma família onde o chefe é migrante auto-selecionado – que está há pelo menos dez anos no Estado – ter de trabalhar é de 1,65%; em um lar de pessoas não-migrantes, esse índice é de 1,87%.

Diante desse panorama, a autora da pesquisa chama a atenção para a necessidade de reflexão sobre as políticas públicas de combate ao trabalho infantil. “É necessário fornecer maior apoio aos migrantes de baixa qualificação tanto no local de origem [por meio de possibilidade de emprego e acesso à educação de qualidade], quanto no local de destino, procurando reduzir o custo de adaptação da família”.

A pesquisadora também reforça a importância da utilização do sistema escolar na prevenção do uso da mão-de-obra de crianças. “Implantando uma carga horária integral é possível diminuir a disponibilidade de tempo das crianças”.

Fonte: [url=http://www.usp.br/agenciausp/repgs/2006/pags/243.htm]www.usp.br[/url]

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