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Tendências em Informática e Saúde

Depois da realização do X Encontro da Sociedade Brasileira de Informática e Saúde (SBIS) aqui em Florianópolis, perguntei para vários colegas psicólogos:“Que você acha de Informática e Saúde?”. Foi unânime: “Informática e Saúde? Que psicólogos têm a ver com isso?” Este artigo é uma tentativa de responder a essas perguntas, relatando o conteúdo de uma entrevista que realizei com membros da SBIS sobre Informática e Saúde, esse tema ainda tão pouco conhecido dos psicólogos.
A – Informática e Saúde

Esse termo é uma designação genérica para quaisquer serviços de saúde prestados por meios digitais, sejam esses serviços presenciais ou não, síncronos ou não, automatizados ou não. Entende-se que ela começou na década de 1960, com a telemedicina via conferências por TV, mas desde a invenção do telégrafo profissionais de saúde já prestavam serviços a distância.

A grosso modo, pode-se dividir a Informática e Saúde em duas grandes áreas: a) Assistência (prestação de serviços profissionais propriamente ditos em Clínica. NOTA: neste artigo, vou enfocar este aspecto, em termos de Consulta, Diagnóstico e Tratamento, como você poderá ler mais a frente) e b) Educação (formação a distância de profissionais, como o que já ocorre para educação a distância de residentes de Medicina em Hospitais Universitários, no Brasil). Apesar de abarcar diversas classes de profissionais, a Informática e Saúde, historicamente, tem por pioneiros os profissionais de Medicina.

O Conselho Federal dessa profissão, por exemplo, é o órgão regulador de classe que já possui essa discussão mais adiantada no Brasil, inclusive contando com uma câmara técnica dedicada para esse fim e uma legislação em estado avançado de criação.

B – TeleMedicina

um caso especial de Informática e Saúde Considero oportuno uma breve parênteses explicativo sobre a TeleMedicina, dado o pioneirismo histórico dos médicos na utilização da Informática e Saúde (estudar os erros e acertos de pioneiros é fundamental antes de se entrar em qualquer área, não?).

A TeleMedicina é um tipo especial de aplicação de Informática e Saúde, pois segundo o Conselho Federal de Medicina, pressupõe a comunicação síncrona de dois profissionais de Medicina (ou técnicos capacitados) para a realização de um serviço comum. As áreas de atuação em que a TeleMedicina mais se destaca são a Cardiologia e, em segundo lugar, a Neurologia. Em um dos últimos lugares, a Psiquiatria. Esse ranking pode ser explicado por dois fatores: a) a necessidade de objetividade de dados dos exames, para que esses possam ser formatados de maneira padronizada para transmissão (por exemplo, um exame cardiológico pode ser reduzido, sem grandes problemas, a uma planilha numérica acompanhada de breves comentários) b) a pertinência social da área, justificada por exemplo por incidência epidemológicas de transtornos (por exemplo, problemas do coração são uma das maiores causas de mortes no Brasil). Cabe aqui questionar: tratamento em saúde mental está tão atrás assim por que seus dados não são exatos, por que não tem “pertinência social”, ou haverá outros motivos?

C – Práticas Clínicas em Informática e Saúde

1. Consultas Estas vêm ocorrendo até mesmo por IA, isto é, com o uso de softwares com Inteligência Artificial. Como exemplo, há sites que fornecem questionários on line para delimitação da probabilidade do internauta ter algum transtorno ou problema de saúde. O caso mais corriqueiro é o dos sites que oferecem o teste de Índice de Massa Corporal (IMC) para determinação do risco de doenças relativas ao excesso de peso. Há casos, contudo, efetivamente anti-éticos (pra não falar em “tecnicamente impossíveis”), como a oferta de complexos diagnósticos de transtornos mentais feitos com alguns cliques de mouse em um questionário web. 2. Diagnóstico A forma mais comum de usos da Informática e Saúde para diagnósticos são os “tutoriais de exame”, softwares que fazem as vezes de questionários de anamnese indo, contudo, além. Por exemplo, podem apontar incoerências nas informações relatadas pelo paciente e até mesmo sugerir rumos possíveis de investigação para o profissiona da saúde. Num nível mais avançado, achamos o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), que contém dados clássicos de sintomas aliados dados demográficos, formatados em documentos digitais. Sua evolução, o Registro Eletrônico do Paciente (REP) é mais aprofundado, contendo por exemplo o histórico completo do paciente, além da possibilidade de anexar exames, registros audiovisuais de internações, etc.

O PEP e o REP costumam ser usados em Hospital Information Systems (HIS) de redes públicas de saúdes nos EUA e Europa. O equivalente a HIS em grandes empresas começa a aparecer. No Brasil, o exemplo mais notório é a Petrobrás, que vem investindo em aplicações de Informática e Saúde de seus colaboradores. 3. Tratamento Por motivos de fácil compreensão, é no tratamento que a Informática e Saúde está menos desenvolvida. Tirando raras e caras cirurgias a distância, efetuadas por instrumentos de controle remoto, as práticas de tratamento em Informática e Saúde geralmente se resumem a formas de incentivar a aderência a tratamentos presenciais. Por exemplo, a implantação de Call Centers em hospitais para auxiliar a prática do HomeCare por enfermeiras; e o uso de mensagens por celular para assegurar que pacientes com problemas de memorização tomarão suas medicações.

A exemplo do que estou falando, a Terapia a Distância na Psicologia, cerca de 10 anos após seu advento, ainda se encontra em status de “prática experimental”, permitida apenas em contextos de pesquisa. Ao que tudo indica, as tecnologias digitais ainda não conseguiram substituir a “carga humana” que um tratamento de saúde exige (Por exemplo, a relação de confiança entre profissional e paciente). A humanização dos serviços de Saúde parece ser uma forte tendência que impedirá que isso aconteça, de qualquer forma, mesmo que um dia exista condições tecnológicas para tal.

D – Desafios e Possibilidades

Sem dúvida, o maior desafio da Informática e Saúde é a padronização de linguagens, para fins de registro e consulta. Criar um sistema unificado de prontuários para Clínicas Psicológicas, a semelhança do GestorPSI (www.gestorpsi.com.br), ou um banco de dados de pacientes em uma rede de hospitais requer rigor em termos de nomenclatura e documentação. Sem tal disciplina, o intercâmbio de informações para fins terapêuticos será impossível. Contudo, este alcançado, a riqueza de dados possibilitaria diagnósticos e tratamentos mais eficientes. E o que é melhor: efetivamente interdisciplinares. Seria a democratização da informação e o co-exercício do Poder chegando à Saúde. Além da questão do registro, há desafios políticos, próprios de qualquer trabalho interdisciplinar e de qualquer processo de democratização de saberes e poderes.

O projeto do Ato Médico está aí para nos mostrar isso, não? Uma tendência forte na Informática e Saúde é a criação de comunidades de interesse e de prática. Os meios digitais podem facilitar, por exemplo, a comunicação de membros do Alcóolicos Anônimos, ou a aglutinação de pacientes com doenças raras em busca de trocas de informações. Eu mesmo conheço uma pessoa que só conseguiu um diagnóstico correto para um severo mal que lhe afligia depois de encontrar uma comunidade no orkut de pessoas que tinham os mesmos sintomas, e passaram pro inúmeros diagnósticos errados, como ele. Hoje ele está em tratamento, há 3 meses, no Japão.

E – Um Alerta aos Colegas Psicólogos

Colegas psicólogos clínicos, estejam espertos. Com a TV Digital, (que certamente será uma grande popularizadora de muitos serviços digitais, dentre eles diversos em E-Gov e Informática e Saúde), e a popularização da Banda Larga já nos dias de hoje, cada vez mais serviços de saúde serão demandados por meios digitais. Isso sem falar de celulares, que na Coréia já até funcionam como “Personal Trainers” para atividades físicas. E eis aqui uma dica que não se destina apenas aos Clínicos: tais tecnologias incentivam, e muito, as práticas comunitárias de saúde.

Psicólogos sociais e comunitários, também fiquem espertos em relação a Informática e Saúde! Outras classes profissionais já perceberam isso e estão adiantadas em suas decisões de como atuar. E nossa classe, como se posicionará diante de tais possibilidades?

F – Links para pesquisa

SBIS – Sociedade Brasileira de Informática e Saúde -http://www.sbis.org.br/

GestorPSI – www.gestorpsi.com.br

Conselho Brasileiro de TeleSaúde – http://www.cbtms.com.br/estatuto.asp

Projeto Cyclops – http://cyclops.telemedicina.ufsc.br/ Rede Catarinense de

Ciência e Tecnologia – http://www.rnp.br/redes/estaduais/rct.html Câmara

Técnica de Informática em Saúde e Telemedicina –

http://www.portalmedico.org.br/index.asp?opcao=camarasinternas Conselho

Brasileiro de Telemedicina e Telessáude – http://www.cbtms.com.br/

Acesso à Plataforma

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