Jacques Moreau nasceu a 3 de junho de 1804 em Montrésor (Indre-et-Loire), enquanto seu pai participava das campanhas de Napoleão. Começou seus estudos em Tours, no serviço de Bretonneau (de quem se tornaria, em 1856, tio por afinidade, quando o velho mestre, aos 78 anos, se casaria em segundas núpcias com sua secretária Sophie Moreau, que tinha 19 anos), continuou-os em Paris, e em
1826 obteve um lugar de residente junto a Esquirol, que acabava de chegar ao Hospital de Charenton. Defendeu sua tese em junho de 1830 e pouco depois partiu para a Suíça e para a Itália em companhia de um paciente do seu mestre, que em 1836, lhe propôs uma segunda viagem "terapêutica" de três anos pelo Egito, Núbia, Palestina, Síria e Ásia Menor. Desse périplo, no qual descobriria o haxixe, trouxe as Pesquisas sobre os alienados no Oriente; Notas sobre os estabelecimentos que lhes são consagrados em Malta, no Cairo, em Esmirna, em Constantinopla, que foram publicadas em 1843 nos Annales Médico-Psychologiques. Aprovado no concurso de médico-adjunto das seções de alienados dos hospícios em 1840, foi designado para o Hospital Bicêtre e alguns meses depois aceitou também, com Baillarger, auxiliar Mitivié na Casa de Saúde de Esquirol, que falecera. Em 1861, foi para a Salpêtriere, onde, até os 80 anos, sempre saudável, isento do limite de idade, continuou a visitar os seus pacientes com bastante regularidade. Morreu a 26 de junho de 1884.
Muito marcado pelos ensinamentos de Esquirol, e através deste, discípulo de Cabanis, Moreau de Tours dedicou sua tese à "Influência do físico relativamente à desordem das faculdades intelectuais e em particular na variedade de delírio designada pelo Sr. Esquirol pelo nome de monomania". "Considerava que a loucura era uma "afecção nervosa pura e simples" e que para tratá-Ia o médico "não devia procurar senão na medicina comum as armas de que necessita". Assim, não admitia o tratamento moral, a propósito do qual criou-se rapidamente um conflito entre ele e Leuret, seu colega de Bicêtre. Discordava também da virtude terapêutica do trabalho dos alienados e dos benefícios da especificidade arquitetural do asilo, "essa grande camisa de pedra", cara a Parchappe. Era na ação dos medicamentos que entrevia possibilidades novas de tratamento e de conhecimento da doença mental. Se se interessou pela ação da datura, da beladona, do clorofórmio e do éter, foi graças à sua obra Do haxixe e da alienação mental, publicada em 1845, que ele passou à posteridade. Em 1837, durante a sua viagem ao Oriente, aprendeu a conhecer os efeitos do cânhamo indiano, em cuja ação via "um meio poderoso, único, de exploração em matéria de patogenia mental", esforçando-se para "difundir o seu conhecimento no público médico", prefigurando os estudos modernos sobre as "fármaco-psicoses" experimentais por alucinógenos. São conhecidas as famosas descrições das sessões do "Clube dos Haxixins, que Moreau de Tours e o pintor Boissard organizavam no palacete Lauzun. A coisa em si não era absolutamente nova, e Brierre de Boismont lembrou, no seu tratado Das alucinações, que em 1840, assistira pessoalmente com Esquirol, o químico Bussy e diversas personalidades, a demonstrações semelhantes na casa de um certo Ajasson de Grandsagne, mas o que nesse caso não passava de simples exibição, assumia com Moreau de Tours uma dimensão completamente diferente, pois "por esse gênero de observação que só depende da consciência ou do senso íntimo", julgava poder remontar à "fonte primitiva de todo fenômeno fundamental do delírio", ao "fato primordial" gerador de todos os outros, e considerava o delírio como sendo de natureza "não apenas análoga, mas absolutamente idêntica à do estado de sonho". Levantava assim o eterno problema das relações entre o cérebro e o pensamento em termos muito modernos, que se encontrariam no centro do organodinamismo de Henri Ey .
Dos dois filhos de Moreau de Tours, Paul também faria uma carreira de alienista. Quanto a Georges, seria pintor histórico, mas também procurou inspiração, ocasionalmente, em temas médicos como em A morfina ou Os fascinados de La Charité, que representa uma sessão de hipnotismo no serviço de Luys.