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Dicionário

MEDUNA, Ladislas-Joseph von (1896-1964)

Ladislas von Meduna era originário da Hun­gria. Depois de fazer estudos de medicina, que acabou em 1921 na Universidade Real de Budapeste, obteve em 1924 um posto de professor assistente no Instituto Interacadê­mico para a Pesquisa Neurológica, e três anos depois foi nomeado professor associado de psiquiatria. A partir de 1933, ocupou o cargo de médico-chefe do serviço dos pacientes masculinos no Hospital Leopold Field de Budapeste, mas, pouco tempo antes da entra­da na guerra do seu país, emigrou para os Estados Unidos, onde terminaria a sua car­reira na Escola de Medicina da Universidade de Illinois.

O nome de von Meduna está ligado à descoberta, em 1934, da convulsoterapia com metrazol, prelúdio à elaboração do ele­trochoque por Cerletti e Bini, quatro anos depois.

As bases teóricas que levaram à aplicação desse método repousavam sobre uma série de hipóteses que, todas elas, se revelariam fal­sas.­

Von Meduna, como ex-assistente no Ins­tituto Neurológico de Budapeste, teve oca­sião de estudar a epilepsia com o professor Karl Schaffer, e pensou ter observado, no nível do córtex cerebral dos epilépticos, uma proliferação do tecido de sustentação neuro­glial, contrastando com a sua rarefação no cérebro dos esquizofrênicos. Essas constata­ções nunca se confirmariam. Aliás, as obser­vações dos clínicos mostravam a raridade da coexistência dessas duas afecções no mesmo doente, outra afirmação que não refletia exa­tamente a verdade.

Mas, naqueles anos 1930, todos estavam convencidos da existência de um antagonis­mo biológico entre a epilepsia e a esquizofre­nia, e von Meduna chegou à idéia de que, se em um esquizofrênico conseguia-se provo­car crises epilépticas, seria possível agir fa­voravelmente sobre os sintomas esquizofrê­nicos. Assim, procurou produtos convulsi­vantes. Pensou primeiro na cânfora injetável e, em janeiro de 1934, tratou o seu primeiro paciente com esse processo. Mas a cânfora era difícil de manejar, muito lenta para agir e inconstante em seus efeitos convulsivantes. Von Meduna recorreu então a um derivado sintético, o metrazol, que utilizaria a partir de 1935 e que, por via intravenosa, desencadea­va em alguns segundos uma crise de epilepsia generalizada, com menos intercorrências do que os derivados canforados.

Permanecendo ligado à especificidade das indicações do seu método, publicou em 1937 o resumo da sua experiência em uma obra publicada em Halle Die Konvulsions­therapie der Schizophrenie, enquanto outros alienistas a aplicavam aos deprimidos, nos quais os resultados se mostravam mais regu­larmente satisfatórios.

O eletrochoque suplantaria o metrazol, mas a convulsoterapia tinha nascido. Seus fundamentos teóricos eram falsos, sua in­dicação na esquizofrenia não era boa, seu modo de ação permanece desconhecido; en­tretanto, ela prestaria serviços duradouros no tratamento das síndromes depressivas. Desa­creditada há mais de 70 anos, ela continua sendo ainda, a despeito das quimioterapias modernas, o tratamento mais rapidamente eficaz da melancolia.

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