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Tempo, tempo, tempo.

Recentemente li um artigo que refletia sobre as tradições de fim de ano como a comemoração do Ano Novo. Falava sobre a divisão do tempo em anos e que isso fazia parte de um projeto motivador do homem para o próprio homem. Dizia ainda que 12 meses é tempo mais que suficiente para se estar cansado e precisando de um recomeço, ou melhor, de um novo ano.
Esse artigo veio de encontro com uma reflexão dessas que fazemos mesmo sem querer no fim do ano, seguindo mais uma tradição, que é a de refletir, passar o ano a limpo, fazer uma auto-avaliação, propor mudanças, uma nova dieta, um novo namorado, um novo relacionamento com a mesma pessoa, ter aquela conversa tão adiada, dar aquele telefonema pendente, pagar as dívidas, começar a caminhar. Enfim, as mesmas promessas, que repetimos sempre, seja por acreditar realmente que iremos cumpri-las no ano que se inicia, seja por acreditar que de fato é impossível começar um novo ano sem elas, mesmo que lá no fundo, no fundo do coração, não se tenha a menor intenção de cumpri-las.

É claro, não podemos negar que algumas tradições invariavelmente mudam, vão se adaptando à época. Afinal de contas, onde foi parar o aniversariante? Ele mesmo, o menino Jesus. Está cada vez menos parabenizado, embora continue sendo solicitado durante todo o ano. De certa forma, esse artigo trouxe uma resposta para a minha questão. Está certo, a divisão do ano em períodos de 12 meses é uma convenção, é isso mesmo? Desta forma, não importa se são 12 meses, 10 meses, 14 meses; foi convencionado assim. Com que intenção? Por que temos a necessidade de organizar o tempo em períodos? O tempo, esse nosso amigo, impiedoso, nos acompanha e nos cobra seu preço. Ele também é celebrado com a grande “virada” do ano. Algo de mágico acontece e toca o coração das pessoas. Com todas as exigências que o final do ano nos reserva, o tempo nos sinaliza com sua força que ele está passando e nós, simples humanos, mortais, tentamos negociar com ele através de nossas promessas. Seremos pessoas melhores, homens e mulheres, filhos e pais melhores. Pedimos “apenas” um pouco mais de… tempo. E o que dizer da família no final do ano? O final do ano nos exige presença, confraternização, almoço na casa da avó, da sogra, da mãe. Sem chance de negociação. Discussões, estresses, cozinha, enfeites, presentes, pisca-pisca, discussões, estresses, compras, cerveja, peru, parentes, discussões, estresses e a eterna negociação de divisão do… tempo. Entre a minha, a sua e a nossa família.Temos também as promessas de última hora. “No ano que vem não terá festa em minha casa, no ano que vem não irei ao shopping na véspera do Natal, no ano que vem…”e eu já nem me lembro mais.

Fiquei me perguntando, será que as famílias precisam também dessa convenção da “virada” do ano para um novo recomeçar, para olharem de verdade para si? Pra dizer que se gostam? Como seria se o ano não terminasse nunca? Seríamos menos felizes? Não sentiríamos que se tem uma nova chance, um ano novinho pra fazer a diferença? Fiquei me perguntando… apenas. Desejo a vocês um excelente fim de ano, boas tradições, boas reuniões familiares, saúde para todas as famílias e que venha um ano novinho em folha pra nós.

Até 2008, quer dizer, até daqui a pouco.  

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