De nacionalidade húngara, Adler (Aldalar, em língua magiar), nasceu a 7 de fevereiro de 1870, no subúrbio vienense de Rudolfsheim, onde seu pai, de uma família israelita de Burgenland, tinha um comércio de grãos. Depois de uma infância com problemas de saúde, entrou em 1888 para a Faculdade de Medicina de Viena, onde foi aluno, provavelmente, de Krafft-Ebing e de Benedikt, e obteve o seu diploma em 1895. Dois anos depois, casou-se com uma estudante russa, Raissa Timofeyevna Epstein, mas a união entre essa extremista revolucionária, amiga da mulher de Trotsky, e o socialista liberal que era Adler, seria muitas vezes tempestuosa. Em 1899, Adler instalou-se no bairro popular de Prater, quando em 1902, em circunstâncias pouco claras, ficou conhecendo Freud, e com Stekel, Kahane e Reitler, encontrou-se entre os quatro primeiros eleitos convidados para as "reuniões de quarta-feira" do nº 19 da rua Bergasse. Presidente da Sociedade Vienense de Psicanálise em 1910, foi eleito no mesmo ano, com Stekel, vice-presidente, para a direção da Zentralblatt für Psychoanalyse. Entretanto, já em 1908, surgiram entre Freud e Adler divergências doutrinárias que se acirrariam em fevereiro de 1911, por ocasião de uma comunicação de Adler sobre "O protesto masculino como questão central da neurose", na qual minimizava o papel do recalque na gênese das neuroses, insistindo na importância do sentimento de inferioridade. Tratava-se de nada menos do que reduzir o complexo de Édipo e enfatizar um "dinamismo psíquico mais amplo", o conceito de "protesto masculino". Em maio, a ruptura se consumou e Adler fundou a Sociedade de Psicanálise Livre, que se tornou em 1912 a Sociedade de Psicanálise Individual. Convertido ao protestantismo em 1904 e naturalizado austríaco em 1911, foi mobilizado em 1916 para um centro de neuropsiquiatria, interessando-se, nessa ocasião, pelas neuroses de guerra. Em 1920, a chegada ao poder dos sociais-democratas propiciou um movimento reformador em Viena, que permitiu a Adler pôr suas teorias em prática, criando grupos de trabalho e de assessoria aos educadores, para esclarecê-Ios sobre o comportamento das crianças-problema. Em 1924, foi nomeado professor no Instituto Pedagógico de Viena. Nessa mesma época, fez conferências na Inglaterra e nos Estados Unidos, o que tomava cada vez mais o seu tempo, e em 1934, preocupado com a ameaça nazista, fixou-se definitivamente em Nova York, onde se reencontrou com sua mulher. Voltando à Grã-Bretanha para fazer uma nova série de cursos, foi abatido por uma crise cardíaca em uma rua de Aberdeen a 28 de maio de 1937, sendo cremado em Edimburgo.
Mais do que nas de Freud, é certamente nas obras de Kant e de Leibniz, de Nietzsche e de Karl Marx, que estão as fontes do pensamento de Adler. Suas primeiras publicações conhecidas são artigos de jornais sobre a necessidade, para o Estado, de assumir um papel educativo em matéria de saúde, e um raríssimo opúsculo editado em 1898, "O livro de saúde para os alfaiates", onde se expressa a idéia de que as condições sociais podem ser a causa de doenças. Essa noção se repete freqüentemente em sua obra, e, quando em pleno período "freudiano", Adler desenvolveu suas teorias mais originais, foi para formular a hipótese de que os estados de inferioridade orgânica (lembre-se que ele foi uma criança raquítica e pouco saudável) e às vezes social, estão na origem de um processo de compensação psicológica e de protesto masculino (no sentido, despojado de qualquer significado sexual, de uma superestimação social tradicional do homem em relação à mulher). Ao longo de uma evolução que o separou radical e definitivamente de Freud, recusou a origem sexual das neuroses, nas quais via precisamente a conseqüência de um sentimento de inferioridade não-compensado. Do mesmo modo, negou a situação de conflito intrapsíquico entre as instâncias antagonísticas do Id, do Ego e do Super-Ego, para afirmar, em 1927, em "Conhecimento do homem", o princípio da unidade fundamental do ser humano. Concebeu assim a psicologia como uma dinâmica das relações interpessoais, fazendo referência ao que chamou de sentimento comunitário.
Assim, elaborou-se uma Psicologia Individual que levava em conta a situação do indivíduo no interior do grupo, e que deu origem a um método de psicoterapia mais breve e mais flexível do que a psicanálise, propondo ao paciente e ao terapeuta uma relação mais igualitária e recorrendo mais à finalidade do objetivo a atingir do que à causalidade dos distúrbios.