A iniciação ocorre quando se ousa agir contra instintos naturais e o indivíduo se permite ser induzido em direção à consciência. Desde tempos imemoriais, os ritos de iniciação têm sido transmitidos preparando e fazendo paralelismo com as transições significativas da vida que envolvem tanto o corpo como o espírito; como, por exemplo, na puberdade. A complexidade de tais cerimônias sugere a amplitude e profundidade do continente ritual necessário quando a energia psíquica precisa ser desviada de um hábito adquirido para uma atividade nova e inabitual. O que ocorre para o iniciado é uma mudança ontológica, mais tarde refletida em uma mudança reconhecida também em um status externo. Ademais, usando a puberdade como exemplo, um menino se torna um homem, assume responsabilidade e se afasta da casa de seu pai. De um modo significativo, o indivíduo é iniciado não no conhecimento, mas no mistério, e o "conhecimento" assim adquirido pode ser designado de gnose.
Todas as iniciações envolvem a morte de uma condição menos adequada e o renascimento de uma condição renovada e mais adequada (isto é, transformação); daí os rituais são tão misteriosos como aterradores, pois o indivíduo é levado frente a frente com a numinosidade da imagem de Deus ou do self, sendo compelido pelo inconsciente em direção à consciência. Relaciona-se ao sacrifício e é esse sacrifício, mais que quaisquer tormentos ou torturas, o que produz o sofrimento. Portanto, os ritos antecipam um estado liminar ou transitório, correspondente à perda temporária do ego. Em virtude disso, o iniciado precisa estar acompanhado por alguém, sacerdote ou mentor, uma personalidade mana, capaz de assumir a transferência projetada daquilo em que o iniciado irá se tornar, embora, de início, o conteúdo da projeção possa tomar a forma de alguém que está impedindo aquele mesmo iniciado de se transformar. O relacionamento entre os dois, iniciado e iniciador, é simbólico. Durante o processo iniciatório realiza-se no indivíduo uma recombinação de opostos, uma coniunctio envolvendo espírito e matéria.
A iniciação é de fundamental importância na vida psicológica, e todas as cerimônias externas adaptam-se a um padrão psicológico inato de mudança e crescimento. O rito ou a cerimônia simplesmente salvaguarda a pessoa ou a sociedade contra a desintegração enquanto uma profunda e penetrante mudança se realiza. Portanto, não é surpreendente o que escreve Jung:
"A transformação do inconsciente que ocorre sob a análise a torna um análogo natural das cerimônias religiosas de iniciação, que, entretanto, em princípio, diferem do processo natural no fato de que antecipam o curso natural do desenvolvimento e substituem a produção espontânea de símbolos por um conjunto de símbolos deliberadamente selecionados, prescritos pela tradição."
Também não surpreende quando ele alega que "o único ‘processo de iniciação' que ainda está vivo e é hoje praticado no Ocidente é a análise do inconsciente, usado pelos médicos (clínicos) para fins terapêuticos".
A iniciação era uma poderosa imagem para muitos da primeira geração de psicólogos analíticos e, talvez por causa disso, a dicotomia entre abordagens psicológicas e dogmáticas se tornava aparente.
Gradativamente, uma confiança na iniciação como um processo imprevisível e imprevisto indicado pelo inconsciente deu margem ao delineamento de estágios da análise, a esboço de fases no processo da individuação, e, além disso, a determinação de níveis no treinamento de analistas.
Após a morte de Jung, Mircea Eliade, antropólogo e especialista em religiões comparadas (e orientador de PhD em Teologia do Autor deste verbete), que era um amigo íntimo e antigo colaborador, continuou trabalhando nos paralelismos entre a psicologia, a antropologia e a religião comparada (1968). Jung havia chamado a atenção para o fato de que a iniciação está ligada ao processo de cura; isto é, quando uma orientação psicológica ultrapassa sua vida útil, mas não lhe é permitido transformar-se, putrefaz-se e infecta todo o organismo psíquico. Escreveram sobre a iniciação e sua função puramente psicológica: Henderson (1967), Sandner (1979), Micklem (1980) e Kirsch (1982).