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Levantamento de dados e procedimentos utilizados em terapia comportamental com crianças: um caso com grave déficit comportamental

Mariéle de C. Diniz Cortez; Liana Fernandes de Azevedo; Aline Ferracini; Maria Laura França; Jaíde A. G. Regra
Universidade de São Paulo – São Paulo 

É comum a procura por terapia em casos em que é identificado um baixo repertório comportamental ou atraso no desenvolvimento em crianças. Nestes casos, técnicas como a modelagem e o esvanecimento (fading out) têm-se mostrado efetivas em gerar novas respostas. O atendimento clínico a um menino (M.) de 6 anos, com atrasos no desenvolvimento e na linguagem, dificuldades em seguir regras, atenção flutuante e baixa tolerância à frustração teve por objetivos:  realizar levantamento das áreas em que apresentava dificuldades e dos aspectos positivos presentes em seu repertório; reduzir atraso acadêmico; aumentar verbalizações inteligíveis e tempo de permanência nas atividades durante a sessão; aumentar comportamentos de seguir regras; orientar a mãe  a lidar adequadamente com as dificuldades de M., de forma a generalizar os comportamentos desenvolvidos em terapia..

Os atendimentos foram realizados em salas reservadas para tal finalidade e foram utilizados diversos materiais de acordo com as atividades propostas. Os procedimentos utilizados consistiram num treino psicopedagógico com vogais; modelagem das verbalizações do cliente em atividades de nomeação de figuras; modelagem e esvanecimento de comportamentos em contexto de jogo com regras e observação. Os procedimentos utilizados com a mãe consistiram em orientações verbais sobre modelagem, esquemas de reforçamento, alternativas para lidar com comportamentos inadequados do filho e realização de análises funcionais dos comportamentos da criança. Foram identificados diversos aspectos com déficits de desenvolvimento, sobretudo a linguagem (ausência de falas ou falas ininteligíveis). Durante o treino psicopedagógico, foram identificadas dificuldades com relação às vogais “O” e “U” (troca constante ou nomeação da letra “U” como “O”).

Ao longo das sessões de treino, houve redução da freqüência de erro e na quarta sessão, houve 100% de acerto em todas as apresentações de tais vogais. A atividade de nomeação de figuras seguida de consequenciação (aparecimento de “dedoches”) foi inserida em função da ausência de verbalizações inteligíveis de M. e proporcionou aumentou da freqüência de verbalizações, bem como aumento (qualitativo) das vocalizações inteligíveis ou mais próximas ao esperado. Observou-se, concomitantemente, aumento nas tentativas do cliente em se comunicar com as terapeutas em outros contextos, bem como aumento de respostas simples (sim ou não) às perguntas realizadas sobre assuntos cotidianos. Em contextos de jogos com regras (dominó), observou-se ausência de seguimento de regras e inexistência dos comportamentos pré-requisitos de distribuir peças e esperar a vez. Com a introdução do procedimento de esvanecimento foi possível observar o desenvolvimento dos comportamentos-alvo desejados (esperar a vez, dividir peças), tendo M., seguido às regras prontamente e de forma adequada, sem emitir comportamentos de birra. A mãe seguiu as orientações dadas, desenvolvendo novo repertorio para lidar com as dificuldades do filho. Conclui-se que os procedimentos de modelagem, esvanecimento e orientações à mãe parecem ser eficazes em casos com crianças que apresentam grave déficit comportamental e necessitam desenvolver novos comportamentos.

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