RedePsi - Psicologia

Artigos

Palavra-Psi: Textos e artigos sobre Psicologia

A Psicoterapia e o Dinheiro:

Qual A Relação?
                                          por Daniel Gulassa

(publicado na Revista PSYU, no. 16 – set. 2004)

O pagamento: Questões Financeiras para o Psicoterapeuta

O aspecto financeiro no início da carreira de um psicólogo costuma ser desequilibrado. A começar pelo fato de que um psicólogo que quer se tornar um bom profissional autônomo tem que investir em supervisão, terapia, manutenção de consultório, conselho de psicologia, grupo de estudos, cursos, especialização… Sindicato?

E quanto esse profissional autônomo em início de carreira recebe? Em geral começa trabalhando de graça; um profissional pago precisa de experiência, os clientes pagantes são mais exigentes, os contatos indicação precisam ser bons – é a para conquista de um espaço, ou melhor, de uma rede.

Mesmo acumulando alguns anos de experiência com trabalho voluntário, o profissional iniciante percebe que quando a relação envolve dinheiro faz um mundo de diferença. O psicoterapeuta novato pode perder um cliente pagante ao cometer um pequeno deslize no seu manejo com o pagamento; ou um desconto muito acentuado pode fazer o cliente perder o respeito pelo trabalho; um trabalho voluntário pode gerar pensamentos tais como: “Ele foi bondoso em me atender gratuitamente, não gostaria de incomodá-lo com a questão Y”. Com seu característico peso quando inserido em praticamente qualquer relação humana, o dinheiro também é determinante para a sustentabilidade de qualquer profissão – e em última instância dividirá o profissional do não-profissional. Conversei sobre esse assunto com diversas pessoas da área, e há uma insegurança quase generalizada nesse manejo, principalmente entre os recém-formados.

O pagamento é um aspecto fundamental do contrato – e devemos ter clareza deste para transmiti-la ao cliente e/ou seu eventual financiador. Note que há duas questões aqui que envolvem o dinheiro: uma delas refere-se a lograr equilibrar nossas contas financeiras, em geral uma tarefa árdua para o profissional autônomo iniciante que quer continuar investindo na profissão e precisando de alguma receita para compensar as despesas que isso implica. A outra questão se refere a necessidade de compreensão do significado do dinheiro no nosso mundo atual, porque isso permeia o trabalho do psicólogo em diversos níveis.

Como avaliar o peso da influência do dinheiro num atendimento?Realizando trabalho voluntário em instituição, já obtive inúmeras reações de pacientes que quando sabiam que o trabalho era voluntário intensificaram um cuidado com a minha saúde, me protegendo, querendo cuidar de mim.

Já num atendimento bem pago, pode-se perder muito dessa “humanidade” do trabalho voluntário, chegando a uma tendência de relação simplificada de forma de consumo na prestação do serviço.

Cada caso é um caso; certa vez uma paciente idosa, ao ver os dígitos do pagamento de um mês de atendimento, quis diminuir a freqüência das consultas como tentativa de amenizar o “fardo” que sentia para com sua filha, que pagava.E o equilíbrio financeiro?

Quantas vezes não percebemos ou vivemos a imagem da “encruzilhada profissional” de se optar entre o ganhar muito e não fazer o que gosta; ou ficar satisfeito com o trabalho, mas não se sentir recompensado com o pagamento?

Há ainda a situação do “ter dinheiro, mas não tertempo” ou vice-versa (quando não ficamos no “não ter dinheiro nem tempo”). Quantos se sentem satisfeitos no “equilíbrio” entre a realização profissional e a realização financeira? O pagamento sustenta a relação profissional, transforma o paciente em cliente, e em geral logo cedo (na vida de profissional autônomo) nos depara com aquela questão que tentamos nos esquivar de todo o jeito, mas uma hora temos de encarar: Quanto vale o meu trabalho? (Para aprimorar esse tipo de questionamento na busca de um “preço justo e viável”, sugiro especial atenção e discriminação dos termos “pagamento” e “dinheiro”; “preço” e “valor”.)

Comento aspectos deste vasto assunto – e baseando-me apenas num conhecimento vivencial e em discussões com colegas – porque percebo que estas são questões coletivas que raramente são discutidas formalmente ou aprofundadas: um autêntico tabu. Creio que essas discussões devem ser fomentadas, principalmente no ambiente acadêmico, em que elas inexistem. Dizem que o dinheiro move o mundo, mas o significado disso ainda jaz quase intocado nas sombras.

(Pelo e-mail [email protected] adquira informações sobre o curso: “Lidando com

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter