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Psicanálise: No Túnel do Tempo

Com esse trabalho objetivamos fazer uma volta aos primórdios da psicanálise, enfocando prioritáriamente, os nomes daqueles homens que mais contribuiram com Freud para a concretização do seu intento.

No início da psicanálise, foram quatro homens que ajudaram Freud a construir a sua história, a saber: Max Eitingon, Karl Abraham, Ernest Jones e Sandor Ferenczí. O fizeram através de publicações, debates, levantamento de fundos, assim como pela formação de analistas. Suas contribuições não se ativeram à teoria, mas sim apresentaram contribuições clínicas não menos importantes. Sabe-se que a relação de Freud com esses homens, embora tensa, foi muito construtiva para todos.

Max Eintingon era assistente do Hospital de Doenças Mentais Burghölzli, tendo como seus superiores os Drs. Bleuler e Jung, tendo sido eles que lhe chamaram a atenção sobre os trabalhos de Freud. Eitingon foi a Viena em 1907, para uma consulta com Freud a respeito de um paciente "intratável". Além de ter a sua amizade com Freud estabelecida, também ocorreram algumas "sessões analíticas" das menos convencionais. Andavam a pé por Viena, enquanto Freud analisava o seu novo colaborador. Segundo Jones, esta teria sido na verdade, a primeira "análise didática". Eitingon possuía uma certa independência financeira, enquanto seu colega Karl Abraham, tinha que lutar pela sua sobrevivência.

Ernest Jones descreveu Abraham como uma pessoa "auto-contida". Abraham também encontrou Freud pela primeira vez em 1907. Também trabalhou em Burghölzli, mas depois de conhecer Freud, abriu uma clínica psicanalítica em Berlim. Foi uma empreitada difícil devido as suas condições financeiras. Interessante ressaltar que durante anos, Karl Abraham foi o único psicanalista em Berlim. Em 1908, fundou a Sociedade Psicanalítica de Berlim, a qual contava com apenas cinco membros. Em 1911, Abraham já conseguia trabalhar oito horas por dia, tendo sua clínica em franca expansão. Estudou o voyeurismo, além de ter escrito vários artigos sobre o desenvolvimento da libido. Note-se que esses trabalhos de Abraham, mais tarde serviram ao próprio Freud em relação à temática da libido.

Ernest Jones procurou por Freud em 1908 no Congresso de Psicanálise de Salzburg, onde teria ouvido Freud discorrer sobre o caso do "Homem dos Ratos". Em 1911, ajudou na fundação da Sociedade Psicanalítica Americana. Voltou para Londres e paticipou da formação da Sociedade Psicanalítica de Londres, a qual contava com apenas nove membros. Em 1913, Jones realiza a sua análise didática(breve) com Sandor Ferenczí.

No tocante à Ferenczí, costuma-se dizer que de todos foi o mais vulnerável e complexo entre os primeiros analistas, tendo se constituído num "fardo emocional" para Freud, segundo suas próprias palavras. Foi em 1908 que Ferenczí solicitou a Freud uma entrevista. Tendo ficado amigos, viajaram juntos para a Sicília em 1910. Esta viagem, segundo declarações do próprio Freud, não teria sido de todo aproveitável uma vez que Ferenczí demandava que ele ocupasse o tempo todo um papel de pai carinhoso para com ele.

Depois dessa fase, teve início um período que muito entristeceu Freud, uma vez que teria recebido as críticas mais cáusticas e severas dos acadêmicos de psiquiatria da época, os quais repudiavam com veemência todas as suas idéias. Apontavam as suas críticas para os seus trabalhos sobre "A Interpretação dos Sonhos", identificando as declarações de Freud como absurdas, além de reprováveis quanto à sexualidade infantil.

Apenas a título de exemplo quanto a essas críticas a Freud, citaremos as que foram feitas pelo eminente sexólogo de Berlim, Dr. Albert Moll, o qual publicou um livro sobre a vida sexual das crianças. Contestou nesse trabalho, tudo o que Freud havia dito sobre a sexualidade infantil (durante uma década).

Por outro lado, também existiam alguns adeptos da teorização freudiana, pessoas de renome como o não menos eminente neurologista James Jackson Putnam, o maior defensor de Freud nos Estados Unidos. Dessa forma, a corrente contrária à psicanálise nessa época, era muito maior que a corrente que estava em sintonia com as idéias psicanalíticas. Lou Andreas-Salomé, a quem já me referi em outro artigo, tendo citado também o pastor protestante Oskar Pfister, foram incansáveis defensores do método psicanalítico, tendo além disso exercido a psicanálise clínica.

Desses quatro homens, sabe-se que Ernest Jones foi aquele que cuidou muito do aspecto "político" dentro das sociedades psicanalíticas. Além de ter sido esse um papel importante, costuma-se também dizer, nos bastidores da psicanálise, que Jones teria exercido o poder de forma tendenciosa, como por exemplo, retardando o surgimento das obras de Sandor Ferenczí, as quais na contemporaneidade, felizmente tem sido devidamente consideradas.

Quero resgatar o dito em parágrafos anteriores, quanto às Sociedades Psicanalíticas de Berlim e de Londres, as quais contavam com apenas cinco e nove membros respectivamente. Se fizermos uma comparação com o número de candidatos às Sociedades Psicanalíticas na contemporaneidade, poderemos notar um grande aumento no número de profissionais que batem às suas portas, no intuito de tornarem-se psicanalistas.

Uma outra consideração que me parece importante, é quanto à acirrada disputa existente entre os discursos psiquiátrico e psicanalítico, o que resulta em um gravíssimo erro de julgamento, uma vez que encontram-se em campos de aproximação da natureza humana diferentes. Infelizmente ainda existe muita ingerência quanto a essas duas áreas de atuação. Vemos dioturnamente, psiquiatras medicando os seus pacientes de forma totalizadora na abrangência a que se propõem, mas extremamente reducionistas, entendendo o indivíduo humano, como sendo o resultado de um desequilíbrio à nível dos neurotransmissores. Assim procedendo, estão prestando um desserviço aos pacientes, sendo que acabam por realizar uma espécie de "obturação" quanto as angústias e conflitos, tornando os seres humanos como no dizer de Elisabeth Roudinesco, muito educados, porém extremamente infelizes.

O respeito mútuo dentro de uma equipe multidisciplinar, me parece o antídoto para esse tipo de "veneno", inoculado em nome da ciência.

Bibliografia auxiliar

Karl Abraham: " Teoria Psicanalítica da Libido ".

Sandor Ferenczí: " Diário Clínico ".

Elisabeth Roudinesco: " Por que a psicanálise ? ".

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