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Quem é Quem no Pensamento Digital

Você sabe quais conflitos ideológicos estão deflagrados hoje no que diz respeito a Internet? Quais os debates acirrados de hoje têm a Web como foco? Neste artigo destaco seis delas: política, comunicação, identidade, saúde, comércio e individualismo. Em seguida faço uma panorâmica sobre os principais pensadores atuais da Internet: quem são eles, o que dizem, que posições adotam.
Pensamento Digital ???

Por “pensamento digital” entenda-se neste artigo, genericamente, qualquer forma de produção intelectual / filosófica sobre os meios digitais de comunicação. Destacando, obviamente, o conhecimento que se tornou notório seja pela Academia ou pelos mercados editoriais e de produtos.

Quem é Quem

Vale destacar: os “pensadores digitais” são em sua maioria homens, brancos e anglo-saxões. Todos são ocidentais e estão de uma forma ou de outra relacionados com a Revolução Digital desde sua origem. As únicas mulheres presentes no grupo são doutoras acadêmicas e psicólogas. Os únicos cientistas alistados representam a velha guarda do Pensamento Digital: os inventores da internet. Prevalece atualmente, portanto, o perfil do “genial e bem-sucedido homem de negócios” como pensador digital.

NOTA: Obviamente a presente lista de pensadores não contempla todos os grandes nomes atuais da área. Trata-se de uma seleção feita por mim, certamente limitada.

A – Política e Liberdade

A temática da liberdade na e da rede é discutida principalmente pelos cientistas que foram seus “pais”. Eles defendem que a rede deve permanecer livre como é hoje, para que os próprios usuários determinem as relações de poder nela, e não os interesses de governos e empresas.

1. Vinton Cerf

Cientista que inventou o HTTP (protocolo de transferência de dados digitais que tornou possível a comunicação de computadores em rede. Atualmente é um dos cabeças do Google, e defende que a internet precisa de mais segurança, mas não pode sacrifica a privacidade de seus usuários. A Web deve permanecer única, pública e global).

mais sobre:

http://www.ibiblio.org/pioneers/cerf.html

2. Tim Bernes-Lee

Cientista que inventou o WWW (a teia do tamanho do mundo, que permite que usuários naveguem em sites de forma acessível em termos de interface. Defende que a internet deve continuar um território livre, tal como é hoje, sem censuras e nem controles nem corporacráticos e nem governamentais)

mais sobre:

http://www.w3.org/People/Berners-Lee/

B – Comunicação

Os pensadores que discutem a comunicação, a aprendizagem e afins da internet são filósofos, sociológicos, editores. Fundamentalmente, homens das palavras (neste caso, palavradas tornadas bytes).

1. Ted Nelson

Inventor do conceito de hipertexto, hoje traduzido tecnologicamente como o HTML dos sites. Defende que os computadores ainda estão imitando as máquinas de escrever e apenas reproduzindo modelos antigos em versões digitais. A internet deve inaugurar uma nova forma de comportamento verbal, escrita e leitura, e não apenas digitalizar formas antigas.

mais sobre:

http://www.transliterature.org/

2. Pierre Levy

Tido por muitos como o maior pensador da Cybercultura. Publicou inúmeros livros clássicos sobre.Levy é um acadêmico, uma espécie de sociológo das tecnologias digitais. Sua profícua obra gira em torno das tecnologias da inteligência tornadas possíveis pelos computadores e da “inteligência coletiva”

dos usuários em rede, o que o tornou muito popular no meio dos educadores.

mais sobre:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_L%C3%A9vy

1. Kevin Kelly

Primeiro “business man” de nossa lista de pensadores digitais. Foi o executivo fundador da revista Wired. Hoje é um árduo defensor dos benefícios das tecnologias digitais, e discute a ética das mesmas. Para Kelly, uma nova tecnologia é boa quando aumenta o campo de opções das pessoas, ao invés de diminui-lo.

mais sobre:

http://kk.org/

C – Identidade Virtual

A forma como as tecnologias digitais influem na formação da identidade individual da sociedade começaram a ser discutidas por psicólogos e comunicólogos.

1. Marshal McLuhan

Tido como profeta da Era Digital, McLuhan foi o primeiro grande intelectual a falar das mídias digitais, há quarenta anos. Fala dos meios de comunicação como extensões do corpo e do cérebro. Cunhou o termo “aldeia global”. Defendeu que “o meio é a mensagem”, isto é, que as mídias tem uma propriedade auto-referente de aumentar seus poderes, influenciando cada vez mais a sociedade.

mais sobre:

http://www.marshallmcluhan.com/

2. Sherry Turkle

Enfim, uma psicóloga. Turkle, pesquisadora do MIT, foi a primeira profissional de Psiocologia a falar da internet. Curiosamente, seu interesse não foi a Clínica, mas a formação do “self” dos usuários de comunicação digital. Já em 1994 ela preconizou as leis de formação da identidade digital: superficialização, fragmentação, dinamismo.

mais sobre:

http://web.mit.edu/sturkle/www/

D – Saúde na Internet

A discussão em torno da saúde na e através da internet começou com tele-medicina, como consta no item 3. Mas logo psicólogos começaram a pesquisar a respeito. Até hoje, contudo, a psicoterapia a distância não está firmada como prática no Brasil, sendo usada apenas em caráter de pesquisa.

1. Kate Anthony

Para muitos a maior pesquisadora do mundo em termos de psicoterapia a distância. Vem desenvolvendo seu trabalho na Inglaterra desde os primórdios da internet.

mais sobre:

http://www.kateanthony.co.uk/

2. Larry Rosen

Autor do primeiro bestseller sobre psicopatologia digital: “Tecnostress”, no qual defende que o dinamismo das mídias digitais gera uma forma de stress e ansiedade peculiares.

mais sobre:

http://veja.abril.com.br/081100/entrevista.html

3. Sobre a tele-medicina e aplicações afins para a área de saúde, sugiro a leitura de um artigo meu nesta mesma coluna:

https://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/article.php?articleID=86


E – Comércio

A internet, como palco pra comunicação, não se limita a troca de idéias. Valores financeiros também circulam na rede, bem como o comércio de hardware e software é hoje possivelmente a maior indústria do mundo.

1. Edward Castronova

Economista que desenvolveu uma tese acadêmica revolucionário: provou que a movimentação em dólares reais de itens de valor ficcional em um jogo eletrônico era maior que o PIB da Bélgica. Castronova evidenciou que os mundos virtuais geram riquezas reais, e com isso transformou os MMOGs (massive multiplayers on line games) e outras formas de comunidades virtuais em laboratórios de Economia.

mais sobre:

http://mypage.iu.edu/~castro/home.html

2. Bill Gates

Já foi o homem mais rico do mundo com a Microsoft, a empresa que co-fundou seguindo a visão de que o futuro da Economia Digital estaria na venda de softwares, e não de hardware. Severamente criticado por muitos, em especial os defensores do Software Livre, Gates é o símbolo maior do capitalista digital e também do “nerd novo rico”. Hoje se tornou uma espécie de palestrante e consultor sobre os benefícios das tecnologias, especialmente para a educação. Suas idéias sobre os novos hardwares e softwares, que envolvem ubiqüidade e maior conexão entre dispositivos estão emplacando no mercado e prometem mudar o cotidiano dos usuários nos próximos anos.

mais sobre:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bill_Gates

3. Steve Jobs

O cabeça por trás da Apple. Grande guru da usabilidade e da estética aliados a funcionalidade de dispositivos. Jobs defende que os produtos devem ser projetados levando em conta os usuários, o que levou a cabo com a invenção do iPod. Se tornou uma espécie de guru empresarial do meio digital, talvez o maior vivo hoje. Tem idéias parecidas com as de Gates em termos de produtos (ubiqüidade, interface, maior conectividade) mas difere substancialmente no modelo de negócios.

mais sobre:

http://www.apple.com/pr/bios/jobs.html


F – Coletivismo X Individualismo

Para finalizar esta lista, mas não a temática, cito uma questão nova que vem se tornando uma polêmica maior a cada dia no Pensamento Digital: o individualismo na internet.

1. Don Tapscott

Quando a internet ainda era uma criança, em 1997, Dan Tapscott escrevia artigos e livros prevendo que ela iria desbancar as escolas e empresas, e tornar seus usuários um coletivo inteligente. A maior parte de suas previsões se mostrou errada o que não abalou sua popularidade. Hoje lançou “Wikinomics” (o título é uma referência a Wikipedia, a enciclopédia de autoria pública da Web), obra em que defende que o futuro da Economia do Conhecimento está em cooperação massiva de incontáveis de usuários, que se tornarão co-autores de seus produtos.

mais sobre:

http://wikinomics.com/

http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal

2. Jaron Lanier

De todos os pensadores alistados aqui, Jaron Lanier talvez seja o mais exótico. Trata-se de um “artista digital”. Dentre suas realizações destaca-se a invenção da realidade virtual. Hoje Lanier dedica-se a formas de integrar as novas tecnologias às artes, e critica arduamente o que vem chamando de “Maoismo Digital” (a tendência de achar que coletivos pensantes podem obter respostas melhores e mais verdadeiras que indivíduos). Lanier defende que a Wikipedia, por exemplo, é uma espécie de “burrice coletiva”, pois sufoca a criatividade individual.

mais sobre:

http://www.well.com/user/jaron/

E o Hackers?

Não poderia encerrar sem falar dos hackers. A internet, em sua origem entre cientistas nerds, teve muito de seu genoma cultural modelado pelos ideais hackers, tais como liberdade, auto-determinação, compartilhamento, a busca do conhecimento pelo conhecimento e não pelo dinheiro e o poder. (Não me refiro aos hackers de hoje, tais como criminosos e afins; mas aos hackers conforme a concepção antiga do termo: uma espécie de fora-da-lei que lutava pela liberdade contra o domínio dos governos e corporações).
Os ideais hackers, que podem ser vistos como românticos por alguns e certamente foram influenciados pelo movimento punk dos anos 1980, ainda estão presentes no Pensamento Digital. A internet, hoje, ainda é uma espécie de anarquia por conta desses ideais que seduzem e comovem seus usuários. Pode-se dizer que hoje vemos tentativas de tornar a Web um território fechado, controlado e sem privacidade. É contra essa tendência que o lado hacker do Pensamento Digital luta.

Contudo, a cultura hacker não possui Pensadores famosos. Ela pode influenciar um intelectual ou outro, como Berners-Lee e Vinton Cerf, como visto anteriormente, mas nenhuma celebridade a defende abertamente em entrevistas. Ao contrário: os verdadeiros pensadores (e agentes) desses ideais são os anônimos usuários da Web, uma massa de indivíduos conectados e que formam o grosso do caldo do Pensamento Digital.

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