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Por que alguns chefes são agressivos?

No campo de RH, em especial no subsistema de Relações Trabalhistas e Sindicais está em alta a discussão sobre abuso moral, abuso de poder e afins. Observa-se que desde as pequenas, médias, até as Organizações multinacionais estão sujeitas a uma discrepância quanto aos estilos de gestão entre departamentos, e conseqüentemente, diferentes tipos de relação entre funcionários – superiores.

A herança de teorias da administração (Fordismo, Taylorismo, Toyotismo, etc.) deixaram ao RH a difícil tarefa em modelar, flexibilizar e igualar internamente os estilos de liderança, driblando o turn-over e as limitações comportamentais de cada líder e grupo de trabalhadores, tentando desenvolvê-los em um cenário onde todo investimento em capital humano é considerado custo, se o retorno produtivo é de médio a longo prazo, a possibilidade de tal investimento é então, perdida de vista.

A falta de treinamento, de desenvolvimento humano e organizacional, a pressão por metas e outras influências características de um país subdesenvolvido afetado pelo capitalismo e globalização deixam "Gaps" (Lacunas) na dinâmica das relações humanas. Nestes Gaps estão os chefes que utilizam o seu cargo como sinônimo de autoritarismo, agressividade, abuso de poder, punição, coerção, chantagens, dentre outras topografias que merecem não apenas a atenção de um behaviorista radical, mas de qualquer psicólogo e profissional de RH.

À Luz do behaviorismo radical, para estudar a função de comportamentos ditos como agressivos, o psicólogo e / ou profissional de RH deve ter afiado, no mínimo os seguintes conceitos: Topografia de respostas, coerção, controle de estímulos e tríplice contingência.

   1. Topografia: O que é agressão? Embora utilizado com freqüência, o termo é vago. Pode ser agressão em vendas, agressão física, agressão verbal, agressão de leve, agressão pesada, agressão indireta e outra infinidade de "agressões". Em análise do comportamento, para chegarmos a raiz de um comportamento, é necessário entendermos o que estamos chamando de tal comportamento. Para estudar a agressão de "chefes", precisaríamos estudar a relação de cada chefe – empregado. Em uma empresa, onde por exemplo hajam um chefe liderando 15 funcionários, teríamos no mínimo 15 relações para estudar (a do chefe com cada funcionário). Pode ser que o considerado agressão por um colaborador seja totalmente o inverso do considerado por outro. Esta discrepância impacta na intervenção, por isso a importância de uma boa descrição de interações entre sujeitos (o que eles fazem, como fazem, em que contexto fazem, para quê fazem e o que ganham como conseqüência fazendo isso ou aquilo, e assim por diante).

   2. Coerção: Na linguagem do senso comum, por exemplo ser coagido (sob agressão ou ameaça dê…) para que façamos algo contra nossa vontade pode ser chamado de coerção, porém a coerção a que me refiro para análise do comportamento agressivo entre "chefes" e funcionários, é a coerção estudada por Sidman (2003), onde identificamos o uso de punição quando observamos que ocorre / ocorreu uma ação seguida ou pela perda de reforçadores positivos ou pelo ganho de reforçadores negativos. Tal forma de controle comportamental é reconhecida, porém não defendida por analistas do comportamento devido a gama de efeitos colaterais indesejáveis agregados a relação sujeito – ambiente.

   3. Controle de Estímulos: A punição cessa um comportamento provisoriamente. A exemplo de que os funcionários somente trabalham na presença do chefe, quando este saí, as pessoas diminuem o ritmo de trabalho. Um chefe agressor pode estar sob controle de vários estímulos: prestígio, reforço social, status, o aumento de produção dos funcionários na sua presença, a cessão de comportamentos indesejáveis dos funcionários, mesmo que provisoriamente, etc. Analisar sob controle de qual (is) conseqüência (s) uma pessoa é ou se mantém agressiva é de extrema importância em uma ciência do comportamento;

   4. Tríplice contingência: Esta ferramenta de análise do comportamento (em especial no nível das determinantes ontogenéticas) é que agrega a abordagem comportamental qualidades analíticas e funcionais ao contrário de pejorativos mecanicistas e deterministas. Ela estuda a relação entre sujeito e o ambiente sem recorrer a instâncias mentalistas ou dualistas, propõe ao cientista, uma observação empírica acerca do comportamento humano e portanto, propiciando-lhe um efetivo planejamento de intervenções e modelagem de comportamentos.

Os conceitos acima estão presentes na literatura da Análise do Comportamento e do Behaviorismo Radical. São facilmente encontrados e poderiam resultar infinitas páginas de discussões e reflexões, porém, para garantir o status de "coluna", tentamos estimular a reflexão dos leitores através de uma escrita mais simples, porém não menos científica de acesso a estudantes e formados da área de psicologia e RH.

Faço a ressalva de que a análise da relação "chefe" – funcionário, assim como qualquer outra, deve respeitar aspectos éticos e metodológicos, neste caso por exemplo, devemos levar em consideração, não apenas como o comportamentos destes funcionários mantém, mas passam a evocam e até instalar a agressividade alheia. Não cabe a uma análise psicológica o julgamento de valores. Não devemos direcionar o olhar para busca de quem está certo ou errado, mas para a forma em que estão estruturadas as contingências de reforçamento e portanto, adaptação dos seres que nela se comportam.

Modelagem de repertórios comportamentais empobrecidos, comportamentos socialmente inadequados, desenvolvimento de habilidades sociais, oxigenação de estímulos coercitivos tentando revertê-los a reforçadores positivos, desenvolvimento e treinamento de pessoas (individualmente ou em grupo) para que "vivam" em harmonia e tragam lucros às organizações contemplam alguns desafios encontrados por psicólogos organizacionais que atuam com a abordagem da análise do comportamento.

A Análise do comportamento aplicada às Organizações marca uma nova visão de compreender o homem e suas relações enquanto seres inseridos em postos de trabalho e empresas. "por que chefes são agressivos" é apenas um micro recorte do que esta abordagem vêem realizando na área organizacional.


Bibliografia:

Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações. Campinas: Livro Pleno.

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