Marandon de Montyel nasceu a 4 de dezembro de 1851, em Fort-de-France, onde seu pai era funcionário público. Aprovado como bacharel em Bordeaux, foi durante um ano aluno na Escola de Medicina Naval de Toulon, antes de inscrever-se, em 1871, na Faculdade de MontpeIlier, onde defendeu uma tese em 1876, "Estudo médico-legal sobre um caso de loucura epiléptica". Foi residente no Asilo de Alienados de Montauban e orientou-se para a Psiquiatria. Depois de trabalhar em vários locais na província, foi nomeado em janeiro de 1888 médico-chefe em VilIeEvrard (Neuilly-sur-Marne). Doente, aposentou-se em abril de 1907 e morreu um ano a 20 de março de 1908, provavelmente de uma afecção do sistema nervoso, que limitara progressivamente a sua locomoção e tornara a sua caligrafia ilegível. Considerando que "as mulheres são nos asilos, mais ainda do que em outros lugares, um terrível elemento de discórdia", ele se casou, entretanto, em 1897.
Marandon de Montyel não deixou nenhuma obra de conjunto, mas sendo um "escrivômano", como definia a si mesmo, publicou de 1875 a 1906 mais de 200 artigos nos Annales Médico-Psychologiques, no Encéphale e nos Archives de Neurologie. Em matéria de clínica, suas idéias concordavam com a tradição francesa do momento: hereditariedade, degenerescência, recusa da demência precoce, que ele deixava para a escola alemã, "para conservar intacta essa grande descoberta da psiquiatria francesa que é o delírio sistematizado progressivo" (de Magnan). Foi no campo das instituições que ele expandiu o seu espírito liberal e contestador: abolição do sistema dos asilos-casernas fechados, que demonstraram a sua ineficácia terapêutica, criação de vilas-bairros "agrupadas em aldeias abertas de alienados", de asilos especiais para epilépticos e para aIcoolistas (para estes, foi o primeiro na França, em 1894, a reservar no seu serviço uma seção de 74 leitos, que depois seria retomada por Legrain), supressão das medidas de repressão, liberalização das visitas de família e das licenças, aumento do número de guardas para a segurança, dos doentes, supressão, para o pessoal médico, da promoção por tempo de serviço, o que só produzia preguiça e esterilidade.
Cáustico, incômodo, pouco inclinado a seguir a opinião da maioria e tentar conseguir a simpatia dos colegas, Marandon de Montyel estava muito à frente do seu tempo.