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Discutindo psicanálise…

Antes de tudo, Denise Deschamps, você faz-me lembrar um amigo escritor que me dizia: "Escrever é fácil ou impossível." E com que fluidez você coloca as palavras, até as vírgulas. Perguntaram ao Tom por que ele tocava tão poucas notas ao piano em seus arranjos.

Antes de sua resposta alguém gritou:- "É que ele só toca as boas." Tom sorriu. E é esta a sua maneira enxuta de escrever. Duas lembranças que me são amorosas. Freud escreveu que "o amor é quem cura." Penso ser pouco provável que algum usuário desenvolva um verdadeiro amor com a telinha do computador. Sua amiga foi bastante espirituosa no comentário do virtual. Entretanto, penso eu, nada mais presente, real e ameaçador do que ter alguém às suas costas. Uma cliente costumava pegar um espelho pequeno de bolsa para, de vez em quando, usá-lo como retrovisor.

Nesses momentos eu escondia meu punhal. Não creio que informações sobre análise em geral, facilitem, ou mesmo, dificultem o andamento de uma análise. O indivíduo bem informado nesta área, profissional ou amador, poderá, sem dúvida, ajudar aos outros, mas, acredito, não a si mesmo. Embora a interpretação possa estar alicerçada numa base teórica, não é teoria que passamos adiante, nem mesmo o discurso da interpretação. Muitas vezes o analisando entende outra coisa do que falamos, e mesmo assim, tem um insight. Por isso, admito que nós trabalhemos em um quatérnio: consciente de um – consciente do outro, e inconsciente de um – inconsciente do outro, ambos com duas mãos. E, mais que isso, estamos mergulhados em um Campo Transferencial, onde emoções legítimas vêm à tona, catalisadas ou não pela interpretação. Fiz análise, uns tempos, com Medard Boss, que naquela época fazia uma psicanálise com postura existencial. Contou-me de um paciente seu internado em pleno surto catatônico.

O paciente ficava o dia inteiro sentado olhando para um muro. Só saía para comer e dormir. Boss tentou comunicar-se com ele inúmeras vezes, em vão. Certa manhã, Boss pegou uma cadeira, sentou-se ao lado do paciente e, também, ficou olhando para o mesmo muro. Teve uma idéia:- Muro, por favor, pergunte a este rapaz como ele vai. E o paciente respondeu. São misteriosos os caminhos da transferência e sua comunicação. Em todo caso, o muro e Boss estavam presentes. Tenho participado de um projeto na Universidade sobre EaD. Para matérias exatas, a meu ver, funciona. Para Humanidades, duvido, pois não basta a informação, faz-se necessária a presença do professor, que, mesmo que não informe muito, deve criar o clima propício para que os alunos se sintam impulsionados, de dentro para fora, a se desenvolver nas disciplinas.

Lendo autores que foram analisados por Freud, e conversando com Boss, que também foi seu cliente, fiquei com a imagem de alguém com uma personalidade magnetizante, atendendo e, ao mesmo tempo, afagando seu Chow Chow. Que cena delicada devia ser. Freud não chegou a ser didata de Boss, mas entendo que uma análise didática suficientemente boa, tem de ser exatamente como uma análise comum de boa qualidade. Senão, não será análise e nem didática. E, não estou me referindo à ortodoxia, qual colegas que pretendem ser mais freudianos que o próprio. Veja Denise, na sessão do final de semana, Freud pegava um punhado de notas de dinheiro, metia-as no bolso de Boss e lhe dizia:- "Hoje você vai ter um jantar melhor." Nada disso é virtual. E é nessa presença forte, segura e amorosa que eu acredito.

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