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7a ARTE. O cinema impresso

magnolia
O passado está sempre presente…

”Magnólia”  1999. Diretor: Paul Thomas Anderson.
Duração: 188m

Sincronicidade… termo cunhado por Jung para designar a ocorrência simultânea de dois fatos que, objetivamente, são independentes entre si, mas se unem pelo significado que os contém, apresenta-se de forma quase personificada no filme Magnólia.

Esta é uma trama cujo protagonista está “diluído” em cada personagem, já que nove histórias são contadas simultaneamente e recebem a mesma atenção. Aqui temos um espaço extremamente limitado para citar cada uma, pois é impossível mencioná-las sem discorrer a respeito devido à sua densidade; mas é possível e necessário dizer que em todas elas o enfoque, direta ou indiretamente, está voltado para a relação pais e filhos, mais especificamente para a figura paterna, que se mostra ausente tanto fisicamente quanto afetivamente em cada história contada. E foi a partir desta constatação que optei por abordar uma relação em específica para que possamos apreciá-la e compreendê-la dentro de sua especificidade. Comecemos então a contextualizá-la.

Frank Mackey (interpretado por Tom Cruise) é uma espécie de guru sexual, onde em praticamente todo o filme ministra um de seus cursos sobre técnicas para conquistar as mulheres e, assim, mantê-las sob o domínio e o controle masculino. A princípio seu discurso “machista” nos leva a crer que ele é mais um “filho” da sociedade patriarcal, cujo arquétipo paterno é predominante e o poder de dominação sobre as mulheres e as crianças prevalecem.

E é! Mas ao longo do filme entendemos como esta estruturação se deu e que, na realidade, está máscara que insiste em manter pode estar frágil demais. Seu pai é Earl Partridge, um produtor de TV que, acometido por um câncer já em fase terminal, se vê às voltas de sofrimentos físicos e psíquicos, atormentado por sentimentos de arrependimento e culpa. Motivo: enquanto fora casado com Lily, mãe de Frank, a traía freqüentemente e após seu falecimento (também devido a um câncer) abandonou Frank, então com 14 anos de idade. Esta separação manteve-se permeada por ódio e ressentimento, fazendo com que o filho negasse sua história e construísse um novo passado, até ser desmascarado por uma jornalista. Diante deste fato, entendemos que Frank pouco elaborou a morte de sua mãe e o abandono de seu pai, visto que não só criou outra história familiar para “sobreviver” como também passou a se defender da possibilidade de estabelecer um vínculo autêntico como um “outro”, já que não há garantia de mantê-lo eternamente (assim como não ocorreu na relação com seus pais). Os aspectos de sua anima, ou seja, seu lado feminino, estão pouco desenvolvidos e por isso, a forma negativa como concebe as mulheres se refere tanto à reprodução (consciente e inconsciente) do comportamento de seu pai para com sua mãe, como também à projeção da ira e do medo da possibilidade de ser abandonado.

No momento em que a jornalista o confronta com a verdadeira história descoberta e que Frank se depara com a queda de sua máscara persona  a sincronicidade se faz presente, pois sua assessora está com o enfermeiro de seu pai ao telefone. Ele é Phill, único ouvinte das angústias de Earl que, a seu pedido, busca por Frank para que possam se reconciliar. A princípio ele nega esta aproximação, mas sua vida já não é mais a mesma após esses encontros sincrônicos…

Próximo ao final do filme, embalados pela lindíssima trilha sonora “Wise Up” que canta “…Isso nunca vai passar, até você aceitar…” cada personagem repensa sua história e Frank vai em busca de seu pai. Permitir este encontro é se permitir olhar para o passado, pois conforme diz a música, o sofrimento maior, que é o sofrimento da negação de sua história, só deixará de existir quando admitir encará-lo para posteriormente elaborá-lo. Engana-se quem pensa que é capaz de fugir do passado; ele está sempre presente e se manifesta das mais diferentes formas, quanto maior a tentativa de afastá-lo maior é a força com que ele se aproxima…

Referencia Bibliográfica:

JUNG, C.G. Sincronicidade. 5a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991. v. VIII/3.
AZEVEDO, L. Problemas (pouco) familiares. Revista Junguiana 11, 1994.

Fabiana Carone é psicóloga clínica CRP 06/84188
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