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Profissionais de saúde não recebem formação específica para atendimento de vítimas de violência familiar

O atendimento de vítimas de violência familiar requer formação específica do profissonal de saúde, mas médicos e enfermeiros brasileiros não são preparados para esse desafio. A conclusão é de um estudo realizado pela equipe do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

O atendimento de vítimas de violência familiar requer formação específica do profissonal de saúde, mas médicos e enfermeiros brasileiros não são preparados para esse desafio. A conclusão é de um estudo realizado pela equipe do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Segundo Edinilsa Ramos, que coordenou o estudo, a política nacional de prevenção da violência estabelecida pelo Ministério da Saúde recomenda expressamente que o tema seja inserido na formação regular e continuada do profissional de saúde.

“Quando se atende uma criança que sofreu abuso ou negligência, uma mulher espancada pelo marido ou um idoso maltratado em casa, não basta cuidar dos ferimentos e mandar o paciente para casa. O profissional precisa de preparo específico para saber o que fazer”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP.

Para fazer a avaliação, a equipe do Claves analisou ementas de mais de 500 disciplinas em cursos de medicina e enfermagem de cinco universidades estaduais, federais e privadas – três no Rio de Janeiro e duas em Cuiabá.

De acordo com a pesquisadora, o objetivo foi avaliar a presença da questão da violência nos currículos, seja de forma explícita ou em termos correlatos – isto é, quando havia menção a termos que podem introduzir à temática, como traumas, desigualdades e injustiças sociais.

“Os resultados indicaram que, nos cursos de medicina, 23% das disciplinas abordam a violência. O tema apareceu em 16,3% das disciplinas de enfermagem. Na maior parte dos casos, a abordagem era feita de forma correlata. É uma porcentagem muito baixa, que mostra a ausência do tema na formação desses profissionais”, destacou.

A partir da análise inicial, os pesquisadores entraram em contato com os coordenadores das disciplinas que tratavam de violência e propuseram um questionário. De um total de mais de 90 docentes, 67 colaboraram.

“Parte do questionário pediu aos docentes uma avaliação da norma técnica publicada pelo Ministério da Saúde como instrumento para capacitação de profissionais da atenção básica em saúde – um manual sobre violência intrafamiliar. De modo geral, a avaliação foi positiva e alguns professores sugeriram aprimoramentos”, disse Edinilsa.

Outro bloco de questões se referia às formas de inserção do tema da violência na prática de saúde. “A grande maioria considera que violência é uma questão de saúde e acha que é preciso discutir o tema. Acham que o tema deve ser inserido transversalmente e não em uma disciplina específica, o que consideramos um pouco temerário”, disse.

Lacuna entre políticas e práticas

A maior parte dos docentes consultados, de acordo com a pesquisa, não se considera capacitada para trabalhar com os temas ligados à violência. “Isso foi uma surpresa. Mas, afinal, é coerente que eles se sintam assim, uma vez que não tiveram capacitação para trabalhar com o tema”, disse a pesquisadora do Claves.

O estudo concluiu que há uma lacuna entre as políticas públicas e as práticas docentes. Segundo os autores, políticas públicas orientam que a prática docente seja dirigida para os principais problemas de saúde que a população enfrenta.

“O problema da violência na família atinge parcelas imensas da população, caracterizando-se como um dos principais problemas de saúde pública. O ensino precisa estar adequado para esssa realidade, refletindo o que recomendam as políticas públicas”, disse Edinilsa.

O estudo defende ainda que o atendimento às vítimas de violência intrafamiliar seja feito por uma equipe interdisciplinar, que inclua psicólogos e assistentes sociais.

“O profissional de saúde sozinho vive uma grande angústia ao deparar com um caso desses e não saber como agir. A abordagem não é trivial, como no caso de uma doença, em que basta atuar sobre o agente e medicar o paciente. A violência é multicausal e precisa ser tratada de forma multidisciplinar”, defendeu.

Fonte: Agência FAPESP

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