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Pequenas digressões Psicopatológicas (O fetiche por pés)

O fetichista:

“Se posso ver os pés já fico satisfeito em meu voyeurismo. Basta ver os pés. Não preciso me matar para ver a mulher nua. Posso vê-las nuas diariamente. Assim a vida fica indecente com muito mais facilidade. E uma indecência que posso guardar somente comigo, em qualquer lugar: no ônibus, no trabalho ou em uma reunião repleta de formalidades e comedimentos. O sonho de uma visão de raios X, para poder ver a nudez de quem quer que seja, não é para mim pungente. Olho para uma mulher, vejo seus pés, e sinto a sua nudez em plenitude. Principalmente se seus pés me agradam. Pé é uma coisa obscena, senão eu nem tinha tesão por pé. Mas é mais obsceno quando o pé está esticado, seja em um sapato de salto, ou mesmo quando a mulher estica o pé, alongando a perna. Como se os dedinhos quisessem alcançar algo que está além. E além fica o meu desejo a partir daí.”
Freud, em seus “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), diz, em nota acrescentada em 1915, que “o pé substitui o pênis da mulher, cuja ausência é profundamente sentida”. Isto ele quer dizer para justificar a tara do fetichista por pés. Mas isto faria a maioria dos fetichistas ou qualquer apreciador moderado se assustar e repudiar tal afirmação. Para o sujeito que gosta de pés femininos não deve ser fácil ouvir esta consideração freudiana. Mas aí Freud está se referindo às teorias sexuais infantis, à concepção que ele postula como sendo universal na cabeça de qualquer menininho na faixa entre 3 e 5 anos de idade, durante o complexo de castração: todo mundo seria dotado de pênis. “Se tenho, todo mundo tem. E quem não tem, perdeu”. E na menininha: “Não tenho, mas o meu vai crescer”.

E o valor dado a pênis, nesta fase, seria tão grande, que ao se dar conta de que as mulheres não têm, esta ausência seria, em um primeiro momento, desmentida. Ou seja: “Todo mundo tem. Quem não tem é porque perdeu.”

Porém, constatar, de fato, que as mulheres não têm nem nunca tiveram, para alguns, seria meio que inaceitável. Assim, o pequeno fetichista vai lá e bota um pé no lugar no objeto máximo de desejo, o pênis. Portanto, ver um pé, manipulá-lo, seria como alcançar e tocar os genitais da mulher desejada, adentrando seus recantos mais íntimos e assim poder conquistar o segredo de seu prazer.

E Freud tenta enfatizar ainda mais a coisa, ao sugerir que as pernas e os pés são uma projeção imediata da pélvis, assim como o próprio pênis. Da pélvis masculina brotaria então um tripé sexual: duas pernas e um pênis. Sendo o pênis o reizinho dessa estória. Bingo: piruzinho! O coringuinha do tripé, o zap (ou “zápete”, do jogo de truco). Enquanto da pélvis feminina brotaria somente as duas pernas, um negócio meio manco na cabecinha de um garotinho. Mas que, para o fetichista, talvez tenha ficado em bom tamanho, pois ele pode sempre contemplar a indecência, onde quer que esteja, onde quer que haja uma mulher a expor ingenuamente seus lindos pezinhos.
Também não custa deduzir que os pés esticados são mais excitantes pois representam, inconscientemente, o pênis ereto.

Muitas das teorias freudianas podem até não ser científicas ou válidas, mas com certeza dão o que falar.

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