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Inteliquest – Caso de aplicação da Psicologia a Tecnologias Digitais

Este texto é a adaptação de um artigo científico de minha co-autoria sobre a aplicação da Psicologia em avaliação da Educação a Distância, que será apresentado na IADIS International Conference http://www.internet-conf.org/ O conteúdo gira em torno da instrução programada em objetos de aprendizagem.
Psicólogo projetando tecnologias

De janeiro a maio de 2007 tive a oportunidade de integrar uma equipe de pesquisa tecnológica da UFSC empenhada na criação de “objetos de aprendizagem”, ou OAs, (ver item 1 da Bibliografia). Tratou-se do LABCAL, Laboratório de Cálculo do Centro de Física e Matemática. Como psicólogo, meu objetivo era criar formas de avaliar e orientar os alunos remotamente. Chegamos ao conceito de que OAs poderiam ser usados, dentro de um programa pedagógico coerente, para ensinar conceitos, treinar habilidades e mapear os estados de competência dos alunos em diversos temas e apontar estratégias para o incremento das mesmas.


O Conceito do Inteliquest

Para tal foi desenvolvido, com meu Design e implementação pelos programadores da equipe, uma classe de aplicativos que funciona como um questionário capaz de interpretar o conteúdo das respostas dadas às suas questões, bem como a maneira como as respostas foram emitidas (tempo gasto, taxa de acertos, indicadores de hesitação em responder, etc). Por essas propriedades de avaliar e interpretar, essa classe de aplicativo foi chamada de Inteliquest, i.e., Questionário Inteligente. O Inteliquest funciona a partir dos princípios da instrução programada (ver item 2 da Bibliografia).

A experiência de uso de um Inteliquest não difere muito da de responder a um questionário comum, com a única e grande diferença que a respostas e o modus operandi do respondente será registrado, interpretado e comentado. P.e., os erros cometidos ao responder ao questionário serão computados e um algoritmo especialmente desenvolvido emitirá como output um guia de instruções sobre quais conteúdos precisam ter o estudo reforçado.

Portanto, o Inteliquest pode servir para duas funções: 1) avaliar o nível atual de competência em um determinado tema e com isso programar estudos de reforço em áreas falhas daquela competência e 2) exercitar seu respondente no tema em questão, por treino de habilidades.

A seguir, demonstro duas unidades de Inteliquest desenvolvidos sobre Matemática para o LABCAL. Uma para cada função pré-citada.

Inteliquest “O Conceito de Polígono”

Tipo 1: avaliar conhecimento presente e identificar falhas

Tem por objetivo que o respondente construa o conceito de polígono através das respostas certas. O aluno começa com noções elementares de segmento, ângulo e número de lados. A medida que for acertando essas questões, as noções elementares começam a se conectar. No final, ele deve alcançar o conceito matemático de que um polígono é uma figura de “n” lados formado por segmentos de reta que se unem formando ângulos, suja soma interna depende de “n” e pode ser calculada pela fórmula… Esse Inteliquest visa também identificar alunos que demonstrem deficiência em conteúdos fundamentais de Geometria, provindas do Ensino Médio.

Inteliquest “Transtorno da Matemática”

Tipo 2: treinar habilidades.

A unidade “Transtorno da Matemática” faz parte de uma série dedicada à formação didática do docente. Objetiva apresentar possíveis transtornos clínicos relacionados a problemas de aprendizagem dos alunos, e treinar o professor em um nível elementar de diagnóstico. O Inteliquest sobre “Transtorno da Matemática” (segundo o DSM-IV) objetiva a memorização dos sintomas dessa dificuldade de aprendizagem, bem como o raciocínio dedutivo apropriado para formação de uma hipótese de diagnóstico. Essa e outras unidades de sua série objetivam treinar o professor em um nível básico de diagnóstico de dificuldades de aprendizagem.

Algumas Considerações Pedagógicas

Vale à pena comentar que um OA como o Inteliquest se ajusta perfeitamente a um saber objetivo e que preza pela precisão e rapidez de resolução como a Matemática, mas provavelmente não seria um formato apropriado para outros tipos de saberes, como Artes, Filosofia, etc.

Outro ponto importante a ser ressaltado: um programa de educação à distância com Inteliquests é essencialmente complementar a outras didáticas, uma vez que tal aplicativo tem por funções apenas avaliar e exercitar, mas não ensina propriamente. Isto é, para estudantes em um nível muito elementar de estudo, o Inteliquest não é uma tática apropriada.

Por fim, as experiências que fizemos com alunos, com o intuito de aprimorar a interface, conteúdo e lógica de operação dos Inteliquests, atestaram que a receptividade foi alta. Os questionários inteligentes tiveram êxito não apenas em avaliar e treinar, mas também em entusiasmar de forma até mesmo lúdica os estudantes.

Posso concluir dizendo que sem dúvida há muitos instrumentos informatizados ainda a ser inventados por psicólogos.


Bibliografia


1. Objetos de Aprendizagem

Um OA, segundo Ramos et al (2005), é qualquer aplicativo que objetiva o ensino de algum tema específico e que apresenta como propriedades:

– ser reutilizável em diferente contextos;

– ser auto-contido, isto é, proporcionar uma experiência de início, meio e fim;

– apresentar possibilidade de conexões temáticas entre si. Isto é, OAs se conectam com outros OAs, gerando nesse encadeamento novas experiências para o usuário.

Alguns exemplos práticos de uso de objetos de aprendizagem: RIVED (Rede Internacional Virtual de Educação); LABVirtus, da UNICAMP. A Microsoft também aposta no uso de OAs no ensino (http://www.microsoft.com/brasil/educacao/parceiro/los_final.mspx).

RAMOS, Andréia Ferreira; DOMENICO, Luis Carlos De; TORRES, Patrícia Lupion; MATOS, Elizete Lúcia Moreira. Uma Experiência com Objetos de Aprendizagem no Ensino de Matemática. Curitiba: PUC-PR, abril 2005.

2. Instrução Programada

A Instrução Programada é uma estratégia de ensino originada da Análise Experimental do Comportamento, de B.F. Skinner. Seu método consiste em

– partir de um programa de ensino, isto é, um mapeamento global do comportamento que deve ser aprendido

– separar o comportamento em partes, níveis e camadas que se conectam num crescendo de complexidade

– incentivar o aluno com recompensas ao longo de seu progresso

– deixar que o aluno aprenda em seu ritmo, modelando suas próprias associações rumo ao comportamento-alvo.

– Avaliar com objetividade a eficácia e eficiência de aprendizagem, por meio de indicadores como tempo de resposta, razão entre êxitos e falhas, ritmo de progresso, etc.

(Lindsley, 1990)

LINDSEY, O. R. (1990b). Precision teaching: By teachers for children. Teaching Exceptional Children, 22(3), 10-1

Agradecimento especial

Gostaria de começar este texto agradecendo a meu ex-chefe Alexandre Barcellos e toda a equipe do LABCAL pelos meses de entusiasmado trabalho. =)

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