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Quando o desamparo também ampara

Tempos de desamparo são os ditos tempos “modernos”, ligar a televisão no contexto contemporâneo é se deparar com um repertório repleto de sintomas sociais do desamparo. Dizem que aquele que ama também desampara e quem desampara também ama mesmo que de uma forma muito peculiar.
A questão não se limita ao simples desembaraçar da sensação de estranheza gerado pelo desamparo, talvez nem se limite a nenhum fator que tente de alguma forma tente modificar tal sensação. Mas, será que alguém tem um Prozac aí? Talvez nem seja mais necessário tanto Prozac, ou mesmo, comprimidos mágicos que ajudem ao sujeito moderno a lidar melhor com seu desamparo. Há algum tempo receitas baseadas em culturas ancestrais prometiam uma “cura” para os problemas que desamparam o sujeito e nem tudo foi um banquete à altura das promessas e expectativas de sujeitos que cada vez mais não suportam e nem conseguem vivenciar a elaboração de que a vida também é feita de desamparo. O fato é que promessas milagrosas como de comprimidos mágicos tentam criar uma forma de moldar e excluir a individualidade de cada pessoa.

Criando uma fórmula milagrosa que serve para todas as etnias e impõe um modelo único de tentativa de amparar o sujeito do desamparo. O fato é que de alguma forma muitas pessoas têm encontrado hoje em dia no desamparo o amparo. Lembra a busca do prazer no desprazer, porém, o amparo no desamparo cria uma falsa sensação de que tudo é normal e que a violência não é mais tão assustadora como antes, aliás, muitas vezes esses que vivem a sensação de que tudo é normal se perde no jogo em que o desejo de amparo se desvincula de um pacto social mais saudável.

Há poucos dias uma senhora ligou a televisão e disse ao neto: “Deixa ligada nesse canal por que eu preciso, eu desejo assistir” o neto em seguida disse: “Mas, é sangue e tem um homem morto, manchado de sangue em pleno  horário do almoço!”. A reação na hora da avó ao neto foi: “Isso é normal, é tudo normal nem me assusto”.

Pensar que o sujeito do tempo dito “moderno” aceita e abre a porta de sua casa permitindo a programação de sangue entrar e compartilhar de momentos que são fundamentais. Viver uma vida sem perdas é talvez viver perdido, aliás, quem perde ou suporta a dor da perda e elabora, passa a compreender que a vida também é dor, é perda, é a sensação de imprevisibilidade de que nem tudo é controlável, manipulável, ou mesmo, tão insuportável, aliás, talvez o que esteja faltando é um pouco mais de paciência já que para elaborar é necessário tempo e aceitar a lidar com o imprevisível. Como diz Shakespeare: “Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente." (William Shakespeare). 

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