RedePsi - Psicologia

Colunistas

Transtorno Obsessivo Compulsivo = TOC = Parte II

Concluímos o trabalho sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), enfocando os conceitos funadamentais de analidade, agressividade e pulsão de morte. O surgimento da fantasia sobre a existência do “pênis anal”para ambos os sexos, também se faz presente, constituindo um dos pilares fundamentais na elucidação dessa patologia.

Estudo sobre a analidade, agressividade e pulsão de morte:
Partimos da observação daquilo que Freud denominou de traços de caráter e, que estariam relacionados com o erotismo anal da criança. Como características manifestas encontraríamos: a ordem, a parcimônia e a teimosia, as quais adviriam do erotismo anal sublimado.

Posteriormente, localizaríamos o surgimento da noção de uma organização pré-genital, onde as pulsões parciais dominantes seriam as sádicas e as erótico-anais.

Num princípio estamos diante do auto-erotismo, onde verificamos uma busca de satisfação por parte de cada pulsão parcial no próprio corpo, muito embora de forma independente. A posteriori, ocorreria uma síntese das mesmas, caminhando para a eleição de objeto, sob a primazia dos genitais e a serviço da reprodução. Mesmo assim, ainda não se poderia encontrar uma primazia da zona genital. Freud, nessa época, coloca vários questionamentos quanto aos destinos ulteriores das pulsões erótico-anais.

Na mesma época, Freud também ressalta a impressão geral sobre a existência de conceitos como: fezes, dinheiro, presente,bebê e pênis e, que existiriam de forma indiscriminada nos produtos do inconsciente. Sabemos que na defecação, fica colocada à criança, a necessidade de uma primeira tomada de decisão entre sua disposição narcisista e o amor a um objeto. Como um exemplo dessa indiscriminação, citamos os dizeres de um paciente de Freud, o qual referia-se à massa fecal, como sendo a "barra fecal". Esta, seria o primeiro pênis e, a mucosa por ele estimulada, a do intestino, seria a representação da mucosa vaginal. Nos neuróticos obsessivos, estaria presente uma degradação regressiva da organização genital, a qual consiste em transferir ao anal, todas as fantasias originalmente genitais, ocorrendo uma substituição do pênis pela massa fecal e, da vagina pelo intestino.

Da leitura atenta dos trabalhos de Freud, podemos apreender que o mesmo aponta para uma concretude sem saída, muito em função do referencial teórico dos "Três Ensaios" (1905). Mais tarde irá reformular este ponto de vista, apontando para uma forma de vinculação anal com o mundo, como uma estrutura dinâmica, uma forma de relacionamento e, basicamente uma relação de controle sobre o outro.

Passaremos agora ao estudo das considerações de André Green sobre "A Metapsicologia da neurose obsessiva", onde o autor destaca o valor considerável que tem, para ambos os sexos, o pênis anal como fundador da generalidade do pênis e, consequentemente da castração. Assim, o pênis anal é valorizado em ambos o sexos, mas de forma diferente. No menino, estaria na raiz da homossexualidade, através da erogenização da zona anal, implicando na desvalorização fálica. Na menina, seria o sustentáculo da expectativa de ter um bebê, bem como a do crescimento do pênis (teorias sexuais infantis). O objeto anal deve ser entendido como sendo um objeto de mediação, o qual encontra-se articulado com a linguagem: "Diga-me quando queres fazer". Essa mediação origina-se de uma lei proveniente do Outro, culminando na institucionalização da mesma.

Qual a relação existente entre o objeto anal e o sintoma obsessivo?
(Green):

Devemos pensar na existência de um paralelo onde se aproximaria a situação da obsessão no pensamento, com a do objeto anal no ventre. "A obsessão nunca deve entrar em contato com o desejo, assim como o sujeito não deve tocar nas suas fezes".

No que concerne à agressividade:

Nos defrontamos com a situação onde as catexias sádicas da fase genital unem-se às da fase anal, dominando assim as relações de objeto. Nesse momento Green retoma a citação de Freud sobre o "Homem dos ratos", onde uma vez que o pensamento encontra-se muito sexualizado, torna-se importante o reconhecimento de que esta catexia, contém a marca da pulsão de destruição. Assim sendo, "não basta dizer que no obsessivo, odiar e gozar são equivalentes. Uma vez que o obsessivo mantém a distância entre ele e o objeto de seu desejo fantasiado, não será no seu encontro , onde a pulsão de morte se manifestará melhor, mas sim na separação que controla esses dois extremos. É necessário proteger o desejo de destruição, para que este adquira vida eterna".

Quanto à identificação edípica do homem dos ratos:

"Podemos pensar que a identificação edípica do homem dos ratos , estaria apoiada na interdição ou hostilidade uma vez que, nesse cenário imaginário estão em jogo, a obrigação de ser como o pai, mas sem poder usufruir de seus privilégios".

Gostaríamos de encerrar essa segunda parte do trabalho, com uma citação de Freud, datada de 1907:

" A neurose obsessiva parece uma caricatura ao mesmo tempo cômica e triste, de uma religião particular".

Bibliografia Complementar:

Sauri, Jorge J. === "Las Obsessiones"

Editora Nueva Visión.

Freud, Sigmund === "O homem dos ratos"

Obras Completas === Ed. Amorrortu

Green, André === "Narcisismo de vida e Narcisismo de morte"

"O discurso vivo".

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter