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Porrada, Porrada!

Um belo domingo de sol no Mineirão. Este foi o palco para o espetáculo que movimentou a capital mineira em um domingo, 13/03/2005. Em campo as equipes do América e do Atlético travam um duelo com objetivos diferentes. O América tentava espantar o fantasma do rebaixamento, enquanto que o Atlético buscava garantir a classificação para as finais do campeonato mineiro. Vou logo adiantando o resultado (América 1 x 0 Atlético), pois, desta vez, o jogo é apenas o pano de fundo para o que será discutido nesta coluna.
O América tentava espantar o fantasma do rebaixamento, enquanto que o Atlético buscava garantir a classificação para as finais do campeonato mineiro. Vou logo adiantando o resultado (América 1 x 0 Atlético), pois, desta vez, o jogo é apenas o pano de fundo para o que será discutido nesta coluna. Foi um clássico bastante disputado apesar do resultado magro.

Várias bolas na trave acrescentaram emoção à disputa, e três expulsões apimentaram o jogo. Aos 42 minutos do segundo tempo um torcedor do Atlético invade o campo e tenta agredir o árbitro da partida. Tenta…ao se aproximar do árbitro este já está com a perna levantada para acertá-lo primeiro. O resultado é uma rara pancadaria envolvendo o torcedor e o árbitro. Ao invés de tentar se desvencilhar da confusão o árbitro partiu para cima do torcedor e acertou-lhe uma seqüência de chutes e socos. A seguir a policia militar tenta intervir detendo o torcedor. Como “porrada pouca é bobagem” o goleiro Danrlei entra na confusão (em defesa do torcedor, alega) e também acaba agredido. Não parou por aí. Sob as arquibancadas do Mineirão, após o fim do jogo, o árbitro está saindo escoltado pelos policiais militares quando volta a ser hostilizado por um grupo de torcedores, dentre eles um policial civil que chega a sacar sua arma.

O conflito entre os militares e o policial civil acaba com este último sendo desarmado. Que seqüência de fatos, não? Entender estes fatos sem levar o contexto social no qual ocorreram é bastante perigoso do ponto de vista de uma análise que vise explicar o ocorrido. Devemos somar a estes fatos a pressão que direção, comissão técnica e jogadores tem exercido sobre a arbitragem mineira. Além disso, a mídia também tem contribuído para que a imagem do árbitro seja associada com a do vilão do espetáculo. De um tempo para cá os veículos de comunicação destinados aos fatos esportivos tem buscado colocar em questão a qualidade da arbitragem mineira. Soma-se a isto o fato de que os clubes de futebol, em especial o Atlético, tem se manifestado contrariamente à escalação de árbitros mineiros em seus jogos. Não estaria o nosso torcedor invasor tentando resolver a situação a seu modo? Afinal de contas “todos” estão dizendo que a culpa é deles, dos árbitros! Realmente devemos questionar e contribuir para a formação de árbitros. Suas funções são dificílimas de serem cumpridas. Deveriam, então, ter um preparo excepcional. Mas não podemos simplesmente jogar-lhes a responsabilidade por tudo isso. Será que as cenas de violência protagonizadas no Mineirão são muito diferentes do que ocorre em cada esquina do nosso Brasil? Não seria diferente apenas o fato de que diversas câmeras e televisores estavam acompanhando as cenas, e por isso chamou tanta atenção?

Me parece que “resolver as coisas na porrada” é o modo eleito para lidar com os nossos conflitos pessoais e sociais. Porrada em casa, porrada no trabalho, porrada na escola, porrada no esporte… Cabe pensar sobre o papel social do esporte e dos seus protagonistas. Quando os personagens principais do espetáculo esportivo sentem-se no direito de distribuir pancadas, será que estão pensando nos reflexos destas cenas no cotidiano de cada um de nós? Estes personagens podem ser encarados como heróis, principalmente para crianças que estão assistindo aos jogos. Se é este o modelo que queremos passar para as futuras gerações então estamos no caminho certo. Se o esporte é apenas o reflexo de nossa sociedade então é plenamente compreensível que ocorra nos campos, quadras e ginásios o mesmo que acontece no nosso dia a dia, comum. A banalização da violência não é um tema novo. Talvez minhas aspirações românticas e idealistas também não o sejam. Gostaria de poder continuar a ver o esporte como uma possibilidade de algo novo, de novas e melhores formas de resolvermos nossos conflitos. Um ensaio para uma sociedade que busca uma melhor condição de vida para os seus cidadãos. Vai ver que estou errado e deveria entrar na porrada também. Vai encarar?

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