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Como a Análise do Comportamento vê a Homosexualidade?

Artigo retirado do site http://www.terapiaporcontingencias.com.br/dialogo_edicao05.php em 16/10/2007 , onde Prof. Hélio José Guilhardi fala um pouco sobre como a análise do comportamento (em especial a modalidade de terapia por contingências de reforçamento encara a homosexualidade).

Como a TCR vê a homossexualidade?
(Perguntas enviadas por um estudante de Psicologia).

Sua questão põe em pauta um tema super complexo, atual e que precisa ser discutido amplamente. De acordo com nosso referencial conceitual, não existe, dentro da pessoa, uma entidade (uma abstração conceitual!) chamada homossexualidade, a qual seria responsável pelos atos, fantasias, desejos, sentimentos etc. homossexuais. O que existem são comportamentos e sentimentos que podemos, provisoriamente, rotular com o adjetivo homossexual, sem que tal adjetivo implique em nenhum julgamento ético ou de valor moral. Os comportamentos e sentimentos homossexuais são instalados e mantidos como qualquer outro comportamento. São regidos, em suma, pelas mesmas leis e pelos mesmos princípios fundamentais que explicam as ações humanas. Nada os torna peculiares, nem idiossincráticos. Uma questão (não respondida de maneira convincente pela Ciência, até o momento) que se pode propor é se a suscetibilidade aos reforços sexuais é determinada pela constituição genética da pessoa ou é adquirida durante o processo de desenvolvimento comportamental, cognitivo e afetivo da pessoa, através de práticas sociais, culturais e familiares. Mas, sugerir tal dicotomia (“nature” ou “nurture”), não parece um caminho promissor. É mais compatível com o que se conhece sobre os determinantes dos comportamentos e sentimentos humanos enfatizar a influência recíproca, a interação entre os eventos biofisiológicos e ambientais. Como tal, não existe uma única causa ou determinante para os comportamentos homossexuais. São comportamentos multideterminados por complexa teia de contingências de reforçamento, que se influenciam através do desenvolvimento de cada ser humano e que vão formando pessoas em contínuo processo de transformação, e não homossexuais, como uma entidade substantiva que existe à parte dos outros seres humanos. Todos somos especiais, individuais, originais, diferentes uns dos outros e essa variabilidade, que nunca se repete, vai compondo a humanidade. Como conseqüência do exposto, qualquer valorização crítica dos comportamentos homossexuais expõe preconceitos de pessoas e de instituições.

Qual o procedimento clínico com um paciente que se descobre homossexual, mas não sabe o que fazer?

Em relação a esta questão, pode-se afirmar que não há tratamentos padronizados, pois o psicoterapeuta lida com diferentes pessoas, as quais, em função da sua história individual de exposição às contingências de reforçamento, tiveram um desenvolvimento particular e requerem um relacionamento psicoterapêutico único. O psicoterapeuta não trata homossexuais, nem a homossexualidade. Ele lida com pessoas que apresentam tais e tais comportamentos, que são aversivos a elas próprias ou que produzem nelas sofrimento. Na queixa por você proposta, posso supor que a pessoa em questão deve ter sido exposta durante a sua vida a condições coercitivas significativas, as quais inibiram o desenvolvimento de algumas classes comportamentais, tais como livre expressão do que sente e pensa, prontidão para viver de acordo com seus próprios critérios, ao lado de excessiva preocupação com o que os outros pensam dela, bem como dificuldades para se comportar de maneiras (que imagina) que possam magoar as pessoas. Devem lhe ser próprios pensamentos, crenças e auto-regras que revelam dificuldades nas interações interpessoais, as quais, por fim, dão origem a excesso de comportamentos de fuga-esquiva inadequados. Em suma, é uma pessoa que se comporta sob a influência de regras formuladas por outrem e de auto-regras cerceadoras, mais do que sob influência, sem censura prévia, das conseqüências que os comportamentos emitidos produzem. É uma pessoa, possivelmente, com sentimentos de baixa auto-estima. O processo psicoterapêutico deverá levar o cliente a lidar de maneira competente com os controles coercitivos atuais, a superar seus déficits ou excessos comportamentais inadequados produzidos pela sua história de vida em contato com as contingências aversivas, a aprender a se comportar de modo a produzir conseqüências reforçadoras positivas para si mesmo (sempre evitando fazê-lo em detrimento do outro). O enfoque fundamental consiste em promover e libertar a pessoa em relação ao controle coercitivo interno e injusto, quer contingente a qualquer comportamento, com um enfoque abrangente, quer contingente a comportamentos homossexuais, com preocupação específica. Tem-se como objetivo último libertar a pessoa dos grilhões do controle coercitivo, que produzem dúvidas, inibições, medos, fobias, auto-avaliações neuróticas e, ao mesmo tempo, fortalecer nela a busca genuína de seus valores — aquilo que lhe é reforçador —, imersa em sentimentos de satisfação, bem-estar e elevada auto-estima.

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