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Psicofarmacologia I – Principais Neurotransmissores

Introdução

A neurotransmissão no SNC

Conhecem-se, atualmente, dezenas de neurotransmissores. Vamos assinalar somente os neurotransmis­sores mais conhecidos na clínica: dopamina, noradrenalina, adrenalina, sero­tonina e ácido gama-aminobutírico.

As sinapses nervosas não possuem, obrigatoriamente, apenas um neurotransmissor. Podem ter um ou mais dos elementos condu­tores da informação nervosa, atuando excitatória ou inibitoriamente.

A síntese, liberação, atuação e destino final dos neurotrans­missores nos diversos sistemas neuronais podem ser assim esque­matizados:

1. Síntese do neurotransmissor

A síntese do neurotransmissor se faz a partir de um precursor (tirosina, triptofano, colina e outros alfa-aminoácidos) que, vindo do meio externo para o interior do neurônio, atravessa a membrana do corpo celular da estrutura neuronal por intermédio de mecanis­mos especializados.

Como passo seguinte, o precursor e suas enzimas sintetizado­ras (a palavra enzima pode ser tanto masculina quanto feminina por tradição) encaminham-se, por processos ativos de condução, para a por­ção terminal do neurônio, a telodendria do axônio, onde uma parte menor dele fica livre no citoplasma e a parte maior fica armazenada em órgãos denomi­nados vesículas sinápticas.

2. Liberação do neurotransmissor

Quando acontece a despolarização do neurônio, fenômeno bioelétrico, físico-químico, surge um potencial de ação e o neurotransmissor é, então, liberado por ação de enzimas (as monoamino-oxidases) armazena­das nos mitocôndrias. Liberado o neurotransmissor, através de um processo conhecido como exocitose, a vesícula sináptica funde-se à parede, porém, da membrana da porção terminal do neurônio, o axônio. Em seguida, voltando a desempenhar função de vesícula sináptica, o neurotransmissor, junto com outras substâncias, é lançado na fenda sináptica.


3. Atuação e destino final dos neurotransmissores

Na fenda sináptica, o neurotransmissor atua sobre o segmento pós-sináptico de um neurônio ou outra célula efetora. Por inter­médio de enzimas, em geral a catecol-O-metiltransferase (COMT), é recapturado para a porção terminal do neurônio ou é metaboli­zado no líquido extracelular da fenda sináptica.

A descrição que fiz da síntese, liberação, atuação e des­tino final dos neurotransmissores no SNC baseia-se na observação feita nas sinapses de nervos dos sistemas nervosos periférico e autô­nomo. Supõe-se, com muitas razões para isso, que processos seme­lhantes se realizem no SNC.

Os neurotransmissores do SNC

As aminas são compostos orgânicos que têm em sua estrutura molecular o nitrogênio e são derivados da amônia por substituição de um ou mais átomos de hidrogênio por radicais hidrocarbonados.

De acordo com o número de hidrogênios substituídos, as ami­nas são denominadas primárias, secundárias ou terciárias ou, apenas, monoaminas, diaminas ou biaminas e triaminas, respectivamente.

Entre os neurotransmissores do SNC existem algumas mono­aminas importantes, conhecidas como aminas biogênicas. Um grupo delas é formado por uma parte alifática, a amina, e uma parte aromática, o catecol. Outro grupo de monoaminas contém o radical, o indol.       

Devido à presença desses dois tipos de radicais nas monoami­nas neurotransmissoras, designam-se estas substâncias com os nomes de catecolaminas e indolaminas, em consonância com a pre­sença nelas do radical catecol ou indol.

As catecolaminas mais conhecidas são: a dopamina, a nora­drenalina (ou norepinefrina) e a adrenalina (ou epinefrina).

Das indolaminas neurotrasmissoras, a 5-hidroxitriptamina, ou serotonina.

Catecolaminas

1 – Dopamina – O sistema neuronal que tem como neuro­transmissor a dopamina recebe o nome de sistema dopaminérgico. Correlatamente, há sistemas noradrenérgicos, adrenérgicos, seroto­ninérgicos e por aí vai.

O sistema dopaminérgico no SNC predomina no núcleo cau­dato, na área estriada, o sistema mesolímbico, na região hipotalâ­mico-hipofisária e na medula espinhal.

Os sistemas catecolaminér­gicos são preponderantemente excitadores neuronais.

Resumo da síntese da dopamina

Tirosina — (Tirosina-hidroxilase) –> L-Dopa (levo-diidroxifelalanina) — (Descarboxilase ácida L-amino-aromática) –> Dopamina

           

2 – Noradrenalina – Este neurotransmissor é encontrado no SNC, no tronco cerebral e no hipotálamo, e possui ação depres­sora sobre a atividade neuronal do córtex cerebral. A noradrenalina do SNC provém da metabolização da dopamina pela ação da enzima dopamina beta-hidroxilase que metaboliza, também, o 5-hidroxipto­fano em 5-hidroxitriptamina ou, então, origina-se da recaptura do neurotransmissor da fenda sináptica.

Damos, a seguir, as etapas da síntese da noradrenalina:

Fenilalanina –> Tirosina –> L-Dopa –> Dopamina –> Noradrenalina­

A noradrenalina liberada na fenda sináptica tem um desses destinos:

(a) excita um receptor pós-sináptico

(b) é recapturada para o neurônio pré-sináptico

(c) é metabolizada pela catecol-O- metiltransferase (COMT)

e/ou:

(d) é metabolizada no líquido extracelular, dando como pro­dutos finais o 3-metoxi-4-ácido hidroximandélico (VMA) ou o ácido homovanílico (HVA).

3 – Adrenalina – A adrenalina, como neurotransmissor do SNC, é bem menos conhecida do que as duas catecolaminas prece­dentes. Ela tem sido muito estudada, mas, em correlação com sua atividade nos nervos do sistema nervoso autônomo, no seu segmento simpático e na medula da glândula supra-renal.

No SNC, estritamente falando, são descritos sistemas adrenér­gicos em alguns núcleos hipotalâmicos relacionados com uma ati­vidade vasoconstritora.

Uma pequena síntese de adrenalina ocorre, também, no tronco cerebral.

A enzima que converte a noradrenalina em adrenalina é a N-metiltransferase.

Catabolização das catecolaminas no SNC

Os neurome­diadores catecolamínicos, após exercerem suas ações, são rapida­mente inativados por metabolização enzimática. A monoamino-oxidase (MAO) é a principal enzima inativadora das catecolaminas intraneuronais e a COMT é a principal enzima inati­vadora das catecolaminas circulantes extra-celulares.


Indolamina

1. Serotonina (ou 5-hidroxitriptamina) é o mais estudado neu­rotransmissor indolamínico.

Esta amina biogênica encontra-se no SNC, notadamente no tronco cerebral, amígdala, mesencéfalo, núcleos talâmicos e no hipotálamo.

Resumo da síntese da serotonina.

                     

Triptofano — (Hidroxilase-triptofano) –> 5-Hidroxitriptofano (5-HTP) — (Descarboxilase) — 5-Hidroxitriptamina (Serotonina)

A 5-hidroxitriptamina sob a ação da MAO é metabolizada em ácido 5-hidroxi-indolacético, seu produto final.

No SNC a serotonina tem ação tanto excitatória como inibitória.

Acetilcolina

No SNC, os sistemas acetilcolinérgicos existem no cerebelo, sistema reticular ascendente, tálamo e córtex cerebral, com ativida­des excitatórias e inibitórias.

A síntese da acetilcolina resumida.

Colina — (Acetil-coenzima A+Colina-O-acetil-transferase) –> Acetilcolina

A acetilcolina é inativada pela acetilcolinesterase, uma enzima que a desdobra em colina e ácido acético.

Ácido gama-aminobutírico (GABA)

A presença dessa substância no córtex cerebral aponta para seu papel como neurotransmissor no SNC, tudo indicando que seu desempenho é, essencialmente, de inibidor pós-sináptico.

O GABA teria importante papel na atuação das drogas benzo­diazepínicas como ansiolíticos, inibindo-lhes a atividade noradre­nérgica.

Resumo da síntese do GABA

Ácido glutâmico — CO2 (Descarboxilase – Ácido glutâmico) –> Ácido gama-aminobutírico (GABA)

O GABA é inativado por transaminação, dando origem ao semi­-aldeído-succínico.

Não nos vamos referir à síntese e metabolização de outros neurotransmissores como a histamina, substância P e prostaglan­dinas, por não nos ser útil na prática da clínica psi.

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