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A Formação de Grupos na adolescência

Por: Vanessa Amarilha Portão
Psicologa Clinica

Uma massa pode possuir um grau elevado de ética dos indivíduos que o compõem ou ser apenas um grupo excessivamente emocional, impulsivo, violento, apresentando apenas as emoções rudes e os sentimentos menos refinados. Em sua formação a individualidade do sujeito é recalcada em prol de uma psicologia de grupo. É comum observarmos um indivíduo num grupo fazendo ou aprovando coisas que teria evitado no seu cotidiano, vemos que o sujeito perde seu poder de crítica e deixa se deslizar para a mesma emoção. Através do contágio os membros do grupo realizam os mesmos movimentos, é notável a intensificação da emoção, ditos que repetem e vão dominando, impondo como significante mestre.

Para que essa massa se constitua, é fundamental que haja certo grau de continuidade de existência do grupo, os indivíduos pertencentes a ela precisam estar em busca de um mesmo ideal, ou seja, o grupo deve possuir uma essência que justifique sua formação, tradição, costumes e hábitos tais que determinem a relação de seus membros uns com os outros e uma estrutura definida, que especifique a função de cada membro.

A identificação, conhecida na psicanálise como a mais remota expressão de um laço afetivo com outra pessoa, também pode ser encontrada nos membros de uma massa. Segundo Freud a identificação simbólica se faz por três vias: identificação histérica, ao pai ou por um traço. Cada sujeito de um grupo se identifica com aquilo que lhe é semelhante, seja pelo líder ou pelo ideal, sendo assim, as identificações serão diferenciadas em cada indivíduo.
Hoje, há vários movimentos de grupos formados por adolescentes, uns duradouros outros não, que vão do baile funk as comunidades do orkut.
Em 2006, houve uma turnê no Brasil de um grupo de atores-cantores mexicanos, conhecidos como Rebelde (RBD), que enlouqueceu os adolescentes, uma febre nacional. Em todo lugar se ouvia músicas do grupo, apresentações de couvers, adolescentes vestidos a caráter, etc. Nos shows realizados pelo grupo, observamos, aquilo que mencionamos sobre o contágio, os adolescentes vibravam, gritavam e choravam, todos a uma só voz o nome dos ídolos. O que levou esses adolescentes a se identificarem com este grupo? O que mais chama atenção nesse movimento, é o que eles são capazes de vivenciar para chegar o mais perto possível desse ideal. Numa tarde de autógrafo, no Estado de São Paulo, em fevereiro de 2006, quarenta e duas pessoas ficaram feridas e três morreram após tumulto ocorrido no evento, realizado pelo grupo Rebelde. Não era uma massa organizada, com costumes, tradições e atribuições específicas, mas ali estavam todos, com seus sonhos e ideais. Assim como a identificação pelo grupo Rebelde, vemos vários adolescentes apaixonados pelo programa “Malhação”, que passa no canal da Rede Globo.

Quando criança, o sujeito busca identificar-se aos pais idealizados na infância, porém na fase da adolescência ocorre a perda dos pais infantis, o adolescente passa a perceber que assim como ele, seus pais não são perfeitos como imaginava. Essa é uma fase de escolhas, marcada por conflitos, mudanças corporais, lutos infantis. Muitos grupos de adolescentes se constituem por esse ponto em comum, outros apenas por diversão, a ‘balada’, como eles costumam dizer, os amigos se encontram, se divertem, falam sobre o sucesso do momento. Enfim, inúmeros são os exemplos que podemos encontrar na atualidade.
Diante disso, supomos que a formação de grupo na fase da adolescência acontece pela busca do sujeito em encontrar uma segunda identificação, uma identificação em que a causa é a relação com o outro semelhante, com o outro da mesma geração.

Bibliografia

ALBERTI, Sonia. Esse sujeito Adolescente. RJ: Jorge Zahar Editor, 2004.
FREUD, Sigmund.(1921) Psicologia de grupo e analise do ego. In. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. RJ: Imago Vol. XVIII.

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