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Sobre Fábulas, Recursos Humanos e Analise do Comportamento

A utilização de fábulas, estórias, histórias e parábolas são freqüentemente utilizadas por psicólogos e profissionais de RH para ilustrar e enriquecer treinamentos, dinâmicas de grupo, Workshop, palestras, cursos, encontros, dentre outras práticas.

A utilização de fábulas, estórias, histórias e parábolas são freqüentemente utilizadas por psicólogos e profissionais de RH para ilustrar e enriquecer treinamentos, dinâmicas de grupo, Workshop, palestras, cursos, encontros, dentre outras práticas.

Para ciência do comportamento, não é diferente. A concepção errônea que muitas pessoas adquiriram sobre o Behaviorismo Radical de B.F. Skinner, dentre diversas variáveis, devido a confusão entre Behaviorismo Metodológico (Watson) x Behaviorismo Radical (Skinner) surpreende psicólogos e estudantes de psicologia quando expandimos a prática comportamental para além dos muros do laboratório experimental, assim como a psicanálise surpreende ao ampliar sua atuação para os muros além da clinica e do divã, assim como o existencialismo surpreende ao ampliar sua atuação ao acompanhamento terapêutico, enfim, a ciência é mutável e permite-se a atualizações contínuas para manter o seu rigor empírico e atender as demandas de cada momento sócio – histórico – cultural.

Para falar um pouco mais sobre fábulas, decidi iniciar pelo dicionário, apenas para conhecimento do que significa cada um destes termos:

Para falar um pouco mais sobre fábulas, decidi iniciar pelo dicionário, apenas para conhecimento do que significa cada um destes termos:

* História: Narrativa sistematizada, verdadeira e real, de um ou mais fatos passados, em relação a uma ou mais pessoas, um povo ou um país.

* Estória: Conto Popular, narrativa tradicional, folclórica, lenda, história irreal. Uma situação ilustrada em forma de história para dar maior realismo.

* Fábula: Narrativa curta e agradável, que encerra uma verdade (moral) e na qual intervém animais. Geralmente, história onde protagonistas são bichos.

* Parábola: Relato curto e simples que traduz uma verdade moral ou lição religiosa. Uma história em forma de metáfora, comparação, para fazer analogia a um aprendizado.

Optei por focar a utilização de fábulas nas práticas de subsistemas de Recursos Humanos sob a ótica comportamental, pois consiste parte das práticas da minha área de conhecimento, deixando-me por tanto, mais a vontade para levantar reflexões e compartilhar a leitura que faço destas práticas.

Tenho observado que há alguns relatos de fábulas na ciência comportamental para evocar reflexões sobre as chamadas "morais da história". Em RH, nas atividades de: Dinâmicas de Grupo, entrevistas coletivas, treinamentos ou processos de capacitação e Coaching, em reuniões, em encontros de grupos, em estratégias de endomarketing, em palestras, em workshops, em sensibilizações e práticas de inclusão social, em projetos de reciclagem e/ou atualização de repertórios comportamentais, é comum a inclusão de fábulas para enriquecer estes processos e fortalecer a intervenção planejada.

A escolha e uso da fábula, vai de encontro com os objetivos do facilitador ou requisitante. Assim como a metodologia de sujeito único não permite criar "fórmulas mágicas" para analises funcionais e modificação de comportamentos alvos, as fábulas por si só não constituem e não são sinônimos de mudança comportamental.

Tal escolha deve ainda, estar relacionada com a contextualização funcional das relações (sujeito – ambiente) ao qual queremos ou estamos intervindo. Podemos enquanto profissionais de RH nos consultar em livros de fábulas, elaborar nosso próprio Book com cases e fábulas interessantes, mas o essencial desta técnica, é que seja devidamente planejada evitando enquadrar ou "engessar" fábula caracterizando as chamadas "bulas mágicas" (Dado situação X uso fábula Y). Considerar a relação (sujeito – ambiente) é o primeiro passo para escolha de uma técnica de intervenção comportamental.

Exemplo I

José entra na sala de seu chefe indignado pois Mário a apenas 3 meses na empresa já ocupava um cargo acima do seu enquanto ele a 3 anos não havia tido se quer um aumento de salário que não através de dicídio:

Chefe, preciso falar com você! Mário está aqui apenas 3 meses e já foi promovido enquanto eu…

Interrompido pelo chefe, este lhe diz que está pensando em dar um café da manhã para todos os funcionários e que ele vá até a quitanda da frente e veja se tem abacaxis. Sem entender nada, José vai até a quitanda e volta dizendo um simples "sim, eles tem abacaxis". Antes que José pudesse reclamar o porque de ter lhe feito este pedido, o chefe pede que ele sente e aguarde, pedindo a secretária que chame Mário. Mário entra na sala e o chefe lhe faz a mesma pergunta, ou seja, que está pensando em dar um café da manhã para todos os funcionários, por isso precisa que ele vá até a quitanda da frente e veja se tem abacaxis. Depois de dez minutos Mário Retorna e o chefe lhe pergunta:

E então eles tem Abacaxis?

Sim senhor, mas não estão bem frescos, na quitanda da frente eles estão melhores e com preço em melhores condições. Peguei o telefone dos vendedores caso o senhor queira fazer uma reserva, afinal para um café da manhã talvez precisemos de uma quantidade razoável. E caso seja do seu interesse, eles também tem bananas, maçãs e mangas. O senhor precisa de mais alguma coisa chefe? Estava no meio daquele relatório que o senhor havia me pedido…e…

Não Mário, é só isso. Pode voltar ao trabalho. Muito Obrigado!

O chefe volta-se para José e pergunta:

José você queria me perguntar alguma coisa quando entrou na minha sala, o que era mesmo?

Nada não senhor, é que estou muito satisfeito em trabalhar aqui. (dando um grande sorriso volta ao trabalho compreendendo que comportamentos são selecionados pelo ambiente e Mário, havia se comportado de tal forma que pudesse ter como conseqüência o seu cargo em tão pouco tempo de casa.).

Exemplo II

Em uma cidade, havia um velho monge que nunca errava em suas respostas, sempre sabidamente respondia as dúvidas dos moradores, até que Dois meninos travessos tiveram uma idéia para enganá -lo:

– Vamos pegar um passarinho muito pequeno e por ele entre nossas mãos, pedindo para que o monge adivinhe o que tem dentro, lógico que esta ele vai acertar, então pediremos para que ele diga se o pássaro está vivo ou morto. Se disser vivo, nos esfolamos o pescoço do pássaro e mostramos ele morto, se disser morto, abrimos e provamos que ele estava errado! hhahahahaha.

Foram então ao encontro do monge e perguntaram:

– E ai velho, o que temos nas mãos?

– Hum….Hum… é um pássaro ainda filhote.

– Está certo, mas ele está vivo ou morto?

– Hum…hum…hum……………meu jovem, a vida deste pássaro está em suas mãos, decidir se ele ficará vivo ou morrerá não depende de mim….da mesma maneira em que você pode potencializar esta criatividade para seu desenvolvimento pessoal, não posso impedir suas traquinagens, por tanto peço que volte para sua casa e reflita sobre sua conduta. Seus comportamentos são sempre controlados e seguidos de conseqüências e escolhê-las é o que chamamos de livre arbítrio. O que você quer: matar ou libertar o pássaro?

Daquele dia em diante os meninos nunca mais apareceram no vale onde o Momge morava.

Utilizando a Ciência do Comportamento no fechamento de Fábulas e jogos empresariais

Os exemplos acima nos dão uma base para levantarmos algumas possibilidades de aplicabilidade das ferramentas ditas como fábulas nos processos de recrutamento, seleção, treinamento, workshops, dentre outros encontros de grupos e jogos empresariais.

Utilizando a lupa da Ciência do Comportamento e os pressupostos filosóficos do Behaviorismo Radical, através da descrição de contingências que a Fábula permite, ou seja, descrever situações antecedentes > comportamentos / respostas > conseqüências que seguiram os comportamentos damos ao grupo a possibilidade de refletirem através de situação "fictícia" sobre modelos de comportamento, sobre diferentes condutas e suas conseqüências, sobre suas práticas, e assim por diante.

O manejo comportamental ao escolher funcionalmente uma fábula nos processos oriundos dos subsistemas de RH potencializa as demais técnicas de aprendizado, habilidades sociais e desenvolvimento humano em organizações. Podemos encontrar nas descrições de comportamentos transpostas em fábula, mais uma alternativa de fazer com que pessoas tenham acesso a modelos comportamentais, modelos que permitam que a história de vida de cada um faça sua leitura sobre um mesmo fenômeno, ou seja, nos exemplos I e II, mesmo que sejam aplicados em grupo, cada um terá uma reflexão diferenciada do seu colega, concepção que está vinculada a sua própria história de vida.

O Facilitador aplicador de fábulas em encontros de grupos deve estar atendo aos comportamentos verbais e não – verbais contingentes a estimulação apresentada, deve utilizar-se de sua formação acadêmica para registrar e observar comportamentos para planejar as próximas ações.

Geralmente quando aplicamos fábulas na empresa aonde atuo, realizamos a moral da história junto daquele determinado grupo, evitando uma "verdade absoluta" e garantindo que a Fábula construirá conhecimentos característicos daquelas determinadas pessoas enquanto em um processo de grupo específico (Treinamento, dinâmica, etc.). O grupo deve sob observação do facilitador, responder verbalmente, que possíveis lições de vida e / ou morais da história podem ser levantadas.

No CONARH (Congresso Nacional de Recursos Humanos) de 2006, um casal autores de um livro de fábula deram algumas contribuições sobre fábulas com animais, conteúdos religiosos, histórias infantis, cases, etc. A criatividade do facilitador na escolha da Fábula é outra característica importante que pode fazer o diferencial na aplicação da técnica. Para consulta, indico a bibliografia usada nesta coluna.

Bibliografia

Militão, A. e Militão, R. (2002). Histórias & Fábulas Aplicadas a Treinamento. São Paulo: Qualitymark.

 

 

 

 

 

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