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Dicionário

BASAGLIA, Franco (1924-1980)

Originário de uma família vienense, formado na clínica neuro-psiquiátrica de Pádua, suas opções de inspiração política e fenomenoló­gica valeram a Franco Basaglia, no início de sua carreira, o exílio profissional, repre­sentado pela direção do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, na fronteira iugoslava.

Profundamente afetado pelas condições de vida nessa instituição, mas apoiado em suas decisões, peregrinou pelo estrangeiro (note-se a importante etapa na comunidade terapêutica de MaxwelI Jones), e depois, cer­cando-se de discípulos convictos, fez de Go­rizia o centro de uma experiência anti-institu­cional, tendo como postulados a gênese só­cio-cultural dos distúrbios mentais, o concei­to de doença mental ligado à marginalização das pessoas economicamente abandonadas e emocionalmente frágeis, o papel nefasto da medicalização, e como meio a horizontal i­dade dos papéis e a restauração do diálogo (quatro assembléias por dia, sendo duas ge­rais); muitos artistas, homens de letras, mili­tantes, iam a Gorizia para participar das reu­niões (alguns até se hospitalizavam), enquan­to as idéias de Basaglia, apesar da hostilidade mais ou menos marcada dos partidos políti­cos, se difundiam, apoiadas por textos e "se­minários volantes" em toda a Itália. O resul­tado de tudo isso foi, em 1968, a negação de toda comunidade terapêutica e de toda forma de repetição institucional, a oposição ao "se­tor psiquiátrico" como "ideologia de subs­tituição" e à psicanálise, veículo privilegiado da sociedade capitalista. No fim desse mes­mo ano, aparentemente desestimulado, exi­lou-se durante quase dois anos em Veneza, antes de começar um novo périplo através da Europa, Cuba e Estados Unidos.

Trabalhando em Trieste em 1971, fundou a associação Psiquiatria Democrática, onde suas teses, inicialmente aceitas, foram julga­das insuficientemente revolucionárias, por ocasião do terceiro congresso da associação, em 1978.

Enquanto seus seguidores e alunos se dis­persavam por toda a Itália, uma ampla pes­quisa feita pelos partidos políticos junto aos psiquiatras se concretizou na lei 180 de 13 de maio de 1978, que E. Balduzzi (Varese) resu­miu em três pontos: desaparecimento do constrangimento jurídico-policial e gestão democrática da saúde mental, supremacia ab­soluta dos serviços externos, com nítida su­bordinação do momento hospitalar (nos hos­pitais gerais) e fechamento dos hospitais psi­quiátricos, com proibição de abrir e organizar outros, dando razão a Basaglia, considerado pai dessa lei, apenas quanto ao terceiro ponto.

Pouco depois de sua nomeação como co­ordenador dos serviços psiquiátricos da re­gião do Lácio, o que foi a sua consagração, faleceu em Veneza a 29 de agosto de 1980.

Entre seus escritos (individuais ou em co­laboração, principalmente com sua mulher, France Ongaro), assinalemos "O que é a psi­quiatria?" de 1967; "A instituição negada", 1968; "Crimes de paz", 1975; "Majoração do desvio", 1977; e "O navio que naufraga", de 1978.

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