Morichau-Beauchant nasceu a 1º de novembro de 1873 em Vivonne (Vienne), em uma família do Poitou, que em 1821 dera um diretor à Escola Secundária de Medicina de Poitiers, na pessoa de seu tio-avô, René-Pierre Maurichau-Beauchamps (1776-1832). Depois de terminar sua residência em Paris, trabalhou em Poitiers, onde foi nomeado professor suplente de medicina, e depois professor titular a partir de 1904. Foi talvez o seu gosto pela filosofia e pela psicologia que, com o seu conhecimento da língua alemã, o levou em 1909 ou 1910 a interessar-se pelas publicações de Freud, a quem escreveu no fim de 1910. Sabemos, por uma carta de Jung de janeiro de 1912, que Morichau-Beauchant fazia parte, então, do grupo de Zurique, mas parece que depois da guerra ele se distanciou do movimento freudiano, cuja evolução não aprovava. Morreu em Poitiers a 6 de outubro de 1952.
Para o próprio Freud, Morichau-Beauchant foi "o primeiro francês que aderiu abertamente à psicanálise". A 15 de novembro de 1911, foi publicado, de sua autoria, na Gazette des Hôpitaux Civils et Militaires o primeiro artigo médico francês sobre a "Relação afetiva" no tratamento das psiconeuroses, termo pelo qual ele traduzia o de Übertragung, depois de hesitar entre "report" e "transfert" para "designar o conjunto dos sentimentos afetivos dirigidos ao médico durante o tratamento" analítico. Esse artigo objetivo e rigoroso seria seguido, no mesmo ano, de dois outros de menor valor sobre "As perturbações do instinto sexual nos epilépticos" e "O instinto sexual antes da puberdade", publicados no Journal de Médecine Française, em que Morichau-Beauchant tentava condensar as suas reflexões sobre os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, publicados em 1905 e ainda não traduzidos para o francês. Em 1922, o artigo do Paris Médical, "A falsa incontinência dos esfíncteres na criança, contribuição ao estudo do auto-erotismo paragenital", marcou o fim da participação oficial desse pioneiro no movimento psicanalítico.