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Considerações sobre o Objeto da psicanálise

Falar sobre o “objeto” da psicanálise,torna-se sumamente importante para que se possa abordar esse construto teórico de um ponto de vista metapsicológico.

Observações sobre o objeto da psicanálise:

Para tratarmos aqui do objeto da psicanálise, me parece importante enfocarmos primeiro a própria psicanálise, assim como os conseqüentes questionamentos quanto ao seu estatuto de ciência.

Coloca-se então a questão: " será possível tratarmos da oficialidade da psicanálise, assim como de seu reconhecimento? "

Se optarmos pela existência desse "pleno direito", estaremos diante de um grande equívoco, uma vez que a questão que se colocaria é a de que contra quem ou mesmo contra o que deveria lutar psicanálise? Entendemos que o que devemos ter em mente, é que o objeto próprio da psicanálise é uma dimensão nova, a qual pode perfeitamente ser chamada de irracional. Por esse termo, entendemos desde Pitágoras, que não possui nenhuma medida comum e que o que deve ficar evidenciado é a relação existente entre a natureza do objeto e as conseqüentes dificuldades quanto à sua captação.

Nessa linha de raciocínio, isto é, das dificuldades quanto à captação do objeto da psicanálise, coloca-se então a questão: "como uma representação inconsciente pode vir a ser uma representação consciente?" . Ao perseguirmos a resposta a essa questão, devemos reconhecer como parte do "caminho", que o inconsciente freudiano não se apresenta como uma espécie de inverso, de seu complemento que seria a consciência. O próprio Freud sempre descreveu o inconsciente como "algo de uma outra ordem ,diferente no sentido de uma cisão, ou mesmo de uma alteridade radical.

Assim, o que significa o termo "Vorstellung" na linguagem freudiana? A melhor resposta nos parece podermos entender que "a representação é a forma em que se inscreve no psiquismo, a emoção suscitada pela "pulsão". A pulsão em sí é um fenômeno "orgânico" em sua origem e que não aparece senão como sendo um conceito limite entre o psíquico e o somático". Em outras palavras, se uma pulsão não estivesse "ligada" a uma representação, se não se traduzisse por um estado afetivo, não poderíamos ter qualquer "notícia" quanto a sua existência. Na linguagem energética de Freud, a representação constitui um processo de carga, da fixação da energia sob uma forma, um traço, enquanto o afeto constitui um processo de descarga parcial da energia. Uma outra "parada" em nosso percurso, onde se coloca uma outra questão: " Quando uma representação se transforma e passa do sistema inconsciente para o consciente ou mesmo pré-consciente, será que deveremos admitir que nessa transposição se produz uma nova fixação, de algum modo uma nova inscrição dessa representação?". Ou ainda: " Será que a transformação é uma dança de estado que se realiza com a ajuda do mesmo material e uma mesma localização?". Teremos que nos colocar essa questão se queremos ter uma idéia mais clara da tópica psíquica, da dimensão psíquica.

De qualquer forma, tenhamos claro que para se passar de um sistema a outro, há que se suspender a repressão.(= termo entendido sempre no sentido do recalcamento.).

Para Freud, estamos diante de duas hipóteses:

+ é que a fase consciente da representação, corresponde a uma nova inscrição de uma representação em outro lugar.

+ é de uma mudança de estado meramente funcional(= é a hipótese menos fácil de manejar teóricamente).

Segundo Freud, "a repressão só é suspensa quando a representação consciente pode por-se em relação, uma vez suprimidas as resistências, com os ‘traços mnêmicos ou mnésicos' inconscientes". No campo da primeira teoria tópica, onde o inconsciente e o consciente são considerados como sistemas heterônomos e, segundo a descoberta freudiana: uma mesma representação existe no aparelho psíquico de duas formas diferentes. Ou ao estabelecer a cisão, a repressão constitui uma similitude entre dois "iguais"(uma mesma representação)ou, uma diferença entre dois "não-iguais"(dois estados distintos).

Como é notório para quem estuda a literatura psicanalítica, quando se encara o termo economia, entende-se que se trata da problemática do prazer. Sabe-se também que existia em Freud uma intenção em descobrir que forma assume a teoria do funcionamento mental quando nela se introduz a noção de quantidade, uma espécie de economia das forças neuronais. Essa tentativa de descoberta fica evidente em suas cartas a Fliess. Deste modo, se vê obrigado a considerar o psiquismo sob o modelo de um aparelho que funcionará por um lado, como uma máquina de pulsão, a qual designa uma fonte de energia interna. Nesta perspectiva se coloca naturalmente " a questão de saber se uma intenção fundamental qualquer é inerente ao trabalho de nosso aparelho psíquico e a ela responde Freud com uma primeira aproximação: segundo todas as aparências, o conjunto de toda a nossa atividade psíquica objetiva procurarmos prazer e evitarmos o desprazer, que está orientada automáticamente pelo princípio do prazer.

O conceito fundamental de pulsão deve ser entendido como uma excitação no sentido psíquico: "a pulsão atua de modo de uma força constante(…) cujo fim é imutável: "satisfazer-se pela supressão do estado de tensão reinante na mesma fonte pulsional".

Para Freud parece verossímel que o princípio do prazer sirva ao ID de bússola em sua luta contra a libido, cuja intervenção perturba o curso da vida. Aquí Freud se detém, dizendo: "esta concepção não pode ser justa", sendo que a experiência clínica nos mostra a cada passo que existem tensões agradáveis, assim como relaxamentos desagradáveis. O prazer e o desprazer não podem reduzir-se ao aumento ou a diminuição de uma quantidade chamada ‘ tensão de excitação', embora este seja um fator muito relevante. Levando-se em conta o prazer do masoquista, Freud diz que deve levar-se em consideração certos caracteres qualitativos de excitação pulsional. Um pouco mais tarde, Freud chega a dizer: " a pulsão reprimida nunca deixa de tender a completa satisfação, a qual consistiria na reprodução de uma satisfação primária.

Somente após uma longa trajetória, Freud descobre o que havia chamado " a essência mesma da pulsão", isto é, seu caráter de "impulso" e, ao mesmo tempo, a dimensão do prazer, nesta diferença entre a satisfação obtida e a satisfação buscada. Assim como desde o ponto de vista tópico, a representação consciente só é identificável em sua referência a uma mesma representação em seu estado inconsciente, assim também sob o ponto de vista econômico, a satisfação obtida só se caracteriza em sua referência a uma satisfação análoga, embora esquecida e inesquecível.

Em suma, segundo Freud, toda e qualquer conceituação psicanalítica sempre deverá ser entendida do ponto de vista metapsicológico, o que equivale a dizer: em seus pontos de vista tópico, dinâmico e econômico.

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