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Um breve cenário histórico do behaviorismo metodológico

Ao levar em consideração os aspectos histórico-filosóficos que se encontrava a Psicologia em meados dos séculos XIX e XX, poderemos compreender mais eficazmente a trajetória epistemológica na qual se assentou o Behaviorismo Postulado por Watson.

A Psicologia nestes dois séculos encontrava-se possuinte de duas grandes tendências epistêmicas: uma Internalista e a outra Externalista.

A primeira dessas tendências – A Internalista – caracterizava-se por todas aquelas idéias psicológicas que eram marcadas pela influência do pensamento idealista alemão, como por exemplo, as idéias wundtianas. Para esta tendência a experiência humana pode ser estudada a partir das idéias extraídas do próprio sujeito. Já seu método e objeto de estudo centram-se respectivamente na tópica conceitual da introspecção e da consciência.

A tendência externalista era marcada por uma influência direta e indireta das correntes filosóficas objetivas como o positivismo, por exemplo.

Havia dentro do cenário científico em geral e da Psicologia daquela época um extremo descrédito e insegurança nos postulados, idealistas, da consciência e da introspecção, e por outro lado uma intensa afirmação das ciências naturais como a Fisiologia, a Química e a Física. Sobre este item assinala Baum (1999):

Alguns dos psicólogos do século XIX sentiam-se pouco à vontade com a introspecção como método científico. Ela parecia muito pouco confiável, muito vulnerável a distorções pessoais, muito subjetivas. Outras ciências utilizavam métodos objetivos que produziam medidas verificáveis e replicáveis em laboratórios do mundo inteiro. (p.24).

Havia, portanto uma forte influência do positivismo, principalmente o de Auguste Comte (1798-1857), filósofo Francês do século XIX, recriminou severamente as correntes mentalistas de sua época, inclusive algumas da própria Psicologia, além de ter primado metodologicamente pela experimentação, principalmente pela descrição, o controle e a predição dos fenômenos estudados.

As idéias de Augusto Comte acabaram inebrinando as correntes externalista da Psicologia no século XX. Os conceitos de consciência e introspecção eram combatidos por psicólogos e positivistas por duas razões:

Primeiro porque ambos os conceitos não teriam sido postulados dentro dos preceitos teóricos da Psicologia e das Ciências Naturais, mas sim fora delas, ou seja, nas ciências humanas, mais especificamente na Filosofia.

E segundo, porque ambas careciam de uma definição conceitual mais clara e que, seguisse um princípio tão urgente no cenário científico da época: o da universalidade científica.

É nesta perspectiva e nesse cenário de inaceitabilidade do intimismo (Mentalismo) na Psicologia e de influência das idéias de teóricos como Augusto Comte, Jeoges Cabanis, Jacques Loeb, Max Meyer, Ernes Mach entre outros que viria a preparar o chão aonde se fixaria mais tarde a bandeira do Behaviorismo Watsoniano, ou seja, foram com as influências diretas e indiretas destes autores objetivistas que criou-se, dentro da Psicologia, no final do século XIX um Zeigeist, onde o behaviorismo viria a ser o seu principal fruto. A Watson coube apenas o papel de condensar todas estas influências no sentido de colocar a Psicologia behaviorista no ramo das ciências naturais, e como nos afirma Carrara (1992): “Watson teria aparecido como a pessoa capaz de reunir de forma dinâmica – conquanto conviesse à objetividade pretendida no behaviorismo – as influências até então dispersas”(P.109-115). Ele teria, então, representado o anseio de uma geração de psicólogos por mudanças teóricas e metodológicas na Psicologia.

Ainda no intuito de esclarecer o contexto entre o qual surgiu o manifesto behaviorista de 1913, devem ser lembrados nomes como os de G. H. Mead e J. R. Kantor, considerados os mais testemunhos da passagem do funcionalismo ao behaviorismo. Nomeados interbehavioristas Mead e Kantor chamaram a atenção muito antes de 1913 para o fato de se adotar definitivamente, na Psicologia, a objetividade científica. E foi dentro deste estofo objetivista que se sedimentaria as principais idéias que iriam ser legitimadas definitivamente no dado manifesto de 1913.

Contudo foi neste cenário unânime de rejeição ao mentalismo e da busca de um purismo metodológico que já em 1903, Watson viria a versar suas concepções e formulações sobre o comportamento, no primeiro momento sobre a observação animal, pois fora sem sombra de dúvidas, o fascínio de Watson pela experimentação em psicologia animal o agente causal mais importante para o surgimento do behaviorismo metodológico, expresso e legitimado simbolicamente no manifesto de 1913. Já em 1914, Watson escreveria sobre o behaviorismo como campo científico e metodologicamente definido, devendo ser seguido pela comunidade científica de sua época como uma nova escola psicológica.

E por fim, a produção científica de Watson que ajudaria firmar o behaviorismo como esta nova escola da psicologia, foi: Psychology From The Standpoint Of A Behaviorism (1919), Behaviorism (1925), The Way Of Behaviorism (1928), Psychological Care Of The In Infant And Child (1928). Foi por esta razão, ou seja, por estas publicações e sob estas condições elencadas acima que J. B. Watson (1978-1958) acabaria sendo considerado unanimemente como o fundador do behaviorismo, embora muitos dos preceitos teórico-conceitual (idéias) desta nova escola estivessem ecoados antes mesmo de seu manifesto.

Welyton Paraíba da Silva Sousa

Referências Bibliográficas

BAUM, W.M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: Artemed, 1999.

CARRARA, K. A questão do controle na abordagem comportamental. Psicologia: Argumentos, v.10, p.109-115, 1992.

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