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Drogas motivam internações psiquiátricas

O uso abusivo dessas substâncias é hoje questão de saúde pública no País, com as medidas para seu enfrentamento integrando a Política de Saúde Mental. Além dos danos físicos e psicológicos para o usuário e seus familiares, as drogas, sejam as lícitas – como o álcool e tabaco -, ou as ilícitas -como a maconha e a cocaína, dentre outras, estão intimamente ligadas à violência.
O uso abusivo dessas substâncias é hoje questão de saúde pública no País, com as medidas para seu enfrentamento integrando a Política de Saúde Mental. Além dos danos físicos e psicológicos para o usuário e seus familiares, as drogas, sejam as lícitas – como o álcool e tabaco -, ou as ilícitas -como a maconha e a cocaína, dentre outras, estão intimamente ligadas à violência.
Elas estão presentes nas vítimas e autores de acidentes de trânsito, nas agressões por armas brancas ou revólver, e no tráfico de entorpecentes, base do crime organizado no País. Em 2006 por exemplo, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde – SMS, em 51,1% dos acidentes ocorridos com moto, cujas pessoas foram atendidas no Instituto Dr. José Frota, o condutor estava alcoolizado. Já nos atendimentos às agressões por arma, 50% dos envolvidos haviam bebido.

Também em 2006, levantamento da SMS sobre os tipos de drogas mais consumidas pelos 2.161 usuários atendidos nos seis Centros de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas – CAPSad, trouxe o álcool em primeiro lugar, 31,47%, o tabaco em segundo, 12,82%, e o crack em terceiro,11,80%. Esse último, aliás, uma droga derivada da cocaína, conforme dados da Delegacia de Narcóticos – Denarc, solidificou-se agora em 2007 como o principal entorpecente usado em Fortaleza.

O pior de todas essas estatísticas, entretanto, é que a população parece só vê-las em números, não tendo ainda conseguido enxergar os problemas derivados delas. No Ceará, inclusive, quando o assunto é saúde mental, os cidadãos assumem uma atitude paradoxal. A sociedade nesta região ainda não compreendeu a razão da mudança no tratamento dos portadores desses transtornos. As pessoas se assustam ao se deparar, por exemplo, com um esquizofrênico na rua, vendo-o como uma ameaça à segurança.

Diferente do que ocorre quando o encontro é com um usuário de álcool ou de outras drogas. Como o consumo dessas substâncias permeia as relações sociais, ao se deparar com um usuário – na rua, nos bares, nas esquinas ou em quaisquer outros lugares – há sempre dois caminhos a seguir: ou o momento é considerado a melhor hora para colocar o papo em dia ou fecha-se os olhos para os dependentes da família e amigos mais chegados. Atitude que acaba dificultando ainda mais o tratamento dos dependentes. "Cuidar de pessoas dependentes em álcool e droga é problema sério, com resultados positivos muito difíceis de serem conseguidos", diz o Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Antônio Mourão Cavalcante. O pior é que o uso dessas substâncias pode desenvolver transtornos mentais graves. Estimativas do Ministério da Saúde indicam que mais de 6% da população desenvolve esses distúrbios devido ao uso de álcool e de outras drogas.

Transtornos
Conforme a Psiquiatra e Psicóloga do CAPSad da Regional I, Karina Saboya, as drogas podem desencadear sintomas de transtornos de vários tipos, como pânico, paranóia e depressão. O crack, por exemplo, causa delírios paranóicos e de perseguição que provocam reações violentas. A "fissura" – desejo incontrolável de usar a droga – também gera atitudes violentas. "Estes transtornos devido ao uso da droga podem permanecer após a suspensão do uso da substância", alerta a psiquiatra.

AMPLIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA – Governo investe em mais CAPSad

O atraso na implementação da Reforma Psiquiátrica em Fortaleza – de 1998 a 2004 existiam apenas três CAPS Geral na capital – até o momento, vem provocando um efeito dominó na adoção das medidas pela Política de Saúde Mental do Brasil. Por isso mesmo só em 2005, os CAPS de Álcool e Drogas começaram a ser construídos. Existem atualmente seis, um por Regional.

Construir os CAPSad, diz Ranny Félix, da Coordenação Colegiada de Assistência Mental de Fortaleza, foi uma das primeiras medidas tomadas devido à situação crítica em que o setor se encontrava. Apesar da relevância do problema, a área estava completamente descoberta. Junto à construção dos CAPS, a Prefeitura iniciou a implantação da Política de Redução de Danos para formar uma rede de atenção aos usuários de drogas.

As iniciativas trouxeram resultados quase imediatos. A partir da Política de Redução, descobriu-se que cerca de 26% das internações psiquiátricas em Fortaleza são decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas. A média estadual fica em torno de 30%. Depois, na comparação entre os anos de 2005 e 2006, percebeu-se uma redução de 34% das internações psiquiátricas de pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool e outras drogas.

Durante o ano de 2006, continua Ranny, 2.161 usuários de álcool e outras drogas foram atendidos nos CAPSad de Fortaleza, sendo, em sua maioria, dependentes de álcool. Eles continuam no serviço, participando de grupos terapêuticos, ações socioterápicas, realizando passeios coletivos, oficinas de artesanato, dança, cursos profissionalizantes e grupos de socioeconomia solidária.

O esforço valeu à capital cearense fechar 2006 em grande estilo. Em dezembro de 2006, a inauguração do CAPSad da Regional VI – Casa da Liberdade -, teve a presença do Coordenador Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Godinho Delgado. A presença do autor da Lei da Reforma Psiquiátrica brasileira foi uma das formas encontradas pelo Ministério para comemorar a obtenção da meta traçada para 2006: terminar o ano com 1.000 unidades de CAPS no País.

Agora para 2007, acrescenta Ranny, a intenção é continuar a tendência de queda nas internações, estando prevista a inauguração de outros novos serviços. Até o fim do ano, estarão funcionando o Serviço Hospitalar de Referência para Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras Drogas – SHR-ad, os Centros de Convivência e Cultura e os Albergues Terapêuticos.

O SHR-ad será o responsável pelo Programa de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. O Programa vai atender os casos de urgência e emergência vindos dos CAPSad e da rede básica de cuidados em saúde – Programa Saúde da Família – PSF, Unidades Básicas de Saúde e dos serviços ambulatoriais.

Paralelo a isso, haverá os Centros de Convivência e Cultura, onde a arte será usada para a socialização e como uma fonte para a geração de renda. Apesar das oficinas terem como objetivo despertar o processo criativo, os produtos poderão ser expostos, trocados ou comercializados. Já os Albergues funcionarão para tratamento de dependência química. Os usuários ficarão até 30 dias, com o prazo podendo se estender por mais 15 dias. Reabilitados, eles voltam a ser atendidos nos CAPSad e pelas equipes do PSF.

FAMÍLIAS IMOBILIZADAS – Saída nas mãos do dependente
"Há horas em que pedimos a Deus para tirar a dependência química dele. Depois, cansados, rogamos para Deus lhe tirar logo a vida. A gente se arrepende, pede perdão pelo mau pensamento e volta às orações para ele sair da dependência química. É o que podemos fazer, além de brigar com ele e buscar tratamento. Com a doença dele, a vida de toda família mudou. Não há mais sono tranqüilo, nem tempo bom. A gente fica só esperando quando ele vai aparecer, se vai aparecer, se vai vender alguma coisa de casa, se vai trazer de volta, se consegue voltar".

O depoimento é da mãe de Josanias (nome fictício), 33 anos, que há mais de 15 usa drogas. No início, um "cigarrinho de maconha", hoje, crack. A família foi unida até descobrir o problema. Josanias não tem ficha policial, a violência que pratica é a pressão psicológica com os familiares. "É como se estivéssemos numa montanha russa a toda velocidade, passando por altos e baixos sem aviso prévio e sem tempo exato para parar", diz a mãe.
Ela afirma que só quando alguém próximo se torna dependente é que a pessoa lamenta a naturalidade com a qual sempre tratou o uso de álcool e outras drogas. O pior de tudo é que sair do problema está nas mãos do dependente. Nos programas de recuperação, como os do CAPS e o Desafio Jovem, os dependentes precisam querer ser ajudados.

AUMENTO NOS INTERNAMENTOS – Perfil dos pacientes mudou
Se o uso abusivo do álcool e outras drogas preocupa devido às internações psiquiátricas e aos transtornos mentais provocados por este uso. Hoje há, ainda, uma variável no setor bem mais impactante na sociedade: o novo perfil do dependente químico. Há 10 anos, quando a incidência dos usuários dessas substâncias começou a se acentuar nas internações psiquiátricas, as pessoas que chegavam aos hospitais eram alcoolistas, com faixa etária acima de 50 anos. Nos dois últimos anos, entretanto, os jovens, entre 16 e 20 anos, dependentes em crack, são maioria.

Pelo menos é isso o que ocorre na Clínica de Saúde Mental Dr. Suliano, no bairro do Jóquei Clube, onde 30% dos 103 leitos são ocupados por dependentes químicos. Conforme o Diretor Administrativo da Clínica, Maurício Guimarães, mais de 50% dos internos têm até 20 anos. Uma situação muito preocupante, no seu entender, devido à rapidez com que o crack causa dependência o usuário e os efeitos provocados no organismo. Com menos de um mês de uso, a pessoa pode perder de oito a dez quilos. O uso prolongado provoca cansaço intenso, forte depressão e desinteresse sexual. A pessoa também se torna mais agressiva.

Guimarães lembra que os usuários de crack começaram a aparecer há cerca de dois anos, mas já há mais de uma década os portadores de transtornos mentais graves vêm cedendo espaço para a internação dos usuários de álcool e outras drogas. Pessoas que acabam ocupando as vagas dos pacientes com transtornos psíquicos graves e que precisam de um atendimento psiquiátrico mais severo, enquanto elas se internam mais para desintoxicar. "Isso poderia ser resolvido em outros locais que não fosse os hospitais psiquiátricos", opina.

Talvez por isso, acredita, é que cerca de 5% dos internos por dependência vêem no hospital uma forma de se esconder dos Policiais, de um ajuste de contas com as gangues, ou da Justiça. "Eles resistem à alta. Querem passar o máximo de tempo possível". Esses pacientes, afirma Guimarães, tentam criar uma liderança entre os demais hospitalizados para que "trabalhem" para eles.

É por situações desse tipo, acrescenta a Psiquiatra Karina Saboya, que é necessário o engajamento de vários setores da sociedade na luta para solucionar o problema do uso abusivo de álcool e outras drogas. Os CAPSad, diz ela, são o ponto de referência de uma grande rede que precisa ser formada para o enfrentamento da dependência dessas substâncias. Um problema que tem relação direta com a violência e, por isso, envolve toda a sociedade. "Os empresários, as instituições, escolas, Organizações Não Governamentais, devem se juntar neste desafio", diz.

Fonte: Site Antidrogas

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