RedePsi - Psicologia

Colunistas

Como vemos a Psicopatologia em Análise do Comportamento

Muitos sabem que a psicopatologia é uma disciplina fornecida na graduação de psicologia. Alguns sabem de sua importância para o contexto clínico, porém, poucos sabem de como ela é interpretada pela ciência da Análise do Comportamento, cujo a filosofia, muito diferente das abordagens psicodinâmicas, baseia-se nos pressupostos filosóficos do Behaviorismo Radical, no qual o comportamento é tido como fruto de interações entre sujeito – ambiente.

Para Gongora (2003), historicamente, mesmo que disponibilizada para graduandos de psicologia, a psicopatologia ainda é entendida como campo da psiquiatria, por isso, na década de 90, em algumas faculdades ainda víamos tal disciplina ministradas em grandes proporções por médicos com residência em psiquiatria. Atualmente, o cenário está mais heterogêneo e em grande parte das instituições de ensino, esta área de conhecimento ganhou espaço para ser ministrada por educadores de orientação psicodinâmica.

Dalgalarrondo (2000) aponta que a psicopatologia em psiquiatria concentra objetivos que permeiam a semiótica psiquiátrica, a classificação de sintomas, a análise de sujeitos com base em uma “normalidade” pré – estabelecida, e assim por diante. A psicopatologia sob o olhar psicodinâmico concentra objetivos que permeiam a análise de aparelhos psíquicos na constituição, manifestação, enfrentamento e sofrimento de doenças e sintomas, a administração de energias e pulsões e seu impacto nas estruturas de personalidade e assim por diante. A diversidade de olhares que trazem enviezadamente uma diferente visão de homem e mundo deram origem e diferentes tipos de psicopatologia: A) Descritiva; B) Dinâmica; C) Médica; D) Existencial; E) Categorial; F) Dimensional; G)Biológica; G) Sociocultural; H) Operacional; I) Fundamental; J) Psicanalítica e K) Comportamental, ao qual é o foco desta coluna.

 

Cada psicopatologia agregou / agrega ao campo clínico suas especificidades. Achei interessante relevar as contribuições da clínica comportamental, pois ainda é pouco difundida no meio acadêmico.

Skinner (1974) reafirma o seu interesse acerca da incógnita que preocupa muitos psicólogos: “por que os organismos agem como agem?”, e através do arcabouço teórico da análise do comportamento, este autor propõe via análises funcionais de comportamentos únicos, fruto de cada relação sujeito – ambiente, que os comportamentos tidos / ditos socialmente como “psicopatológicos” fossem o objeto de estudo do cientista do comportamento, afim de se buscar ordem entre os eventos, afim de chegar à raiz do comportamento, de uma explicação funcional (e não mecanicista!) de “por que” os sujeitos agem como agem.

 

Gongora (2003) aponta que já na década de 1960 a AEC (Análise Experimental do Comportamento) já havia consolidado muitas de suas pesquisas de laboratório a demonstração de uma série de princípios básicos do comportamento (patológicos ou não). Muitos dos estudos experimentais com animais infra – humanos em análise do comportamento agregaram grandes e importantes contribuições ao campo de psicologia, psicofarmacologia, psicopatologia, neurociências e assim por diante.

Esta imagem de laboratório é comumente interpretada por alguns psicólogos como o fato que transforma a Análise do Comportamento em uma ciência mecanicista. Pelo contrário, afirmo, a Análise do Comportamento preocupa-se com as variáveis e determinantes que afetam a conduta humana, busca uma avaliação / análise funcional de comportamentos, contextualizando-os em uma cultura, em um ambiente, em uma contingência. O laboratório lhe dá um rigor científico, teórico e conceitual que realmente a diferencia de outras abordagens e visões de homem e mundo, rigor que permite uma analogia entre estudos empíricos controlados x comportamento humano tão complexo e multideterminado.

É o caso dos experimentos tradicionalmente estudados e indispensáveis na graduação de psicologia: O cachorro de Pavlov (teoria do comportamento reflexo), O rato de Skinner (Teoria do comportamento operante, generalização, discriminação, aprendizagem, dentre outros conceitos), e assim por diante. Nos E.U.A. cientistas do comportamento já deram início ao estudo da modelagem de comportamentos em abelhas! Em todo lugar do mundo onde ensinam-se a ciência comportamental, alunos não estarão livre da prática de laboratório. E é lá, que ele vai aprender a observar como a relação entre sujeito – ambiente altera o comportamento do sujeito e modela seu repertório de vida.

 

Nesta ciência, onde o comportamento é multideterminado e transforma-se conforme a relação entre o sujeito – ambiente, a conduta humana é tida como mutável e adaptativa às contingências (Controle de estímulos, esquemas de reforçamento, situações antecedentes, contextos e conseqüências, etc.), portanto, pensar em um comportamento patológico em análise do comportamento é pensar em um comportamento que é NORMAL / NATURAL, pois foi adaptado pelo organismo a uma gama de contingências X, mas que é socialmente inadequado e que pode causar sofrimento ao organismo que se comporta.

 

Gangora (2003) discorre minuciosamente como a filogênese, a ontogênese e a cultura são cruciais na interpretação e compreensão de “psicopatologia” em Análise do Comportamento. A sociedade espera que as pessoas ajam de determinada forma, a isso, aprendemos a chamar de “NORMAL”. Estatísticos tabulam a média através da freqüência e ocorrência de fatos. Tudo que sair desta média, aprendemos a dizer que é “ANORMAL”.

Normal ou Anormal, não é função de nenhum psicólogo ser conivente com julgamento de valores. Sob a ótica comportamental, normal ou anormal, o comportamento humano é fruto de contingências e merece que o psicólogo se debruce conceitualmente, cientificamente, eticamente sobre a demanda clínica que afeta o seu cliente.

 

Para esta vertente teórica, o homem não é rotulado como um “chek list” de sintomas e rótulos, ele traz à clinica uma série de comportamentos que estão sob controle de diferentes variáveis e que não estão desvinculadas de sua história de vida. Ele traz comportamentos adaptados às relações com o mundo a sua volta e “cura” não depende única e exclusivamente deste “adoecido sujeito”, ou só do terapeuta. Lembrem-se que o comportamento é tido como fruto da relação sujeito – ambiente. O Homem modifica o ambiente e é modificado por ele. O comportamento vai sendo modelado e muda os rumos mediante aos estímulos pelos quais é afetado.

 

Pensando desta maneira, um depressivo bipolar que chega à clinica é mais do que uma “lista ambulante” de sintomas, é um sujeito cujo sintomas tem uma função diferente em sua vida dos demais “milhões” de adoecidos no mundo, um sujeito único, com relações únicas, com sofrimento único, mas que pode ser submetido às leis funcionais do comportamento.

Para finalizar, a Análise do Comportamento não descarta as contribuições dos manuais diagnósticos e estatísticos, ela simplesmente amplia o olhar sobre eles que em sua grande parte, focam única e exclusivamente respostas e topografias de comportamentos, o que consiste apenas em uma pequena parte da tríplice contingência. Tais manuais são usados nesta vertente teórica para dar “dicas” comportamentais ao terapeuta, mas não para substituir ou direcionar a avaliação / análise funcional do qual cada comportamento é função.


Bibliografia

 

Dalgalarrondo, P. (2000). Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. São Paulo: Artmed.

 

Gangora, M.A.N (2003). Noção de psicopatologia em Análise do Comportamento. Em: Primeiros Passos em Análise do Comportamento e cognição. Costa, C.E, Luzia, J.C e Sant’ana, H.H.N Org.São Paulo: Esetec.


Skinner, B.F (1974). About Behaviorism. New York: Knopf.

One thought on “Como vemos a Psicopatologia em Análise do Comportamento”

  1. gostaria de saber mas sobre a psicologia e comportamento

Comments are closed.

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter