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“Criança problemática” vira fantasma na hora de adotar

A idéia de que a criança adotada tem mais chance de se tornar problemática é um fantasma que assombra muitos casais. Mas uma pesquisa recém-finalizada com 200 pais adotivos de todo o país mostra que a realidade não é bem assim.
A idéia de que a criança adotada tem mais chance de se tornar problemática é um fantasma que assombra muitos casais. Mas uma pesquisa recém-finalizada com 200 pais adotivos de todo o país mostra que a realidade não é bem assim.
Metade do grupo era formado por pessoas que só tinham filhos adotivos, e a outra metade, por pais de filhos adotivos e biológicos. Entre esses últimos, 11% consideraram seus filhos adotivos mais problemáticos do que os biológicos.

"Diante do estigma de que a adoção sempre dá problema, o fato de 89% dos pais não considerarem os filhos adotivos mais difíceis é um dado muito expressivo", afirma a autora do estudo, a psicóloga Suzana Schettini. Para 52% dos pais, as dificuldades foram iguais; 32% disseram que os problemas foram diferentes para cada filho; para 5%, os biológicos foram mais difíceis.

"Muitos pais ficam com pena de o filho adotivo já ter sofrido rejeição e acabam superprotegendo, o que pode criar um pequeno tirano. Mas, quando a educação é equilibrada, isso não acontece", diz Schettini.

A pesquisa também mostrou que a resistência de um ou mais membros da família à adoção contribui para tornar os filhos mais problemáticos. Cerca de 40% dos pais adotivos enfrentaram rejeição de parentes –avós, irmãos, filhos e até de um dos membros do casal.

"Vimos que 17% dos companheiros não queriam adotar, mas se submeteram ao desejo da outra pessoa. Isso é ruim, pois é muito importante que os dois queiram. A parte do casal que não estava segura terá dificuldade de assumir o papel de pai ou mãe. Na primeira briga, jogará isso na cara do outro", diz a psicóloga.

Outra crença popular que a pesquisa abordou foi a idéia de que os meninos adotados são mais problemáticos. Não houve nenhuma associação entre o gênero da criança e problemas de comportamento.

O medo de adotar uma criança mais velha também é uma constante entre os pais. Segundo Maria Antonieta Motta, do Gaasp, essa é uma das angústias trazidas por eles às reuniões. "Eles têm medo das marcas que a criança já tem, do sofrimento que ela já viveu. Digo que as crianças precisam ter uma experiência diferente para florescer de outra forma. A capacidade de resistir a situações adversas existe e só precisa ter a oportunidade de se manifestar. Pode ser que ela precise de ajuda nesse processo, mas não necessariamente", diz.

A psicóloga Marlizete Maldonado Vargas, autora do livro "Adoção Tardia: da Família Sonhada à Família Possível" (ed. Casa do Psicólogo), afirma que casais que já têm filhos são mais flexíveis em relação à idade. "A maioria das pessoas que se inscrevem para a adoção não pode ter filhos. Nessas situações, muitas preferem bebês, até para vivenciar a maternidade desde o início."

Ela confirma que muitos pais demonstram medo de que a criança tenha problemas de adaptação por já ter vivido muito tempo no abrigo. "Não podemos dizer que não haja problemas. De fato, existe uma história anterior, que marcou a criança. Mas o que vemos é que, quando elas desejam ser adotadas, o progresso ocorre rapidamente."

Fonte: Folha Online

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