Criando uma fórmula milagrosa que serve para todas as etnias e impõe um modelo único de tentativa de amparar o sujeito do desamparo. O fato é que de alguma forma muitas pessoas têm encontrado hoje em dia no desamparo o amparo. Lembra a busca do prazer no desprazer, porém, o amparo no desamparo cria uma falsa sensação de que tudo é normal e que a violência não é mais tão assustadora como antes, aliás, muitas vezes esses que vivem a sensação de que tudo é normal se perde no jogo em que o desejo de amparo se desvincula de um pacto social mais saudável.
Há poucos dias uma senhora ligou a televisão e disse ao neto: “Deixa ligada nesse canal por que eu preciso, eu desejo assistir” o neto em seguida disse: “Mas, é sangue e tem um homem morto, manchado de sangue em pleno horário do almoço!”. A reação na hora da avó ao neto foi: “Isso é normal, é tudo normal nem me assusto”.
Pensar que o sujeito do tempo dito “moderno” aceita e abre a porta de sua casa permitindo a programação de sangue entrar e compartilhar de momentos que são fundamentais. Viver uma vida sem perdas é talvez viver perdido, aliás, quem perde ou suporta a dor da perda e elabora, passa a compreender que a vida também é dor, é perda, é a sensação de imprevisibilidade de que nem tudo é controlável, manipulável, ou mesmo, tão insuportável, aliás, talvez o que esteja faltando é um pouco mais de paciência já que para elaborar é necessário tempo e aceitar a lidar com o imprevisível. Como diz Shakespeare: “Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente." (William Shakespeare).